Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, presidente da Rússia
Alan Santos/ PR
Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, presidente da Rússia

Prestes a realizar viagem à Rússia, o presidente Jair Bolsonaro minimizou a tensão entre o país e a vizinha Ucrânia. Em conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, ele afirmou que quer a paz, mas disse que "o mundo todo tem seus problemas" e citou vários exemplos históricos de um país anexando terras de outro. A viagem presidencial ocorre em meio a alertas de países ocidentais sobre uma "iminente" invasão da Ucrânia pelas forças russas.

Bolsonaro não mencionou a anexação da Península Crimeia, que havia sido cedida à Ucrânia na era soviética, pela Rússia em 2014. Ele citou outros episódios, como o das ilhas Malvinas, ocupadas pelo Reio Unido no século XIX e que a Argentina até hoje quer de volta, já tendo inclusive iniciado uma guerra há 40 anos com esse objetivo, que acabou com vitória dos britânicos, apoiados pelos colonos locais. Mencionou o próprio Brasil, que perdeu o Uruguai, que já foi uma província brasileira, mas, por outro lado, ganhou o Acre, que pertencia à Bolívia. Falou ainda do Essequibo, região que pertence à Guiana, mas é desejada pela Venezuela; e da parte dos Estados Unidos que pertencia ao México e foi anexada após uma guerra no século XIX.

— O mundo todo tem seus problemas. Se você começar a querer resolver o problema dos outros... O que for possível, a palavra lá é de paz para ajudar, tudo bem. Mas sabe o que está em jogo, não vou entrar em detalhes aqui. Temos problemas. A Argentina tem problemas com as Malvinas. No passado tivemos problemas, perdemos o Uruguai, ganhamos o Acre. Hoje a Venezuela quer a região de Essequibo, na Guiana. O americano mesmo pegou alguns estados do México no passado. A gente quer a paz, mas tem que entender que todo mundo é ser humano. Vamos torcer. Se depender de uma palavra minha, o mundo teria a paz — disse Bolsonaro.

O presidente foi aconselhado a desistir da viagem, mas, alertado de que a visita poderia criar desgaste com os Estados Unidos e a União Europeia, ele nem chegou a considerar a hipótese de cancelar o compromisso. A justificativa para manter a viagem é que as relações comerciais com a Rússia são estratégicas para setores como agronegócio e energia. Em ano eleitoral e com Bolsonaro atrás nas pesquisas, o encontro com um líder global também busca mostrar algum prestígio internacional.

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— Temos a viagem à Rússia. Sabemos do momento difícil que existe naquela região. Temos negócios com eles, comerciais. Em grande parte, o nosso agronegócio depende dos fertilizantes deles. Temos assunto para tratar sobre defesa, sobre energia. Muita coisa para tratar. O Brasil é um país soberano. Vamos torcer pela paz lá, que dê tudo certo — afirmou o presidente na conversa com apoiadores.

Bolsonaro vai se reunir com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na quarta-feira e terá de fazer cinco testes de Covid para atender as exigências sanitárias do governo russo.

Também nesta segunda, o vice-presidente Hamilton Mourão disse não ver problemas na viagem de Bolsonaro. Segundo ele, o que há na região é um "jogo de pressão" envolvendo Rússia, Ucrânia e a Otan, que é a aliança militar com os Estados Unidos à frente. O vice-presidente avalia que o cenário vai ficar apenas nesse jogo de pressão. Bolsonaro embarca nesta segunda-feira.

— Semana passada, o presidente da Argentina [Alberto Fernández] esteve lá [na Rússia]. Zero trauma. Não vejo problema. Essa tensão que está ocorrendo é fruto aí das pressões de ambos lados, entre a Rússia, a própria Ucrânia que está imprensada, e óbvio o pessoal da Otan, com os Estados Unidos à frente. Na minha opinião, vai ficar nesse jogo de pressão. Então a viagem do presidente lá é só um dia. Sem maiores problemas — disse Mourão.

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