As proximidades da usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, foram atingidas por um bombardeiro. Isso provocou o desligamento de um dos reatores, algo que indica o possível início de um desastre nuclear. O órgão internacional de vigilância nuclear pediu o fim imediato das hostilidades na região.
Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), exigiu autorização de visita por uma equipe de especialistas da AIEA à usina, em caráter de urgência, para avaliar e salvaguardar o local.
“Estou extremamente preocupado com o bombardeio de ontem na maior usina nuclear da Europa, que destaca o risco muito real de um desastre nuclear que pode ameaçar a saúde pública e o meio ambiente na Ucrânia e além”, disse Grossi em comunicado no sábado (6).
“A ação militar que ponha em risco a segurança da usina nuclear de Zaporizhzya é completamente inaceitável e deve ser evitada a todo custo”, acrescentou.
Enquanto Kiev acusa a Rússia de armazenar armas pesadas e atacar a partir da usina, os russos dizem que quem atacou o complexo foi a própria Ucrânia .
O bombardeio na sexta-feira (5) danificou uma linha de energia, provocando o desligamento de um dos reatores, de acordo com a operadora de energia nuclear estatal da Ucrânia, Energoatom. Depois, foi constatado que não houve danos severos e que a situação estava sob controle.
Na noite de ontem (6), os ataques continuaram. Segundo a Energoatom, atingiu várias partes do complexo, o que deixou um funcionário ferido.
Ainda conforme a estatal, as forças russas e funcionários da empresa estatal russa de energia nuclear Rosatom — que estão no local desde que apreenderam a usina — se abrigaram em bunkers antes do início das explosões.
“Os foguetes atingiram o local da instalação de armazenamento a seco da usina, onde são mantidos 174 contêineres com combustível nuclear usado, e danificaram três detectores de monitoramento de radiação, impossibilitando a detecção e a resposta ao vazamento de substâncias radioativas . Desta vez, uma catástrofe nuclear foi milagrosamente evitada, mas os milagres podem não durar para sempre”, alertou a Energoatom.
Por outro lado, Grossi alertou para o risco de novos combates no local. “Qualquer poder de fogo militar direcionado para ou a partir da instalação equivaleria a brincar com fogo, com consequências potencialmente catastróficas”, disse Grossi.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky , em discurso na noite de sábado, novamente acusou a Rússia de bombardear a usina e usá-la para causar terror na Europa .
“Infelizmente, temos um agravamento significativo da situação em torno da usina nuclear de Zaporizhzhia”, disse Zelensky. “Terroristas russos se tornaram os primeiros no mundo a usar uma usina nuclear para o terror. A maior da Europa!”.
O chefe da diplomacia da União Europeia criticou as atividades militares da Rússia em torno da usina de Zaporizhzya e pediu que a AIEA tenha acesso ao complexo.
“Esta é uma violação séria e irresponsável das regras de segurança nuclear e outro exemplo do desrespeito da Rússia pelas normas internacionais”, disse Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, no sábado no Twitter.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, acusou a Rússia de usar a usina para proteger suas forças. O Ministério da Defesa do Reino Unido, por sua vez, afirma que as ações da Rússia no complexo sabotam a segurança de suas operações.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia alertou que “as possíveis consequências de atingir um reator em operação são equivalentes ao uso de uma bomba atômica”, afirmou o ministério no Twitter.