Alckmin e Lula
Reprodução/Instagram 17.07.2022
Alckmin e Lula

A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traça estratégias para conter os efeitos políticos da PEC Eleitoral , que permitiu ao governo federal aumentar de R$ 400 para R$ 600 o Auxílio Brasil, distribuído aos brasileiros mais pobres até dezembro deste ano. A medida tem potencial de render votos ao presidente Jair Bolsonaro (PL) numa camada da população mais próxima ao ex-presidente, segundo as pesquisas de intenção de voto. Para não perder apoio, os petistas apostam no discurso de que o benefício será cortado já em janeiro de 2023 se o atual chefe do Executivo vencer a eleição — a tática inclui o envio de vídeos pelo WhatsApp, seara que o bolsonarismo dominou com folga há quatro anos.

O PT ainda não desenhou o modelo de retomada do Bolsa Família, programa de distribuição de renda das gestões do partido. As indefinições e o aumento do valor do benefício, rebatizado pelo atual governo, também pressiona a campanha do ex-presidente a acelerar o planejamento e a apresentação de linhas gerais do que pretende fazer na área social caso ele volte ao comando do país. Até agora, Lula se comprometeu a não reduzir a quantia, e seus aliados dizem que vão condicionar o pagamento a contrapartidas, como vacinação e desempenho escolar de integrantes das famílias que recebem.

Mudança de nome

Até o primeiro turno da eleição, serão pagas duas parcelas. Reservadamente, o entorno de Lula calcula que a alteração no valor do benefício pode render de três a cinco pontos percentuais a Bolsonaro nas pesquisas e deve gerar mais impacto entre as cerca de 1,5 milhão de famílias que estão na fila, ou seja, não recebem nada e passarão a ser agraciadas com R$ 600 a partir de agosto. 

Ontem, em Vitória (ES), onde foi participar de uma motociata durante a Marcha para Jesus, o presidente disse que pretende manter o valor do benefício no ano que vem, caso seja reeleito.

A menos de três meses do pleito, o PT passou a fazer sondagens para avaliar o comportamento do eleitorado e os efeitos do benefício, com o objetivo de aprimorar o discurso. A campanha já identificou supostas falhas na comunicação do governo, como beneficiários que ainda não têm informações sobre os critérios do programa, a forma de pagamento e o funcionamento do cadastro de elegíveis.

Para enfrentar Bolsonaro, a mensagem do PT fica clara em vídeos que vêm sendo disseminados no WhatsApp e nas demais redes sociais, como o que compara o auxílio a um picolé que derrete e a pessoa fica só com o palito. Essa metáfora também tem sido usada por Lula. Num ato em Serra Talhada (PE), ele ressaltou que os R$ 41 bilhões distribuídos em período eleitoral são um ato de desespero de Bolsonaro para ganhar as eleições.

"Quero dar um conselho: se aparecer dinheiro na sua conta, peguem. Se não pegar até as eleições, cuidado, porque o (ministro da Economia) Paulo Guedes pega de volta. E depois, na hora de votar, deem uma banana para ele", discursou Lula.

A campanha também vai insistir no argumento de que Bolsonaro cortou o benefício no final de 2021 e está turbinando a parcela agora pela proximidade da eleição, reforçando a tese de que se trata de uma medida eleitoreira e com data para acabar.

"Estamos com um esforço maior de coordenação de redes, do PT, dos partidos coligados e dos mais de cem deputados que apoiam Lula de reforçar isso nas publicações", confirma o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, um dos membros da coordenação de campanha.

Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Dilma Rousseff, Tereza Campello está auxiliando a campanha a remodelar o programa de transferência de renda. Segundo pessoas próximas, a nova política ainda não tem o aval de Lula. O assunto é sensível economicamente, por isso o martelo não deve ser batido no curto prazo.

"O passivo para 2023 é de R$ 320 bilhões, com desoneração e despesas novas. A margem de manobra para um futuro governo é pequena do ponto de vista fiscal", afirmou, na semana passada, o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador de campanha de Lula.

Petistas da campanha apostam que o nome Auxílio Brasil será enterrado. A ideia, pelo menos por enquanto, é retomar o Bolsa Família, marca conhecida e associada pela população aos governos do PT.

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