Jason Voorhees
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Jason Voorhees


Na cultura ocidental, poucas datas causam tanto desconforto quanto a sexta-feira 13. Para muitos, é apenas uma coincidência numérica que se repete algumas vezes ao ano. Para outros, um dia a ser evitado: nada de viajar, fechar negócios, fazer cirurgias ou tomar grandes decisões. Mas por que essa combinação de número e dia da semana gera tanto medo?

A resposta envolve uma mistura de mitologia, religião, eventos históricos e reforço cultural  (especialmente por meio do cinema). O resultado é uma das superstições mais persistentes do mundo moderno, capaz de impactar até a economia.

Origem da superstição

A má fama da sexta-feira 13 é relativamente recente como ideia combinada, mas seus elementos, a sexta-feira e o número 13, carregam séculos de conotações negativas.

atualmente no Museu Real de Belas Artes de Antuérpia, na Bélgica
Peter Paul Rubens, atualmente no Museu Real de Belas Artes de Antuérpia, na Bélgica

Jesus na cruz entre os dois ladrões.

A sexta-feira, por si só, é considerada um dia de azar desde a Idade Média. Cristãos acreditam que Jesus foi crucificado numa sexta-feira, após uma ceia com 13 pessoas, sendo Judas o décimo terceiro, o traidor. Além disso, em algumas culturas europeias, acreditava-se que sexta-feira era o dia preferido para execuções públicas, e marinheiros evitavam zarpar nesse dia.

O número 13 também sempre esteve cercado de misticismo. Nas civilizações antigas, como os egípcios, os números tinham forte simbologia. O 12 era visto como um número "completo": 12 meses no ano, 12 signos do zodíaco, 12 horas no relógio. O 13, portanto, ultrapassava essa ordem, representando o caos e o desconhecido.

No cristianismo, a simbologia foi reforçada. Além da Última Ceia, o livro do Apocalipse menciona a Besta aparecendo no capítulo 13. Na mitologia nórdica, uma história popular conta que Loki, deus da trapaça, foi o décimo terceiro convidado de um banquete em Valhalla. Sua chegada provocou a morte de Balder, o deus da luz e da alegria, mergulhando o mundo na escuridão.

A morte de Balder
Eckersberg (1783-1853).
A morte de Balder

Um evento real que selou a fama

Apesar de a superstição já estar latente, muitos apontam um episódio histórico como catalisador da fama da sexta-feira 13: a perseguição à Ordem dos Templários.

Em 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira, o rei Felipe IV da França ordenou a prisão em massa de cavaleiros templários (ordem fundada em para proteger os peregrinos que iam a Jerusalém, após a Primeira Cruzada), acusando-os de heresia e idolatria.

Ilustração de Jacques de Molay, último Mestre dos Cavaleiros Templários, queimado na fogueira pelo rei Filipe IV da França
Getty Images
Ilustração de Jacques de Molay, último Mestre dos Cavaleiros Templários, queimado na fogueira pelo rei Filipe IV da França

Eles foram torturados e mortos, com a conivência do papa Clemente V. O evento marcou o início do fim da ordem e, para muitos historiadores, associou definitivamente a data a desgraças.

O medo que ganhou nome: triskaidekaphobia

Com o tempo, o medo do número 13 ganhou até nome científico: triskaidekaphobia. Já o pavor específico da sexta-feira 13 é chamado de paraskevidekatriaphobia. Embora pareçam termos de ficção, são usados na literatura médica para descrever fobias reais, que afetam milhões de pessoas ao redor do mundo.

Segundo a pesquisa feita pelo Stress Management Center e do Phobia Institute, n os Estados Unidos, estima-se que até 21 milhões de pessoas evitem compromissos importantes quando a data chega. Empresas relatam quedas nas vendas, e seguradoras indicam menor circulação de pessoas, o que pode reduzir acidentes, ainda que não haja consenso científico sobre maior risco real nesses dias.

Elevador nos Estados Unidos onde não há o número 13.
Reprodução
Elevador nos Estados Unidos onde não há o número 13.

