Mauro Cid era ajudante direto do ex-presidente Jair Bolsonaro
Geraldo Magela/Agência Senado/Flickr
Mauro Cid era ajudante direto do ex-presidente Jair Bolsonaro

Durante as investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) acerca da alegada articulação do núcleo do governo anterior, liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) , em relação a um possível golpe de estado no país, as autoridades revelaram que membros do antigo governo estavam monitorando os deslocamentos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

O propósito era garantir a prisão de Moraes, caso o golpe liderado pelos apoiadores de Bolsonaro fosse bem-sucedido. O próprio ministro do STF identificou a rede que rastreava sua localização, mencionando o caso na decisão que autorizou a operação realizada nesta quinta-feira (8) .



As investigações apontam que a coleta de dados e informações era feita por Augusto Heleno , general da reserva e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro;  Mauro Cid e Marcelo Costa Câmara, ex-assessores do antigo presidente.

Trechos da decisão

“A autoridade policial aponta que Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Marcelo Costa Câmara e Mauro César Barbosa Cid integraram o núcleo de inteligência paralela, responsável pela coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões ddo ex-Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, na consumação do golpe de Estado”, diz a PF na decisão.

“Os membros teriam monitorado o itinerário, o deslocamento e a localização do Ministro do Supremo Tribunal Federal e então chefe do Poder Judiciário Eleitoral, Alexandre de Moraes, e de possíveis outras autoridades da República, com o objetivo de captura e detenção, nas primeiras horas que se seguissem à assinatura do decreto de golpe de Estado”, completa.

Troca de mensagens entre assessores

Alexandre de Moraes era chamado de "professora" por Mauro Cid e Marcelo Câmara, segundo alegação da PF na decisão do magistrado. Nas conversas, os ex-assessores falavam sobre os deslocamentos de Moraes entre Brasília e São Paulo. Confira trechos de suas conversas:

Dias 15 e 16 de dezembro

– Câmara: Trabalhando
– Cid:
Algo?
– Câmara: 
Viajou para SP hoje retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente pra SP mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe retorno.

Dias 19 a 22 de dezembro

– Cid: O senhor está no Planalto?
– Cid:
Por onde anda a professora?
– Câmara:
Informação que foi para uma escola em SP.
– Câmara:
Ontem
– Cid:
E tem previsão de volta?
– Câmara:
Somente para início do ano letivo
– Câmara:
Apesar ter a previsão do período de recuperação
– Câmara:
Tem dúvida

Dia 24 de dezembro

– Cid: Onde a professora está?
– Câmara: Deixa eu verificar:
– Câmara: Está em SP – volta dia 31 a noite para posse
– Cid: Na capital ou no interior?
– Câmara: Na residência em SP – eu não sei onde fica

Além das mensagens, havia a existência de uma minuta para que o golpe de Estado fosse decretado , encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

“Considerando que a minuta do decreto que declarava o Golpe de Estado previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, o acompanhamento e monitoramento da autoridade — inclusive durante o Natal (24/12/2022) — demonstra que o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático, procedendo a eventual captura e detenção do Chefe do Poder Judiciário Eleitoral”, relata a PF na decisão de Alexandre de Moraes.

Até o momento, ambas as defesas dos citados não se manifestaram sobre o assunto.

O que se sabe sobre a Operação Tempus Veritatis

Na manhã desta quinta-feira (8), a Polícia Federal deflagrou a Operação Tempus Veritatis. A ação tinha como alvo um grupo que, supostamente, teria arquitetado um golpe após as eleições de 2022, com o objetivo de manter o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Antônio Cruz/Agência Brasil - 20.02.2020
Ao todo, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, além de 4 mandados de prisão preventiva e 44 de medidas cautelares. Elas foram cumpridas nos estados do Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, além do Distrito Federal. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 04.10.2016
A operação teve como base a delação do ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Outras provas também foram coletadas pela PF para justificar as buscas promovidas pela operação. Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes Antônio Cruz/Agência Brasil - 24.08.2023
Dentre os alvos, destaca-se o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na operação, os agentes foram à casa do ex-mandatário em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, com o objetivo de apreender o passaporte. Entretanto, o documento não estava no local, sendo dado o prazo de 24 horas para ele ser entregue à Polícia. No tarde desta quinta-feira, o documento foi entregue em Brasília, sendo confirmado pelo advogado do ex-presidente, Paulo Bueno. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 04.12.2018
Dentre os presos, estão: os ex-assessores de Bolsonaro, coronel Marcelo Costa Câmara e Filipe Martins; o major do Exército Rafael Martins de Oliveira; e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Montagem/Portal iG - 08.02.2024
A lista de investigados conta com ex-ministros de Bolsonaro e aliados, como o ex-ministro da Casa Civil Braga Netto; ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno; ex-ministro da Justiça Anderson Torres; e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 25.09.2023
O ex-ministro da Justiça, inclusive, já responde ao STF por suspeita de conivência e omissão com os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Por conta desta acusação, Anderson Torres ficou quase quatro meses preso em 2023. Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil - 09.03.2023
Segundo a PF, o grupo teria se dividido em diferentes núcleos que disseminavam peças de desinformação sobre a fraude nas eleições de 2022. Elas teriam começado antes das eleições para “viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital". Tânia Rêgo/Agência Brasil - 16.10.2022
A primeira parte do grupo teria trabalhado na construção de uma imagem de que as eleições foram fraudadas, espalhando fake news sobre a vulnerabilidade do sistema de votação eletrônico. A PF ainda afirma que o discurso é repetido desde 2019, e continuou após a vitória e posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pedro França/Agência Senado - 31.03.2023
Já o segundo eixo ficou encarregado de atuar na promoção de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, com a promoção de um golpe de Estado. Segundo as investigações, o grupo era apoiado por militares com conhecimento tático de forças especiais em ambiente politicamente sensível. Marcelo Camargo/Agência Brasil - 01.09.2023
A Operação Tempus Veritatis, que vem do Latim “hora da verdade”, é apenas uma das operações que estão em curso investigando a família do ex-presidente e aliados. Outras são: Operação Vigilância Aproximada, que investiga a chamada “Abin Paralela”; Operação Última Milha, investigando sobre o uso da ferramenta de espionagem “First Mile”; Operação Lucas 12:2, focado na investigação de um grupo ligado à Bolsonaro que supostamente comercializava joias e outros bens de valor; Operação Venire, que apura sobre a adulteração de dados sobre a vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde; e a Operação Lesa Pátria, mais conhecida, que investiga os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Polícia Federal/Agência Brasil - 08.02.2024


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