Tamanho do texto

Segundo Zarif, conversas foram 'boas' e 'produtivas', mas avanços dependem de postura da União Europeia

Usina Nuclear no Irã arrow-options
(Handout/Getty Images
Usina Nuclear no Irã


PARIS — O presidente francêsEmmanuel Macron se reuniu, na manhã desta sexta-feira, com o chanceleriraniano Mohammad Javad Zarif para uma tentativa de salvar o acordo nuclear assinado em 2015, questão no centro do acirramento das tensões no Golfo Pérsico.

Buscando acalmar as tensões, Macron propôs o alívio das sanções às exportações de petróleo iranianas ou a criação de um mecanismo de compensação que "permita ao povo iraniano viver melhor"  desde que Teerã se comprometa a cumprir com as obrigações estabelecidas pelo tratado nuclear, abandonado pelos EUA em maio de 2018.

Leia também: Trump defende novo acordo nuclear com o Irã: "Existe possibilidade de acontecer"

Logo após o encontro, Zarif disse que a reunião com o líder francês foi produtiva, mas que o acordo não será renegociado, como demanda Donald Trump:

— A França apresentou algumas sugestões e nós apresentamos algumas sugestões sobre como conduzir o acordo nuclear e os passos que ambos os lados precisam tomar — disse Zarif. — As conversas foram boas e produtivas e dependem de como a União Europeia irá cumprir com os compromissos assumidos durante o acordo e após a saída americana.

O encontro entre Macron e Zarif antecedeu a reunião do G7, que acontecerá neste sábado em Biarritz, na França, onde a questão iraniana será pautada. Nesta sexta-feira, o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, bastante próximo de Trump, disse que Londres não se aliará à política linha-dura que os EUA impõem ao país persa e continuará a tentar salvar o tratado nuclear.

Leia também: Irã formaliza suspensão de regras de acordo nuclear

O esfacelamento do tratado está no cerne das tensões no Golfo Pérsico, que vêm aumentando desde o ano passado, quando o governo de Donald Trump voltou a impor sanções ao Irã para forçá-lo a negociar um novo tratado. Para isso, Washington vem aplicado sua política linha-dura cujo principal objetivo é reduzir as exportações de petróleo iraniano , principal fonte de renda do país persa, a zero.

A dura política americana também incluiu a imposição de sanções a Zarif, principal negociador do tratado, ao aiataolá Ali Khamenei , líder supremo do país, e membros da Guarda Revolucionária. Na ocasião, as sanções foram uma represália à derrubada de um drone americano por forças iranianas no Oriente Médio em junho — Teerã alega que a aeronave teria invadido seu território espacial, alegações negadas por Washington.

O episódio drone veio dias depois de os EUA culparem o Irã por ataques a dois navios no Estreito de Ormuz , região por onde passa cerca de 30% de todo o petróleo comercializado no mundo.  Em resposta, Donald Trumpautorizou um bombardeio a alvos iranianos, que teria sido cancelado dez minutos antes de seu início.

Leia também:  Após anúncio sobre acordo nuclear, EUA impõem novas sanções ao Irã

Desde então, a crise no Estreito de Ormuz, região por onde passa 20% do petróleo comercializado no mundo, se estendeu para o comércio naval, após forças britânicas confiscarem um navio iraniano em Gibraltar, sob alegações de que a embarcação estaria transportando petróleo para a Síria, violando sanções da União Europeia — que se aplicavam exclusivamente aos países do grupo, não sendo extensivas ao Irã, por exemplo. Em retaliação, Teerã capturou um navio britânico no Golfo Pérsico e tentou abordar outros dois.

Para proteger o comércio marítimo na região, os Estados Unidos anunciou a criação de uma coalizão naval no Golfo Pérsico no início do mês — desde então, a Austrália, o Reino Unido e o Bahrein anunciaram que irão se juntar à força-tarefa. O Irã, contudo, alerta que é a segurança da região é sua responsabilidade e que poderá retaliar caso a presença militar estrangeira se confirme:

— Está claro que a intenção americana de ter presença naval no Golfo Pérsico é para contrariar o Irã. Não espere que nós fiquemos quietos quando alguém vem para as nossas águas e nos ameaça — disse Zarif, na quarta-feira. — Vai haver uma guerra no Golfo Pérsico? Eu posso lhe dizer que nós não a começaremos, mas iremos nos defender.