
Um fenômeno raro está prestes a acontecer e os observadores do céu nas Américas terão uma chance única de acompanhar: o trânsito da sombra de Titã sobre Saturno. Esse evento, que ocorre apenas a cada 15 anos, acontece quando Titã — a maior lua do planeta — projeta sua sombra sobre o disco do gigante gasoso, em um alinhamento perfeito entre Saturno, a Terra e o Sol.
Os trânsitos são possíveis apenas durante um breve período, quando a Terra e Saturno estão quase no mesmo plano orbital. Coincidentemente, esse alinhamento também faz com que os anéis do planeta pareçam estar “de lado” para os observadores.
Em Júpiter, trânsitos de sombra são fenômenos relativamente frequentes. Eles acontecem quando um ou mais dos satélites galileanos — como Io, Europa, Ganimedes e Calisto — projetam suas sombras sobre as nuvens do planeta. A dimensão da sombra varia conforme o tamanho da lua. Ganimedes, a maior delas, exibe uma mancha escura bem definida, com cerca de 4,3 centímetros de diâmetro aparente. Já Europa, menor, deixa um ponto mais sutil, com aproximadamente 2,5 centímetros.
Quando observadas por meio de um telescópio, as sombras de Ganimedes se destacam como círculos negros marcantes, enquanto as de Europa se assemelham a pequenos pontos escuros.
Por que é tão raro?
Diferentemente de Júpiter, onde trânsitos de sombra de luas são comuns, em Saturno esse tipo de evento exige uma combinação rara de inclinação orbital e posição relativa entre os planetas. A última série foi há 15 anos.
Titã, além de ser a maior lua de Saturno, é uma das atmosferas mais intrigantes do Sistema Solar. Devido a composição rica em nitrogênio e metano, chega a ser 1,4 vezes mais densa que a da Terra. Além disso, o satélite abriga lagos e rios de etano e metano líquido em sua superfície, que chega a –179 °C. Cientificamente, o trânsito da sua sombra fornece informações valiosas sobre o comportamento orbital das luas e as dinâmicas atmosféricas de Saturno.
Como observar o fenômeno?
Titã, possui um diâmetro de 5.150 km (maior que Mercúrio), e é também a lua mais fácil de ser vista projetando sombra em Saturno devido ao seu tamanho. De acordo com Sky & Telescope , no auge da oposição, em 21 de setembro, ela terá um diâmetro aparente de 2 cm. Para identificar a pequena “mancha” escura sobre o planeta, é necessário um telescópio de pelo menos 7,6 cm e ampliação de 200x ou mais. Em algumas ocasiões, será possível ver Titã e sua sombra ao mesmo tempo sobre o disco de Saturno.
Mesmo quando a série de trânsitos de sombra terminar, em 6 de outubro, ainda será possível observar Titã cruzando a frente de Saturno a cada 16 dias, até janeiro de 2026 — intervalo correspondente ao seu período orbital.
A atual temporada favorece especialmente os observadores das Américas, já que boa parte dos trânsitos acontecerá depois da meia-noite, principalmente no leste dos Estados Unidos. A movimentação da sombra ocorre ao longo dos meses, migrando do equador de Saturno para latitudes mais ao norte. Em outubro, o fenômeno terá cerca de duas horas de duração, à medida que a sombra tocar o extremo norte do planeta.
Outros trânsitos: Reia
Além de Titã, Reia — a segunda maior lua de Saturno — também projeta sombra no planeta. Com apenas 0,3 polegadas de diâmetro, o fenômeno exige telescópios mais potentes, entre 8 e 10 polegadas, e condições de visibilidade muito favoráveis. Como Reia orbita mais próxima do planeta, seus trânsitos são mais frequentes. É possível prever esses eventos com o auxílio de softwares como Stellarium ou SkySafari, ajustando o relógio virtual para acompanhar a movimentação da sombra em tempo real.