Simone Tebet (MDB-MS)
Jefferson Rudy/Agência Senado
Simone Tebet (MDB-MS)

Líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS) conseguiu extrair durante o depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF) na CPI da Covid a revelação de que o presidente Jair Bolsonaro teria mencionado o nome do líder da Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), quando foi informado sobre supostas irregularidades envolvendo o processo de importação da vacina Covaxin .

Advogada e ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a parlamentar avalia que há indícios de prevaricação no governo Bolsonaro e só resta saber quem cometeu o crime. A parlamentar ainda afirma que Bolsonaro ficou refém do Centrão e, por isso, não teria levado a denúncia do caso Covaxin à Polícia Federal .

Qual estratégia a senhora utilizou para conseguir a revelação de que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, teria sido citado pelo presidente Bolsonaro no caso Covaxin, segundo o depoimento do parlamentar Luis Miranda?

Percebi, pela linguagem corporal do deputado Miranda, que não faltava muito para falar o nome (do parlamentar que o presidente teria mencionado sobre o caso Covaxin). O senador Alessandro Vieira, que se dirigiu ao Miranda antes de mim, teve uma posição estratégica de, como delegado, ir para o ataque cobrando que declarasse o nome. Quando chegou a minha vez, sentei-me à frente do Miranda para olhá-lo nos olhos. Aí pensei: “Agora vou inverter a dinâmica e entrar com o acolhimento, como se fosse mãe ou irmã”. É uma sensibilidade que só as mulheres têm. Disse para não ter medo, porque toda a população estaria do lado dele. É muito significativo o fato de a denúncia ter partido de um bolsonarista que se decepcionou com o governo.

O que muda no plano de investigação da CPI com a revelação de que o presidente Bolsonaro teria citado o nome de Ricardo Barros no contexto do caso da Covaxin?

Agora, há um novo elemento: a suspeita de corrupção em torno do dinheiro que deveria ser usado para vacinar a população, uma suspeita que envolve representantes do governo e o líder do governo na Câmara. Estamos falando de indícios muito fortes de fraude num processo de R$ 1,6 bilhão para aquisição de vacinas. Estamos diante do que poderia ser classificado como elemento de desumanidade. Caiu por terra a avaliação de que o governo Bolsonaro podia cometer erros, mas não havia corrupção.

Ao não levar o caso ao conhecimento da Polícia Federal, o presidente teria prevaricado?

A resposta vai depender do próprio Pazuello (ex-ministro da Saúde). Nas palavras do governo, Bolsonaro avisou ao Pazuello. A pergunta é: acionou mesmo? Alguém prevaricou, pois recebeu de um deputado e de um servidor da Saúde uma denúncia grave sobre indício de corrupção, com documentos, provas, nomes, mas não avisou a Polícia Federal nem o Ministério Público Federal. O crime de prevaricação no governo, que admitiu que foi alertado, é óbvio. Resta saber quem o praticou.

Em sua opinião, por que acredita que Bolsonaro não levou a denúncia à Polícia Federal?

Ele está numa sinuca de bico, né? Ruim com o Centrão, pior sem ele. Acho que, antes de tomar alguma medida em relação à denúncia, Bolsonaro buscou alternativas para não desagradar Ricardo Barros. Bolsonaro ficou refém do Centrão para ter sustentação política. Com a denúncia, acredito que Barros não poderá continuar como líder do governo até mostrar inocência.

Agora, qual é o foco da CPI?

O foco agora é em cima desse contrato bilionário (da Covaxin) envolvendo uma vacina que não havia comprovação da eficácia, que não poderia ter sido assinado porque a lei não permitia. E assinado por um governo que sempre negou a vacina e nunca quis adquirir de outras marcas. O contrato, a meu ver, violou as regras. É preciso ouvir as pessoas envolvidas. Ouvir o próprio Barros, o Maximiano (dono da Precisa Medicamentos, intermediadora do contrato) e os servidores da Saúde citados pelos irmãos Miranda. Penso que o melhor seria uma acareação entre Maximiano e os servidores da Saúde. E ouvir Barros separadamente.

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