Apesar da pressão do PT e de setores do seu próprio partido, o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) manteve a candidatura ao Senado, evidenciando os problemas pelo país na aliança entre as duas siglas. Coligados no plano nacional em torno da candidatura do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto, PT e PSB chegam à eleição rachados em metade dos estados.
Além do Rio, PT e PSB confirmaram nesta sexta-feira, último dia das convenções partidárias, que terão conflitos diretos por cargos majoritários no Acre e no Rio Grande do Sul. Assim, caminharão separados, ao todo, em 14 disputas locais. Em outros 13 estados, ambos estarão nas mesmas alianças.
No Acre, onde o cenário é conflituoso como no Rio, houve um esforço no fim de julho para unir o ex-governador Jorge Viana (PT) e o deputado estadual Jenilson Leite (PSB) no mesmo palanque, mas sem sucesso. Leite, alegando incômodo com a demora para fechar a aliança, desistiu de concorrer ao governo e se lançou ao Senado, mesmo cargo que Viana estudava disputar. Nesta sexta, Viana optou por concorrer ao governo, mas numa chapa pura do PT.
Também houve uma tentativa de conciliação envolvendo as direções nacionais de PT e PSB no Rio Grande do Sul, mas nem a retirada da candidatura ao governo de Beto Albuquerque (PSB) conseguiu unir os dois partidos. Os pessebistas resolveram lançar o ex-vice-governador Vicente Bogo ao Executivo estadual, enfrentando o petista Edegar Pretto.
Há outros estados em que, embora sem conflitos diretos, PT e PSB estarão em palanques distintos. Um desses casos é a Paraíba, onde a separação entre os dois partidos é reforçada pela rivalidade entre o atual governador João Azevêdo (PSB) e seu antecessor, Ricardo Coutinho (PT), antigos aliados que se tornaram desafetos.
Na terça-feira, Lula esteve em Campina Grande (PB) para declarar apoio a Coutinho, candidato ao Senado, e a Veneziano Vital do Rêgo (MDB), postulante ao governo. Azevêdo, por sua vez, recebeu nesta sexta-feira, em João Pessoa, o candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), na convenção que oficializou seu nome na disputa à reeleição. O MDB local ameaça processar Azevêdo caso ele utilize a imagem do ex-presidente nas peças publicitárias da campanha.
"Não pode usar (foto do Lula). Estão querendo criar uma distorção que não existe. Se ele insistir em usar, o jurídico da campanha tomará as providências. Não tenha dúvida", afirma Veneziano.
O governador gravou programas para a propaganda partidária com Alckmin. Além disso, a campanha assegura que vai usar fotos de Lula, independentemente das ameaças de processo, com a justificativa de que o PSB é a principal sigla que compõe a aliança nacional com o PT.
Apoio estratégico
No Mato Grosso, a federação que une PT, PV e PCdoB formalizou apoio, nesta sexta-feira, à candidatura de Neri Geller (PP) ao Senado, enquanto o PSB tem como candidata a médica Natasha Slhessarenko. A aliança com Geller foi articulada pela campanha de Lula com o objetivo de se aproximar do agronegócio, setor simpático ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputará a reeleição.
No Rio Grande do Norte, embora o candidato do PSB ao Senado, Rafael Motta, declare apoio informal à governadora Fátima Bezerra (PT), o partido foi rifado da chapa governista. Fátima costurou um acordo com a família Alves, tradicional força local, para ter como candidato ao Senado o ex-governador Carlos Eduardo Alves (PDT). Com isso, Motta se lançou ao Senado fora da coligação petista, e não poderá usar a imagem de Fátima na propaganda oficial.
Entre os estados em que PT e PSB chegaram a acordos está São Paulo, maior colégio eleitoral do país. O candidato petista ao governo, Fernando Haddad, terá o pessebista Márcio França como postulante ao Senado, e indicou sua mulher, Lúcia França, como vice na chapa.
Em Goiás, um acordo costurado de última hora também colocou os dois partidos no mesmo palanque. O PT, que havia lançado Wolmir Amado como candidato, aceitou, nesta sexta-feira, a indicação do PSB, do advogado Fernando Tibúrcio, como vice. Tibúrcio é ligado ao ex-governador José Eliton (PSB), que chegou a se lançar pré-candidato ao governo, mas retirou seu nome por não ter conseguido atrair apoio de outras siglas, como o PT.
O desfecho sobre Molon
Nesta sexta-feira, ao anunciar que não vai desistir da disputa pelo Senado no Rio, Molon disse que abrirá uma vaquinha para financiar sua campanha, já que o diretório nacional pessebista decidiu cortar o repasse de verbas para sua candidatura.
O deputado voltou a negar a existência de um acordo para que o PT indicasse o nome ao Senado da chapa encabeçada por Freixo ao governo do Rio — o PT defende a candidatura do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, o petista André Ceciliano.
Depois da asfixia financeira, opositores de Molon dentro do PSB querem que a direção do partido aprove uma resolução para deixá-lo sem espaço na propaganda eleitoral na televisão. A proposta será apresentada à executiva nacional da legenda na segunda-feira.
"Nunca houve um acordo do PSB com o PT para que a vaga ao Senado fosse cedida. Eu nunca fiz, nunca participei nem autorizei acordo para que essa vaga fosse cedida ao PT. Nem eu que sou presidente estadual nem o presidente nacional, Carlos Siqueira, que me autorizou a dizer isso expressamente na minha comunicação", disse Molon nesta sexta-feira.
Molon, que é presidente estadual do PSB, afirmou ainda que vem sendo alvo de ataques e desinformação. Ele questionou a pressão que vem recebendo dentro da própria esquerda, argumentando que foi líder da oposição ao governo Bolsonaro no Congresso Nacional por indicação dos mesmo partidos que agora pedem sua saída da disputa — entre eles PT, PCdoB e PV.
"Me causam espanto alguns ataques que a gente vem recebendo, como se não pudéssemos representar a oposição nessa disputa pelo Senado. Precisamos resistir e manter a pré-candidatura para vencer o Senado", afirmou.
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