A Proposta de Emenda à Constituição ( PEC ) que visa o fim da escala de trabalho 6 x 1 ganhou força nos últimos dias com o apoio de diversos parlamentares do PT . A ação, apresentada pela deputada federal Erika Hilton ( PSOL-SP ) há seis meses, recebeu um reforço significativo, com 40 dos 68 deputados petistas assinando o texto até domingo (10).
A adesão foi ainda mais destacada quando o líder do governo na Câmara , José Guimarães (PT-CE), anunciou oficialmente seu apoio à proposta na segunda-feira (11), após um intenso movimento nas redes sociais durante o fim de semana.
A PEC tem o objetivo reduzir a jornada de trabalho de 44 horas para 36 horas semanais e limitar o número de dias trabalhados para quatro, em vez dos seis dias atuais. A proposta é vista por muitos como uma forma de reconectar o PT com sua base eleitoral, já conta com o apoio de partidos de esquerda como PCdoB, PDT e PSOL.
No entanto, a adesão de partidos da oposição, como o PL, permanece tímida. Até agora, apenas um deputado do PL, Fernando Rodolfo (PL-PE), assinou a proposta, justificando sua decisão nas redes sociais com o argumento de que "o interesse do povo deve estar acima dos interesses dos partidos". Apesar de elogios, a posição gerou críticas em alguns seguidores.
"Quem coloca ideologia política, porque a deputada que apresentou é de esquerda e eu nem quero ver o projeto dela, está errado. Estamos perdendo tempo sem ter aprovado uma redução de jornada no Brasil, e com a manutenção do salário", afirmou Rodolfo em entrevista ao UOL News, dizendo que sugerirá uma jornada 5x2 para avançar com a proposta.
Mobilização nas redes sociais
Enquanto a resistência persiste na Câmara, a proposta ganhou ampla mobilização na internet. A petição online para apoiar a PEC já acumula mais de 1,6 milhão de assinaturas. Rick Azevedo, vereador recém-eleito no Rio de Janeiro pelo PSOL, foi o responsável pela iniciativa e mantém uma campanha ativa nas redes sociais e nas ruas, com ações de panfletagem pelo movimento VAT (Vida Além do Trabalho).
"É um debate difícil e a gente se pergunta não só para o movimento sindical, né? Por que toda a esquerda não se reúne a favor dessa pauta? O que está faltando?", questionou Azevedo em entrevista.
A expectativa é que a PEC consiga alcançar as 171 assinaturas necessárias para avançar ainda nesta semana. Segundo a deputada Erika Hilton, a proposta tem um apelo popular que dificultará a oposição da direita, que afirma ser defensora dos trabalhadores.
"Agora a gente tem um debate simples, que todo e qualquer trabalhador consegue entender a magnitude do impacto daquilo na sua vida e, por consequência, irá cobrar seu parlamentar", afirmou Hilton.
Busca por reaproximação com a classe trabalhadora
Camila Jara (PT-MS), deputada federal e liderança do partido, explicou que a questão já vinha sendo discutida internamente desde março, quando o presidente Lula enfatizou a necessidade de focar em pautas que conectam o partido com os trabalhadores.
"A gente precisa mostrar as ações do governo para essas pessoas também. São pessoas que melhoraram de vida, mas que não viram seu poder de compra aumentar e precisam dessa resposta por parte do estado, que deve mostrar que elas não foram esquecidas", disse Jara.
A deputada Juliana Cunha (PT-SP) complementou a análise, afirmando que a redução da jornada de trabalho é uma pauta essencial para o PT, partido que sempre se identificou com as causas da classe trabalhadora. "
Toda pauta que dialoga com os problemas da classe trabalhadora está ligada à essência do PT, que é o partido dos trabalhadores. A redução da jornada de trabalho é um tema importante hoje porque as pessoas estão trabalhando muito e isso tem gerado impacto na saúde física e mental de todos", afirmou.
PEC do fim da 6 x 1
A PEC propõe uma redução da carga horária máxima semanal de 44 para 36 horas, com a limitação de quatro dias trabalhados por semana. Segundo Erika Hilton, o modelo atual prejudica os trabalhadores, que, além de não ter tempo para lazer ou estudo, também têm dificuldades para se aperfeiçoar ou mudar de carreira.
Caso a proposta avance, ela ainda precisará de 308 votos favoráveis na Câmara para ser aprovada, e de 49 no Senado. Se alcançar as votações necessárias, a nova regra poderia entrar em vigor dentro de até 360 dias.