Lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) proibiam roubos em favelas, fugas de ladrões para comunidades periféricas e também a entrada de carros roubados nessas mesmas comunidades. Isso é o que mostraram cartas enviadas por líderes da facção, detidos no sistema prisional paulista, a comparsas em liberdade.
Segundo a coluna de Josmar Jozino, no UOL, as correspondências foram apreendidas na casa de um líder do PCC em maio de 2019. Policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) apreenderam um total de 56 cartas na ocasião e elas foram repassadas ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
De acordo com a publicação, a que chamou a atenção dos procuradores é assinada pela "sintonia final", nome dado à cúpula da facção. Com o título "Salve de conscientização", o texto diz coisas como "não há sentido em roubar nessas localidades porque os moradores têm pouco para a sobrevivência e precisam de apoio e não de medo".
Outro trecho diz que os ladrões de veículos não devem levá-los para as favelas "porque a polícia vai ser acionada e o risco de prejudicar outras pessoas é muito grande". "Não é para fazer da favela ou comunidade um local de desova de carros roubados", frisa a sintonia final.
De acordo com a publicação, as investigações apontam que essas ordens deveriam ser seguidas por todo o estado de São Paulo. A "intenção", conforme expressa no texto, "não é colocar dificuldades para nenhum criminoso, mas conscientizar que é preciso agir com equilíbrio". Com isso, a cúpula do crime lembra que "cada um é dono do seu ato", mas quem prejudicar terceiros "será avaliado". Policiais civis ouvidos pelo portal em condição de anonimato esclareceram que os terceiros prejudicados com os roubos são os donos de pontos de vendas de drogas.