Os corpos do policial militar Bruno de Paula Costa, de 38 anos, Letícia Marinho Sales, de 50, e de Solange Mendes da Cruz, de 49, foram enterrados ontem no Rio. Eles estão entre os 18 mortos da operação que as polícias Civil e Militar realizaram em conjunto no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. A ação teve início na manhã de quinta-feira e se estendeu por cerca de 13 horas.
Bruno foi atingido com um tiro no pescoço e, Letícia, alvejada no peito, ainda nas primeiras horas da operação. Solange foi baleada na cabeça no dia seguinte, quando a polícia manteve o patrulhamento ostensivo em pontos da região e foram registrados novos tiroteios.
Os sepultamentos do policial militar (que deixa dois filhos, de 8 e 10 anos de idade, autistas) e de Letícia (que deixa duas filhas) aconteceram quase no mesmo horário, em cemitérios diferentes. O PM foi enterrado Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, com salva de tiros e homenagem de colegas militares emocionados.
‘Quem matou meu irmão?’
O irmão de Bruno, Valdir Costa, viajou da Holanda, onde mora, para se despedir. E lembrou ontem a determinação do PM desde jovem, questionando de quem é a responsabilidade pela morte:
"Meu irmão já sonhava em ser paraquedista com 14 anos. Com 18, iniciou a carreira. Ele ajudou a nos criar. Sonhou em seguir a carreira militar. Quem é o culpado pela morte? Ele morreu em combate. Morreu porque não temos políticas públicas que invistam em educação, saúde... Quem matou meu irmão foi um criminoso ou um governo que não investe em políticas públicas?"
O secretário da PM, Luiz Henrique Marinho Pires, também esteve no sepultamento do agente e lamentou as mortes decorrentes da operação no Complexo do Alemão.
"A gente não tem como mensurar a perda de um profissional que coloca a sua vida em risco dia a dia. Infelizmente, tivemos duas outras vítimas também. Nossas operações não buscam esse resultado nunca. A operação foi necessária, cumprindo todos os requisitos da decisão do Superior Tribunal Federal (STF). A gente não pode deixar que esses elementos se fortaleçam e se organizem nessas comunidades", argumentou.
A alguns quilômetros dali, a caminho do velório de Letícia Marinho Sales, no Cemitério do Caju, o ônibus que levava amigos e familiares para a cerimônia foi interceptado pela Polícia Militar, ainda na Penha. Em um vídeo, passageiros aparecem discutindo com os policiais. Neilson Sales, sobrinho de Letícia, contou que algumas pessoas começaram a xingar os policiais. Por esse motivo, segundo os ocupantes, os PMs interceptaram o ônibus.
‘É truculência, maldade’
Neilson acusou a polícia pela morte da tia:
"Essa desigualdade tem que acabar. É maldade, truculência. Eu respeito o poder deles, mas nós, cidadãos de bem, queremos respeito."
A Polícia Civil informou que as armas dos policiais militares, envolvidos na ação que resultou na morte de Letícia, foram apreendidas. O laudo de exame de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que ela foi morta com um único tiro no peito.
Já Solange foi morta com um tiro de fuzil na cabeça. Ela voltava para casa, quando PMs tentavam retirar uma barricada de concreto construída por bandidos, a menos de 100 metros da base da UPP. Segundo moradores relataram à ong Voz das Comunidades, ela teria sido atingida pelo disparo de um policial que se assustou quando a viu. A corporação nega.
O enterro dela foi acompanhado por cerca de 100 pessoas ontem, no Cemitério de Inhaúma. Vizinha da vítima, Stela Alves da Silva, de 65 anos, contou como a amiga era “uma pessoa batalhadora”:
"Ela era minha amiga há mais de 30 anos. Frequentávamos a igreja juntas. Era uma pessoa muito batalhadora, o braço direito e esquerdo do marido. O que eu vou lembrar dela é o sorriso. Era uma boa mãe, boa companheira. Quando a gente ia imaginar que iam matar a Solange assim?"
Ao RJTV, da TV Globo, o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, disse que Solange foi atingida por disparo de criminosos:
"Ela passou ao lado dos policiais que estavam derrubando uma barricada. Cumprimentou os policiais. E, inadvertidamente, criminosos atacaram esses policiais. Foi socorrida, mas não resistiu."