Em reação à busca do presidente Jair Bolsonaro pelo eleitorado petista, com recorrentes viagens ao Nordeste e o investimento em programas sociais, o PT planeja um contra-ataque: ampliar o eleitorado militar, segmento que impulsionou Bolsonaro para a política e elegeu três de seus filhos.
O PT divulgará, em setembro, o que chama de Plano de Reconstrução Nacional. Entre as ações destacadas, está a aproximação com militares e simpatizantes.
O plano incentiva parlamentares petistas a formularem políticas públicas voltadas para o segmento e a lembrarem investimentos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff nas Forças Armadas durante os 13 anos de governo do PT. O partido atuará para filiar representantes do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e das polícias militares estaduais.
"Nós, do PT, nunca fomos inimigos dos militares. Pelo contrário. Entendemos que eles são essenciais para o desenvolvimento nacional. Bolsonaro começou na política com o apoio da base militar, mas a realidade é que, quando chegou à Presidência, largou os praças e se colou nos generais. Ele cortou gratificações e benefícios de militares de baixa patente", afirma o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá.
O aceno petista aos militares ocorre no momento em que Bolsonaro vive sua fase de maior popularidade no poder, segundo pesquisa do Datafolha. O presidente tem investido em viagens pelo Nordeste, cujo eleitorado vota amplamente em candidatos do PT.
Em 2018, o candidato petista Fernando Haddad registrou 69,7% dos votos válidos na região, única do Brasil em que Bolsonaro foi derrotado.
O presidente também tem trabalhado para viabilizar o Renda Brasil, programa de distribuição de renda que substituiria o Bolsa Família, criado por Lula e criticado por Bolsonaro no passado. O núcleo do Planalto acredita que a implementação do Renda Brasil daria a Bolsonaro vantagem no pleito presidencial de 2022.
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Líder do PT na Câmara dos Deputados, Enio Verri (PR) nega que a aproximação com militares seja estratégia para avançar sobre o eleitorado de Bolsonaro:
"Lula e Dilma investiram muito nas Forças Armadas para o nacionalismo em projetos de desenvolvimento e democráticos. O plano é retomar esse diálogo com os militares e aprofundá-lo. Bolsonaro usa as Forças Armadas permanecer no poder".
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirma que a legenda deseja lembrar o investimento feito na modernização das Forças, com a aquisição de caças para a Aeronáutica. E chama a mudança do Bolsa Família para o Renda Brasil de “puro marketing”.
"O governo faz pequenas modificações no Bolsa Família e quer mudar o nome do programa. Querem transformar uma política de estado em uma política de governo. Já o PT sempre investiu nas Forças Armadas, com a aquisição de caças, por exemplo, para a Aeronáutica".
Cabo da Polícia Militar, o deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) avalia que o PT fracassará na estratégia:
"Figuras históricas petistas invadiram quartéis nos anos 1960 e criaram grupos paramilitares para enfrentar o Exército e a polícia. A tropa nunca apoiará o PT".
Um aliado próximo de Bolsonaro sustenta que o debate sobre gratificações não chegou a provocar desgaste do governo, porque os militares “reconhecem o momento de dificuldade financeira” do país. Este interlocutor do presidente destaca que além da expansão de programas sociais foi feita uma auditoria para cortar gastos desnecessários.