Ex-ministro Sérgio Moro
Waldemir Barreto/ Agência Senado
Ex-ministro Sérgio Moro


Anunciada há um mês, a pré-candidatura de Sergio Moro à Presidência entrou em choque com alianças costuradas pelo  Podemos ao longo do ano em 14 estados. Em pelo menos seis deles, pode haver mudanças nos planos de chapas ao governo e ao Senado, num reposicionamento que abriria espaço a aliados de Moro em locais como Rio e Bahia. Nos outros oito estados, o partido tenta ratificar acordos para apoiar candidatos ao governo que receberão outros presidenciáveis em seus palanques.

Rio e São Paulo são exemplos de estados nos quais a candidatura de Moro tem gerado pressões para um novo desenho de alianças. O presidente do partido no Rio, Patrique Welber, que é secretário estadual de Trabalho, deseja manter aliança com o governador Cláudio Castro (PL), que apoiará o presidente Jair Bolsonaro, recém-filiado ao PL e desafeto de Moro. Apesar de Welber ter o aval da presidente nacional do Podemos, a deputada Renata Abreu (SP), outras lideranças nacionais, como o senador Álvaro Dias (PR), defendem que a sigla precisará de palanque próprio no Rio.

No estado de Renata Abreu, Moro tem apoio explícito de lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que deve lançar ao governo o deputado estadual Arthur do Val, hoje no Patriota. Antes da filiação do ex-juiz, quando a prioridade eram candidaturas à Câmara, o Podemos acenou com autonomia para suas lideranças locais apoiarem candidatos a governo de outras siglas, inclusive ligadas à esquerda. Os prefeitos do Podemos de cidades como São Vicente e Taboão da Serra abriram canais com nomes como Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT), respectivamente.

Diretório baiano

Na Bahia, Moro convidou a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon a participar de sua campanha, sem descartar seu nome numa chapa a governo ou Senado. O presidente do diretório baiano do Podemos, porém, é o deputado federal Bacelar, que pretende se manter ligado ao governador Rui Costa (PT).

Também há situações conflituosas no Amapá e no Mato Grosso, onde pré-candidatos do Podemos são alinhados a Bolsonaro. O deputado José Medeiros (MT), que quer concorrer a senador, deve deixar o partido. Outra liderança da sigla no estado é o ex-vereador de Cuiabá Abílio Brunini, cotado para uma candidatura à Câmara, também apoiador do presidente. Já no estado do Norte, o Podemos filiou em abril o bolsonarista Cirilo Fernandes para disputar o Senado. Cirilo concorreu à prefeitura de Macapá em 2020, pelo PRTB, apostando na vinculação a Bolsonaro, e planeja estratégia similar em 2022. Ele é aliado do vice-governador Jaime Nunes (PROS) e do prefeito da capital, Dr. Furlan (Cidadania), que ainda não definiram palanque presidencial.

— Quando vim, não sabia que Moro se filiaria. Falei com a direção sobre a dificuldade que teria, já que meus votos vêm muito da base do Bolsonaro. Como é um estado pequeno, não sei se ele (Moro) terá a preocupação de vir aqui — afirma Cirilo.

Embate com aliados

Em outros dois estados, apesar do apoio local a Moro, a candidatura presidencial tende a dificultar a relação com aliados. No Acre, o ex-deputado Ney Amorim, que foi filiado ao PT e é aliado do governador Gladson Cameli (PP), filiou-se ao Podemos neste ano e passou a planejar uma candidatura ao Senado após a filiação de Moro. Com isso, pode enfrentar a senadora Mailza Gomes (PP), caso ela dispute a reeleição, além do ex-correligionário Jorge Viana (PT). No Distrito Federal, o partido tem estimulado que o senador Reguffe concorra ao governo. Ele, contudo, vinha avaliando disputar novo mandato no Senado e conversa com outros postulantes ao governo, como Izalci Lucas (PSDB) e Leila Barros (Cidadania).

— Reguffe tem autorização para escolher o que achar melhor, mas entendemos como ideal que viesse ao governo. Isso passa por uma construção para formar uma candidatura forte em 2022 junto aos partidos com os quais temos diálogo — diz o presidente do Podemos no DF, Cristian Viana.


Nos oito estados em que há possibilidade de acordos para manter alianças atuais, a despeito de conflitos, em seis — Alagoas, Paraíba, Amazonas, Pará, Espírito Santo e Minas Gerais — o Podemos é aliado de governadores que podem sequer receber Moro. Nesses casos, o partido faria palanques separados para o ex-juiz.Já no Tocantins, a sigla lançará ao governo o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas, que pode afastar-se de outros palanques presidenciais, mas deve manter aliança com o senador Eduardo Gomes (MDB), líder do governo Bolsonaro no Congresso.

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