Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Bolsonaro,
Marcos Ramos/Agência O Globo
Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Bolsonaro,

Mensagens de celular em posse da  CPI da Covid indicam que, a pedido de um lobista, a  ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro acionou o Palácio do Planalto para influenciar em nomeações de órgãos públicos.

De acordo com o material obtido pelo GLOBO, o lobista Marconny Faria, investigado pela comissão parlamentar , pediu ajuda de Ana Cristina Siqueira Valle para influenciar na escolha do Defensor Público da União (DPU), em 2020, junto ao então ministo da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, atual membro do Tribunal de Contas da União (TCU). Ana Cristina é mãe de Jair Renan Bolsonaro, conhecido como o filho "04" do presidente.

As mensagens analisadas pela CPI da Covid foram compartilhadas pelo Ministério Público Federal (MPF) no Pará, que teve acesso aos diálogos durante uma investigação sobre desvio de recursos públicos em um órgão ligado ao Ministério da Saúde. O material foi extraído, com autorização judicial, do telefone celular de Marconny Faria, que teria atuado para beneficiar um dos investigados do caso.

As mensagens mostram que Marconny mantinha contato com lobistas de empresas do setor médico investigadas pela CPI da Covid como a Precisa Medicamentos, e com Ana Cristina e Jair Renan Bolsonaro, conforme revelou O GLOBO em duas reportagens publicadas em agosto.

De acordo com o material em posse da CPI, a tentativa de Ana Cristina e Marconny de influenciar na nomeação do chefe da Defensoria Pública da União (DPU) começou em agosto de 2020. A indicação para o cargo é feita pelo presidente após a formação de uma lista tríplice votada pelos membros da carreira.

As mensagens mostram que um dos candidatos,o defensor público Leonardo Cardoso, procurou Marconny para pedir apoio à sua candidatura e ajuda para interceder junto a Jorge Oliveira, amigo de longa data da família Bolsonaro e que, àquela época, era o principal conselheiro do presidente na área jurídica.

Após receber o pedido de Cardoso, Marconny procurou Ana Cristina e enviou uma mensagem com um texto de apoio à indicação do defensor. Em seguida, o lobista enviou a ela o e-mail institucional de Jorge Oliveira usado à época: jorge.oliveira@presidencia.gov.br .

Em seguida, Ana Cristina respondeu dizendo que faria o contato com Jorge por WhatsApp: “Vou mandar um zap com a mensagem e (sic) mais pessoal ”, disse a ex-mulher de Bolsonaro. No dia seguinte, Ana Cristina enviou a Marconny o texto que teria enviado a Jorge Oliveira: “Bom dia meu amigo venho lhe pedir um apoio ao candidato Dr Leonardo Cardoso de Magalhães para assumir o cargo de Defensor Público-Geral Federal da Defensoria Pública da União. É um candidato alinhado com os nossos valores, técnico e apoiador do Jair sei que os outros dois candidatos são de esquerda se puder fazer isso por mim serei muito grata um abraço”.

Pouco tempo depois, Ana Cristina encaminhou a Marconny uma suposta resposta do então ministro Jorge Oliveira: “Já anotado! Conversei com ele ontem”.

A ex-mulher de Bolsonaro avisou ao lobista que outro candidato ao cargo de DPU havia obtido o apoio de um aliado político do presidente Bolsonaro. Ao final do diálogo, Ana Cristina lamenta aquela informação e diz a Marconny: “Eu não entendo mesmo, mas fizemos nossa parte". Apesar da articulação de Ana Cristina a pedido de Marconny, Bolsonaro acabou indicando Daniel Macedo para o cargo de Defensor Público da União.

O GLOBO procurou Ana Cristina e Jair Renan por meio de seus telefones pessoais, mas nenhum deles atendeu às chamadas. A defesa de Ana Cristina também não respondeu às perguntas enviadas sobre o assunto. Procurado, Leonardo Cardoso disse não se lembrar de Marconny.

Confrontado com o conteúdo de algumas das mensagens trocadas entre ele e Marconny, Cardoso disse que o período que antecedeu a indicação do cargo na DPU foi muito e que ele não se lembraria, especificamente, quem seria o lobista.

Ele ainda afirmou que nunca ofereceu nenhum tipo de vantagem para obter apoio ao seu nome. Jorge Oliveira foi procurado em seu telefone pessoal e por meio do e-mail institucional do TCU, mas não respondeu as perguntas. Marconny Faria também não atendeu.

SEGUNDA VEZ

Essa não foi a primeira vez que Ana Cristina tentou influenciar nomeações em cargos federais a pedido de Marconny Faria. Em outra investida, a ex-mulher do presidente teve mais sucesso.

Em agosto, O GLOBO revelou que Ana Cristina também teria recorrido ao Planalto para emplacar nomeações em um órgão público vinculado ao Ministério da Saúde. Na ocasião, a ex-mulher do presidente disse que enviou o caso a “Jorge” e que teria colocado o pedido “na conta do Renan”.

"Boa tarde, meu amigo, estive com o Jorge passei o caso prometeu que cair ver com carinho e coloquei na conta do Renan tbm agora vou esperar um pouco e cobrar ok bj", disse Ana Cristina.

Nesta mesma reportagem, O GLOBO revelou que o lobista ajudou Jair Renan a abrir sua empresa de promoção de eventos, que está na mira do MPF e da Polícia Federal por suspeita de tráfico de influência .

O GLOBO também mostrou que Marconny atuava junto a lobistas da Precisa Medicamentos para destravar um contrato para a compra de 12 milhões de testes de detecção de Covid-19 com o Ministério da Saúde. Desde então, ele passou a ser alvo das investigações da CPI da Covid.

Nesta quinta-feira, a comissão parlamentar recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e pediu que Marconny fosse conduzido à CPI e prestasse esclarecimentos.

O depoimento do lobista estava previsto para a manhã desta quinta-feira, mas ele apresentou um atestado médico informando que não poderia comparecer à sessão por motivos de saúde .

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), porém, o médico responsável pelo documento afirmou que detectou que Marconny teria "simulado" sua condição física.

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