O Indigenista Bruno Araújo e o jornalista Dom Phillips
Reprodução - 06/06/2022
O Indigenista Bruno Araújo e o jornalista Dom Phillips

Um mês depois do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips serem mortos a tiros de espingarda na região do Vale do Javari, no Amazonas, a Polícia Federal (PF) se concentra em descobrir o que motivou o crime, se os assassinatos foram premeditados e como exatamente se deu a sequência de acontecimentos. Além disso, os policiais investigam se houve um mandante.

Depois de descartar inicialmente a figura de um mandante por trás das mortes de Dom e Bruno, a PF agora apura a existência de um autor intelectual dos assassinatos.

"A gente não está investigando uma pessoa específica, a gente está vendo os fatos. Se os fatos apontarem para algum mandante, a gente vai atrás desse mandante, mas até o momento não estamos atrás" , afirmou o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes.

Os peritos federais que ainda ontem colhiam vestígios na lancha em que navegavam Bruno e Dom aterrissam nesta terça-feira em Brasília, dia em que completa um mês das mortes, para iniciar a produção de um laudo que busca verificar, a partir das simulações feitas com os autores do crime, as versões colhidas durante os depoimentos. O trabalho deve durar até 90 dias. O resultado de outro laudo, que analisa os ferimentos à bala, deve sair esta semana.

Até o momento, oito pessoas foram presas. Segundo a PF, sete delas integram a mesma família que o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, o "Pelado", que confessou os assassinatos e segue preso em Atalaia do Norte, ao lado de seu irmão, Oseney da Costa de Oliveira, o "Dos Santos", além de Jeferson da Silva Lima, que também confessou os disparos.

Conforme revelado pelo GLOBO, Pelado é cunhado de Laurimar Lopes Alves, o Caboclo, um pescador que tem processos na Justiça Federal por invasões recorrentes à terra indígena Vale do Javari, além de um histórico de violência contra índios Korubos, de recente contato.

O GLOBO apurou que o núcleo de inteligência da PF em Tabatinga investiga se houve a participação no crime de Laurimar, que é casado com a irmã de Pelado, Elizandra da Costa de Oliveira.

Procurada, a família de Oseney da Costa de Oliveira não retornou aos contatos da reportagem. O GLOBO também tentou contato com o advogado que representa a defesa dos investigados, Edinilson Almeida Tananta, mas ele não retornou.

Prisão preventiva


A força-tarefa criada para investigar o caso pedirá à Justiça estadual a conversão em prisão preventiva (sem duração definida) das prisões temporárias tanto de Pelado como de Jeferson, que vencem em poucos dias, segundo o superintendente da PF no Amazonas.

Além disso, também pleiteará a renovação, por mais 30 dias, da prisão temporária de Oseney, cuja libertação, segundo sua mulher disse ao GLOBO, estava programada para 14 de julho.

"A gente está avançando nas investigações, hoje temos oito pessoas efetivamente envolvidas, sete que são criminosos confessos" , diz Eduardo Fontes. "Só Oseney até agora nega participação tanto nos homicídios como na ocultação dos cadáveres. Mas temos provas testemunhais que colocam ele na cena do crime e estamos em busca de entender se havia ou não algum plano de participação nos homicídios. Vamos mantê-los presos preventivamente, os dois que confessaram, e temporariamente aquele que ainda está negando."

Os outros envolvidos aguardam as investigações em liberdade.

Na quinta-feira passada, enquanto os parlamentares da comissão externa criada para investigar o aumento de crimes na Amazônia visitavam Atalaia do Norte, os peritos federais conduziam no rio Itaquaí mais uma etapa da simulação dos assassinatos, que foi totalmente concluída nesta segunda-feira.

"Essa reprodução simulada vai trazer de forma técnica todas as inconsistências que temos apuradas na prova oral que foi colhida dos criminosos. Os criminosos contam a versão deles. Eles foram ouvidos, muitos mais de uma vez. A reprodução simulada tende a esclarecer pontos inconsistentes ou contraditórios" , diz o superintendente da PF.

Segundo Fontes, os trabalhos policiais de campo continuam sendo feitos com o foco de identificar o motivo do crime. Mais de vinte pessoas foram ouvidas, e as oitivas continuam.

"A questão dos pertences pessoais e da ocultação dos corpos, tudo isso a gente já tem. Estamos agora atrás da efetiva motivação do crime e se existe ou não um mandante por trás, para dizer se tem ou se não tem", diz Fontes.

Os depoimentos são colhidos pela força-tarefa montada para investigar o caso, o que inclui a Polícia Civil, mas a Justiça estadual deve declinar a competência sobre o caso e enviar o conteúdo das investigações para a PF, diz o superintendente.

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