O segundo debate na televisão entre os candidatos à Presidência da República, na noite deste sábado (24), foi marcado pela ausência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a “estreia” de Padre Kelmon (PTB). O religioso substituiu
Roberto Jefferson, que teve a candidatura impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
.
O encontro foi organizado por um pool de imprensa formado pelos veículos SBT, CNN Brasil, rádio Nova Brasil, Estadão, rádio Eldorado, revista Veja e Portal Terra. Participaram, além do padre, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D'Ávila (Novo).
A ausência de Lula foi reforçada em todo início de bloco e nas falas dos participantes. O petista foi relacionado à ditadura da Nicarágua, à Venezuela e chamado de presidiário. Atual líder do Executivo e segundo colocado nas pesquisas, Bolsonaro também foi alvo dos candidatos. Orçamento secreto, conduta na pandemia de covid-19 e a ligação com Valdemar da Costa Neto, condenado no caso do Mensalão, foram temas relacionados ao presidente.
Soraya Thronicke chamou atenção pelas falas ao longo do debate. Na primeira oportunidade de perguntar, fez uma brincadeira de "O que é, o que é" para D’Ávila. Depois usou as frases "Não cutuque a onça com a sua vara curta", ao rebater Bolsonaro, e "Não confundir clementina com cloroquina", ao responder sobre imposto único.
A dobradinha entre Bolsonaro e Padre Kelmon também foi destaque. O candidato do PTB se colocou como um aliado do atual presidente e reclamou das críticas que os demais participantes faziam ao chefe do Executivo. Nas duas oportunidades que teve de fazer perguntas, Bolsonaro escolheu o padre como alvo.
Início quente
Feito por perguntas diretas entre os candidatos, o primeiro bloco começou em tom acalorado, com Simone Tebet questionando Jair Bolsonaro sobre o orçamento secreto . Temas como aborto, foro de São Paulo, intolerância religiosa e os escândalos do leite condensado e da prótese peniana foram debatidos pelos participantes ao longo das respostas.
Perguntas de jornalistas
O segundo bloco começou com Jair Bolsonaro respondendo sobre o Supremo Tribunal Federal. O presidente se referiu aos ministros indicados em seu governo, André Mendonça e Kássio Nunes Marques, como "os mais lúcidos" da corte.
Ciro Gomes foi questionado sobre o chamado voto útil, já que é o principal alvo dos petistas, que tentam ganhar a eleição no primeiro turno. O candidato demonstrou irritação e falou sobre "morte do jornalismo". Na sequência, refletiu que sua candidatura sempre foi difícil . "Eu sei que eu não era o preferido", disse, em relação ao próprio partido, o PDT. "Lula produziu uma onda de propaganda que é o seguinte: todo mundo que não for Lula é fascista. E ele teve uma oportunidade de caracterizar de fascista o Bolsonaro e, ao invés de vir aqui pro debate, foge, desrespeitando todos nós."
Simone Tebet concordou com Ciro e aproveitou seu comentário para atacar novamente a ausência de Lula. "O voto útil é o voto da sua consciência. Como vamos votar em um candidato que não tem a coragem de vir debater de forma democrática?", questionou.
Armas, impostos e a lei da ficha limpa foram temas levantados pelos jornalistas. Padre Kelmon, ao falar sobre o impedimento de Roberto Jefferson em ser candidato, o comparou ao ex-presidente Lula. "A lei deveria valer para todos", disse. O religioso ainda criticou os ataques a Jair Bolsonaro no debate. "É cinco contra um. Mas vai ser cinco contra dois, porque nós somos de direita", afirmou, se perdendo na matemática.
Terceiro bloco
Novamente de perguntas diretas entre os candidatos, Bolsonaro abriu o terceiro bloco afirmando que em seu governo não tem corrupção e fez indicações técnicas para os ministérios. "Me orgulho muito de ser o presidente que não tem corrupção."
Padre Kelmon puxou um debate sobre feminismo com Simone Tebet e afirmou que a representante do MDB não sabia o significado do termo. Em resposta, ouviu da senadora que ela nunca se confessaria com ele.
Temas como economia, inflação e reforma tributária também entraram na pauta, novamente com críticas dos candidatos ao governo Bolsonaro. O atual presidente teve três direitos de resposta concedidos ao longo do bloco.
Quarto e último bloco
A volta dos questionamentos feitos por jornalista trouxe asssuntos como educação e violência política. Bolsonaro foi perguntado sobre a fala de "fuzilar a petralhada". Irritado, falou que a jornalista teve uma postura "lamentável" e disse não poder ser responsabilizado por brigas da torcida do Palmeiras pelo fato de ser palmeirense. "Eu diminuí em 40% as mortes violentas no país."
Uma dobradinha que chamou atenção foi entre Ciro Gomes e Simone Tebet. A senadora respondia sobre os escândalos de corrupção envolvendo pastores e o Ministério da Educação. Ao perceber que não teria tempo para concluir seu raciocínio, pediu desculpas. Ciro, então, concedeu 10 segundos seus para a adversária, e os dois protagonizaram uma troca de gentilezas sobre quem teria a melhor fala.
Considerações finais
Simone Tebet usou as considerações finais para reforçar o pedido de voto. "O futuro do Brasil está nas suas mãos. O Brasil quer e precisa de mudança de verdade", disse.
Jair Bolsonaro aproveitou o tempo final para dizer que fez pelos mais pobres, enalteceu o Auxílio Brasil e abaixou o preço da gasolina. "Esse é um governo que tem um olhar especial para os mais pobres, especialmente para o Nordeste".
Ciro Gomes fez um apelo contra o voto útil e pediu uma chance aos eleitores. "Me ajuda a mudar o Brasil".
Soraya Thronic citou escândalos que marcam a trajetória política de Lula e Bolsonaro. "Não suportamos mais mensalão, petrolão e rachadinhas", afirmou.
Padre Kelmon, em acordo com a postura que teve ao longo do debate, fez um discurso ideológico nas considerações finais. "Não permita a volta da esquerda ao poder. Olhe a Venezuela. Olhe a Nicarágua", bradou.
Felipe D’Ávila encerrou o debate dizendo que os partidos, exceto o dele, são cheios de "corruptos". "Infelizmente, no segundo turno, nós vamos ter um problema. Esses partidos vão estar todos juntos com Lula e você vai continuar pobre se não votar bem."