Operação no Jacarezinho foi o mais letal da história do Rio de Janeiro
Reprodução: iG Minas Gerais
Operação no Jacarezinho foi o mais letal da história do Rio de Janeiro

A Polícia Civil afirma que a demora nos resgates aos baleados durante a operação no Jacarezinho , no último dia 6, ocorreu devido às dificuldade das equipes se locomoverem pela favela e aos enfrentamentos. A ação foi a mais letal da história do Rio, totalizando 28 mortos — entre eles o inspetor André Frias, de 48 anos, baleado na cabeça por traficantes. Um cruzamento de dados feito pela reportagem mostrou que houve demora de até cinco horas para levar os baleados para o hospital. Segundo nota enviada pela corporação, como "o terreno estava hostil", a consequência foi uma demora nos resgates".

A operação, que começou por volta das 6h do dia 6, teve a participação de cerca de 200 agentes, que se deslocaram a pé, em quatro blindados e em dois helicópteros. A dificuldade em percorrer a comunidade se deu devido à presença de barricadas, inclusive com trilhos de trens, para impedir o acesso. Este cenário, segundo a corporação, "obrigou os policiais a montarem uma operação de resgate de feridos, que não colocasse em risco a vida dos policiais e moradores".

No cruzamento de dados feito pela reportagem — a partir de informações dos registros de ocorrência do caso e dos boletins de atendimento médico (BAM) — um dos casos de socorro mais demorado aconteceu com Raí Barreiros de Araújo, de 18 anos. De acordo com informações do registro de ocorrência prestadas pelos próprios policiais civis que o balearam, ele foi baleado entre 6h30 e 7h no Beco da Zélia. Segundo o Hospital municipal Souza Aguiar, o homem deu entrada na unidade, já morto, às 12h04 — portanto, cinco horas depois.

Dados do aplicativo Google Maps, entretanto, mostram que o trajeto de cerca de 11 quilômetros do Jacarezinho à unidade, no Centro do Rio, demora cerca de 25 minutos para ser percorrido. O boletim de atendimento médico descreve que o corpo de Raí chegou ao hospital com um total de nove feridas produzidas por projéteis: três nas costas, três na barriga e três no braço esquerdo. Segundo o documento, o homem deu entrada "já cadáver rígido". Nos casos em que foi possível cruzar dados de BAM com registro de ocorrência, o número do boletim médico da vítima está citado no documento produzido pela Polícia Civil.

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O horário mais tardio de entrada dos mortos no Jacarezinho no Souza Aguiar naquele dia foi às 13h55. A última ocorrência registrada durante a operação aconteceu "por volta das 12h", quando dois homens foram mortos dentro de uma casa na Rua São Manuel. Como todos os mortos foram socorridos a hospitais, nenhuma cena do crime foi preservada para a perícia.

A operação foi a mais letal da história do Rio. Além dos 27 mortos pela polícia, a ação também teve um policial morto, o inspetor André Frias, de 48 anos, baleado na cabeça por traficantes. A reportagem também teve acesso ao BAM de Frias, único dos baleados naquele dia a chegar ainda vivo a uma unidade de saúde, segundo a equipe médica que o atendeu. Segundo o documento, o socorro ao policial foi muito mais rápido do que o dos outros mortos: Frias foi baleado por volta das 6h e apenas 46 minutos depois deu entrada no Hospital Salgado Filho. Ele ainda foi medicado e intubado antes de morrer, às 7h15.

Leia a nota da Polícia Civil na íntegra:

"O cenário produzido por traficantes armados do Jacarezinho, que atiravam para matar os policiais, aliado às barricadas e trilhos que impediam o acesso de veículos aos locais de confronto, obrigou os policiais a montarem uma operação de resgate de feridos, que não colocasse em risco a vida dos policiais e moradores. Afinal, na ocasião, o terreno estava hostil e não foi estabilizado em nenhum momento durante a operação, o que evidentemente levou a uma demora nos resgates."

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