O Círio de Nazaré, tradicional celebração religiosa do estado do Pará, começou na sexta-feira (9) em Belém com muitas mudanças em razão das restrições de saúde trazidas pela pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2). Os eventos, que mobilizam multidões, tiveram de ser ou restritos a poucas pessoas, organizados em trajetos sem o acompanhamento direto de fiéis, ou realizados de forma virtual. As festividades seguem até o dia 25 deste mês.
O evento celebra Nossa Senhora de Nazaré.
Há diversas explicações sobre quando teria sido encontrada a imagem de Maria, tanto originalmente quanto no que é chamado de “milagre do retorno” da imagem. No local da primeira descoberta foi construída a Basílica Santuário. O primeiro Círio teria ocorrido ainda no fim do século 18, em 1793.
Cercando essa história ganharam visibilidade diversos símbolos, como as imagens de Nossa Senhora,
os mantos, a berlinda, a corda, carros de anjos e promessas e hinos de celebração, além de orações.
O evento é composto por diversas missas que começam pela da Basílica, realizada sexta-feira (9). Neste ano ela ocorreu a portas fechadas, com a presença de diversos devotos do lado de fora da igreja. Ainda na sexta-feira, foi apresentado o manto de Nossa Senhora deste ano.
Um dos grandes momentos, a peregrinação que reúne fiéis para acompanhar o deslocamento da imagem de Nossa Senhora, não ocorrerá como tradicionalmente.
Normalmente, a procissão
leva cerca de 2 milhões de pessoas às ruas de Belém. O trajeto da santa será feito de helicóptero, em um sobrevoo pelos hospitais da cidade que atuaram no tratamento de pessoas com Covid-19.
A TV Círio
transmitirá diversas etapas da festividade, como lives musicais, a bênção do cônego Roberto Cavalli, a missa na Catedral celebrada por dom Alberto Taveira Corrêa.
Além disso, foi preparada uma programação televisiva com documentários e os melhores momentos do Círio.
Mobilização
Famílias e grupos de amigos se mobilizam para participar do evento, considerado por muitos como o “natal dos paraenses”.
Casas são enfeitadas, cartazes em homenagem colocados do lado de fora e até mesmo reformas são feitas para receber parentes e amigos.
“Muitas famílias que não se reúnem no Natal preferem se encontrar nesta época. A cidade fica lotada. No domingo é tradicional reunir a família, alguns acompanham o Círio
e depois vão para a casa da família. As pessoas arrumam a casa para o Círio,
a fim de receber os parentes”, conta a jornalista Simone Romero.
Neste ano, apesar das mudanças, ela vai preparar o almoço para a família, cujos pratos tradicionais são a maniçoba, a feijoada paraense feita de folhas de mandioca, e o pato no tucupi (caldo da mandioca).
“Mesmo não tendo a procissão formal, as pessoas vão continuar se reunindo. A gente vai deixar de comemorar o Natal por causa da pandemia? Da mesma forma não deixaremos de celebrar o Círio.
Minha maniçoba está sendo feita, porque tem que cozinhar por dias para tirar o veneno da folha da mandioca”, diz.
Eventos paralelos
Paralelamente ao Círio,
ocorrem diversos eventos. Um deles é o Auto do Círio, organizado pela Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA). O espetáculo-cortejo será realizado de forma virtual neste ano. O evento é patrimônio imaterial do povo do Pará, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e ocorre desde 1993.
A cada ano, participam cerca de 400 artistas, atraindo um público de mais de 60 mil pessoas.
“A principal mudança foi a realização da edição virtual do Auto do Círio,
no qual recebemos os vídeos dos participantes por meio das redes sociais e assim pudemos realizar a edição do Auto do Círio 2020 Virtual, com o tema 'Mãe, Livrai-nos do Mal, Amém!', que será exibido hoje, às 20h30, no canal do Youtube do Auto do Círio”, explica o coordenador do Programa de Extensão Universitária Auto do Círio, da UFPA, professor Tarik Coelho.