Procurador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol
Fernando Frazão / Agência Brasil
Procurador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol

Após o início das publicações da série de reportagens do Intercept com base em mensagens vazadas de diversas autoridades brasileiras, que ficou conhecida como " Vaza Jato ", a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) contratou uma empresa de comunicação de Brasília, especializada em gestão de crises, para atender a operação Lava Jato.

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Desde o início da operação federal, a ANPR, criada para fortalecer o Ministério Público e a carreira dos procuradores da República, passou, por meio de seu então presidente J osé Robalinho Cavalcanti , a sair em defesa também de Sergio Moro , que na época ainda era juiz federal

Em novas mensagens do Telegram divulgadas pelo Intercept, Robalinho e o procurador da República Deltan Dallagnol tratam a redação de uma nota para defender Moro e a Lava Jato por divulgar aúdios de conversas entre Dilma Rousseff, presidente à época, e o ex-presidente Lula.

Na conversa, Dallagnol escolhe os termos mais apropriados para suavizar suas decisões e repassa para Robalinho, que ajusta o texto.

Robalinho  – 01:34:35 – Veja o que acha. Tornei mais política. Amaciei as palavras sem cortar conteúdo

Dallagnol  – 01:36:07 – No primeiro parágrafo ficou dúbio o que foi feito atendendo a pedido dos Procuradores

Dallagnol  – 01:36:17 – A vinda a público rechaçar, ou a decisão?

Dallagnol  – 01:36:33 – Parece que a ANPR está vindo a público só pq pedimos rs

Dallagnol  – 01:36:45 – Seria bom ajeitar a redação para deixar claro que é a decisão que foi feita atendendo a pedido

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Sergio Moro pediu para não ter seu nome incluído em nota
Marcos Corrêa/PR - 29.8.19
Sergio Moro pediu para não ter seu nome incluído em nota

Minutos depois, o procurador continua sugerindo adjetivos mais adequados para o texto e repassa um pedido de Sergio Moro.

Dallagnol  – 01:40:27 – trocaria missões por funções... para retirar a chance de interpretação de messianismo

Dallagnol  – 01:41:29 – dava para colocar um adjetivo aí: "que desenvolvem suas missões de modo técnico e sereno em investigação complexa, que deslinda...."

Você viu?

Dallagnol  – 01:42:10 – vi que depois usou tanto os adjetivos técnico como sereno... então vai outra possibilidade

Dallagnol  – 01:42:23 – "que desenvolvem suas missões de modo profissional e com equilíbrio em investigação complexa, que deslinda...."

Dallagnol  – 01:43:21 – Moro pede pra não usar o nome dele... colocaria "no Juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba'

Robalinho  – 01:43:21 – Já mudei. O que mai rs

Dallagnol  – 01:43:29 – Perfeito.

Dallagnol  –10:17:23 – Já foi a nota?

Dallagnol  – 10:17:45 – Pode ter ido. Não vi novamente, mas tava ótima.

Dallagnol  – 14:48:07 – Robalinho, obrigado por todo o seu apoio. Todos aqui entendem que chegou um momento, agora, de uma articulação maior por parte da ANPR para coesão da carreira, e agradecemos por podermos contar com Você nisso. Por faovr, deixe-nos a par do que conseguir implementar, para entendermos melhor a evolução do cenário, inclusive interno.

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Após dois anos e meio, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República e convidou Sergio Moro para ser Ministro da Justiça de seu governo. Dias depois do "sim" do ex-juiz federal, Robalinho procurou Dallagnol e Moro para pedir o retorno de todo o seu apoio nos anos anteriores.

José Robalinho Cavalcanti – 19:26:13 – Caro Deltan, O pedido que lhe faço agora – e em larga medida de toda a frentas – é tentar fazer chegar um apelo a Sérgio Moro sobre o reajuste nosso e dos Juízes. Sabemos que Moro sempre foi a favor. Sofre com a mesma corrosão que sofremos e sabe, para além da injustiça conosco – vez que todos tiveram alguma reposição, menos as magistraturas – que isso está enfraquecendo a atratividade das duas carreiras...

O reajuste citado por Robalinho aumentaria em 16,38% nos salários dos procuradores da República. A mensagem do presidente da ANPR sequer teve uma resposta de Dallaganol, mas o reajuste foi aprovado.

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Procurado pelo Intercepet, Robalinho afirmou que não se lembra do pedido feito a Dallagnol sobre o reajuste de procuradores e juízes, mas revelou que conversou com Moro para tratar o assunto.

"Eu falei com Moro. Não nessa época, mas depois dele assumir como ministro. Já tinha saído reajuste, mas toquei nessa questão remuneratória. Foi em janeiro de 2018. Pedi oficialmente uma audiência. Fui para tratar do pacote dele, de questões institucionais, toquei no assunto de listra tríplice e de questões remuneratórias", afirmou Robalinho sobre o conteúdo da Vaza Jato .

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