Curiosamente, muitas construções ignoram o número 13: prédios sem 13.º andar, aviões sem fileira 13 e hotéis que pulam o número nos quartos.

Popularização no século XX

Apesar da origem ancestral, foi apenas no século 20 que a superstição se consolidou globalmente. Parte disso se deve à literatura e ao cinema.

O romance “ Friday, the Thirteenth”, de T. W. Lawson, publicado em 1907, ajudou a difundir a ideia da data como sinistra. Na história, um corretor da bolsa manipula o mercado em uma sexta-feira 13 para provocar um colapso financeiro. A obra teve grande impacto nos Estados Unidos e foi adaptada para o cinema anos depois.

“Friday, the Thirteenth”, de T. W. Lawson
Reprodução
“Friday, the Thirteenth”, de T. W. Lawson

Também no fim do século 19, surgiram nos EUA clubes dedicados a desafiar superstições, como o “Thirteen Club”, onde os membros realizavam jantares com 13 pessoas em sextas-feiras 13, quebrando espelhos e passando por debaixo de escadas. A intenção era demonstrar que o medo era irracional. Mesmo assim, o pavor persistiu.

A data no cinema: quando o medo se transforma em ícone

Pôster original dos cinemas.
Reprodução

Pôster original dos cinemas.

O medo da sexta-feira 13 ganhou uma nova dimensão em 1980, com a estreia do filme Friday the 13th, dirigido por Sean S. Cunningham. Inspirado pelo sucesso de Halloween (1978), o longa narra os assassinatos brutais cometidos por um misterioso assassino em um acampamento de verão.

A produção teve baixo orçamento, mas foi um sucesso estrondoso, rendendo mais de US$ 60 milhões (R$ 335.025.000) e dando origem a uma das franquias de terror mais longas da história, com 12 filmes, séries, jogos e uma base de fãs fiel.

Embora no primeiro filme o vilão seja a mãe de Jason Voorhees, é a figura do próprio Jason, mascarado e com um facão na mão, que se torna o símbolo da série. Sua imagem acabou se fundindo com a própria ideia da sexta-feira 13: algo inevitável, mortal e silenciosamente assustador.

E, neste ano de 2025, a coincidência é ainda mais simbólica: Jason Voorhees faz aniversário justamente em uma sexta-feira 13. Segundo o universo ficcional da franquia, o personagem nasceu em 13 de junho de 1946. Ou seja, neste 13 de junho de 2025, o aniversariante do dia é ninguém menos que o próprio ícone do terror, que completa 79 anos. Uma coincidência que não passa despercebida pelos fãs e que reforça ainda mais o tom sombrio e culturalmente carregado da data.

Superstição ou efeito psicológico?

O medo da sexta-feira 13 pode estar ligado a um fenômeno conhecido como "profecia autorrealizável": ao acreditar que algo ruim acontecerá, a pessoa se comporta de forma mais tensa e desatenta, aumentando a chance de acidentes ou decisões precipitadas.

Além disso, acontecimentos trágicos ocorridos em sextas-feiras 13 ao longo da história reforçaram o imaginário popular. Acidentes aéreos, naufrágios, quedas na bolsa de valores e desastres naturais viraram combustível para a crença.

Por outro lado, estatísticas mostram que a maioria dos dias passa sem incidentes incomuns, e alguns estudos indicam que o excesso de cautela pode até reduzir acidentes (um paradoxo que alimenta ainda mais o fascínio pela data).


E em outras culturas?

Embora a sexta-feira 13 seja particularmente temida em países ocidentais, outras culturas têm seus próprios dias “amaldiçoados”. Na Itália e em países hispânicos, por exemplo, é a terça-feira 13 que traz azar. Já no Japão, o número considerado de má sorte é o 4, por sua semelhança sonora com a palavra “morte”.

Ou seja, o medo pode mudar de número e dia, mas a necessidade humana de atribuir sentido ao acaso parece ser universal.

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