Júlia sorrindo no depoimento. Ao lado, ela e Luiz Ormond no dia do suposto envenenamento
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Júlia sorrindo no depoimento. Ao lado, ela e Luiz Ormond no dia do suposto envenenamento

O delegado Marcos Buss, da 25ª DP (Engenho Novo), expressou sua surpresa diante da calma e frieza de Júlia Andrade Cathermol Pimenta, suspeita de matar o empresário Luiz Marcelo Ormond . Vídeos gravados pela Polícia Civil e revelados pelo Fantástico, da TV GLOBO, mostram Júlia sorrindo diversas vezes durante o depoimento.

"É um caso aberrante. Porque evidencia extrema frieza. Impressionante", disse o delegado.

Júlia deu seu depoimento sobre a morte do namorado no dia 22, dois dias após o  corpo dele ser descoberto em estado avançado de decomposição no apartamento onde residiam, no Engenho Novo, Zona Norte do Rio.

Na semana passada, o delegado Marcos Buss já havia explicado que Júlia não foi detida após o interrogatório devido à falta de fundamentos legais para tal medida naquele momento.

Em sua narrativa, Júlia relatou que deixou a residência de Luiz na segunda-feira (20), após um desentendimento no domingo (19), mas afirmou que ele estava bem e até preparou o café da manhã para ela.

"Naquele momento não (tinha base legal para prendê-la). Porque ela não estava em flagrante e até aquele momento nós estávamos procurando a autoria e entender o que tinha acontecido", disse o delegado Buss.

"Naquele momento, a Julia foi chamada e contou a história dela. As incoerências foram surgindo à medida que ela foi prestando as declarações", completou.
A polícia investiga se a suspeita de matar namorado com brigadeirão envenenado se passou por ele para receber dinheiro de imóvel

O delegado afirmou que Júlia passou o tempo do depoimento de forma fria. Por um instante, ele disse que ela era a principal suspeita pelo crime, nem assim ela demonstrou alguma emoção.

"Eu falei pra ela: 'Essa história não condiz com a realidade. Você falou que gostava tanto do Luiz Marcelo e eu acabei de falar que ele foi encontrado morto e você é a principal suspeita'. Ela não esboçou uma reação característica, uma reação típica de alguém que é confrontada com essa notícia", comentou o delegado.

O delegado também estranhou a audência de um advogado. Segundo Buss, somente depois de outros depoimentos foi possível entender melhor a participação de Júlia no crime.

"Nós ouvimos diversas pessoas naquela mesma data e ao longo do dia foram surgindo diversas informações e fomos reunindo tudo ali. No dia que ouvimos a Julia, inclusive, achamos que ela sequer iria comparecer à delegacia", disse.
No final do dia 22, o delegado apresentou o pedido de prisão temporária contra Júlia à Justiça, que aceitou e expediu o mandado de prisão contra ela. Desde então, Júlia Cathermol segue foragida da Justiça.

Cigana

Suyane Breschak, amiga de Júlia que se apresenta como cigana , foi detida sob suspeita de participação na trama, recebendo bens da vítima, segundo a polícia.

Na delegacia, ela relatou que conhecia Júlia há 12 anos, sendo sua mentora espiritual e realizando "trabalhos" para ela com alguns ex-namorados. Afirmou ainda que, devido a esses "trabalhos",  Júlia contraiu uma dívida de R$ 600 mil e vinha pagando, há cinco anos, R$ 5 mil mensais.

Suyane revelou que a suspeita trabalhava como garota de programa e que os "trabalhos" visavam ocultar essa profissão de seus companheiros. Suyane soube da morte de Luiz Marcelo no dia 18, em um churrasco realizado com a amiga logo após a entrega do veículo de Luiz.

O carro da vítima teria sido entregue para quitar parte da dívida, no valor de R$ 75 mil. Segundo a cigana, o veículo foi dado a um ex-namorado que a ameaçava. Esse ex-namorado também teria recebido roupas e um ar-condicionado.

Victor Ernesto de Souza Chaffi também está sob custódia, acusado de receber o carro.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro busca identificar quem usou o telefone do empresário Luiz Marcelo Ormond para solicitar a antecipação de um pagamento que ele teria direito.

Os investigadores suspeitam que Júlia tenha usado o telefone do namorado já falecido para negociar o pagamento adiantado de uma parcela de um imóvel vendido por ele para um amigo.

Essa linha de investigação surgiu após o depoimento de Marcos Antônio de Souza Moura, amigo de infância de Luiz Marcelo, que mantinha contato frequente com ele por meio de mensagens de áudio.

Marcos informou à polícia que comprou uma casa de Luiz Marcelo no bairro Maria da Graça, na Zona Norte. Eles acordaram que o valor da casa seria pago em parcelas mensais de R$ 3 mil, com um adicional de R$ 20 mil todo janeiro.

No entanto, Marcos ficou surpreso ao receber uma mensagem do celular de Luiz Marcelo em 18 de maio, por volta das 21h. O texto da mensagem, diferente do usual formato de áudio, dizia o seguinte:

"Sobre o pagamento do dia 25, você pode antecipar este mês? Tive um gasto do caramba indo e voltando pra light, pra comprar as coisas pra religação de luz".
Em seu depoimento, Marcos reforçou que não acredita que a mensagem foi escrita por Luiz Marcelo, até porque o mesmo não passava por dificuldades financeiras.

"Nunca fizemos mensagens de texto, sempre áudio, áudio pra lá, áudio pra cá, nunca falamos por mensagem de texto e eu estranhei nesse dia que ele me pediu o adiantamento", disse Marcos.

Pressão para modificar o acordo

O amigo do empresário também revelou aos investigadores que Luiz Marcelo estava incomodado com a insistência de Júlia para que ele alterasse o contrato de venda do imóvel em Maria da Graça.

Segundo Marcos, ela queria ser incluída no contrato de compra e venda do imóvel, substituindo Pedro Paulo Ormond Barbosa, primo de Luiz Marcelo.

"Ele falou: 'pô, Marcos, ela está me perturbando. Ela perguntou por que eu não botei ela no contrato, e botei meu primo'", revelou Marcos.

As investigações indicam que Julia foi insensível. Durante seu depoimento, a suspeita afirmou que Luiz serviu o café da manhã para ela na segunda-feira de manhã, o que é contraditório com a necropsia, que aponta que o empresário já estava morto.

"Ela teria permanecido no interior do apartamento da vítima, com o cadáver, por cerca de 3, 4 dias. Lá ela teria dormido ao lado do cadáver, se alimentado, ela teria inclusive descido para a academia, se exercitado, retornado para o apartamento onde o cadáver se encontrava”, disse o delegado Marcos Buss.

Armas roubadas

O delegado Marcos Buss também informou que duas armas registradas no nome do empresário Luiz Marcelo Ormond foram roubadas de seu apartamento. O delegado não descarta a possibilidade de Júlia estar com as armas roubadas.

"Não se pode desprezar a informação de que duas armas que sabemos estar no nome da vítima, e que sabíamos estar dentro do apartamento, foram subtraídas. Elas desapareceram. Um dos objetivos agora é localizar essas duas armas", comentou o delegado.

"Ela é a principal suspeita de ter praticado esse crime bárbaro. Mas será que essas armas também não estão com a Júlia? A Júlia armada pode representar um risco ainda maior", argumentou Marcos Buss

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