
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o governo tem uma base frágil no Congresso Nacional. Durante discurso no 17º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado nesta sexta-feira (1º), em Brasília, o petista admitiu que a articulação para aprovação de projetos prioritários para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) precisa ser “construída praticamente todos os dias”, em um diálogo “complexo” e “difícil”.
“Nós estamos em um governo com uma base frágil no Congresso Nacional. Uma base que é construída praticamente todos os dias, a cada projeto que precisa ser aprovado, a cada decreto que precisa ser editado. Tudo é uma construção complexa, uma construção difícil” , lamentou Haddad.
A fala ocorre após meses de tensões entre o Executivo e Legislativo, principalmente em relação ao Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) e à necessidade de equilíbrio fiscal, que se tornou munição para um embate entre os Poderes. Haddad também fez referência a "novidades" diárias como o "tarifaço", ilustrando os obstáculos enfrentados.
Para o ministro, as tarifas de 50% sobre importações de produtos brasileiros impostas pelo governo dos Estados Unidos dificultam a atuação do governo e a relação com o Congresso, que tem uma ala de parlamentares da oposição que defende as medidas do presidente norte-americano Donald Trump.
Sobre isso, Haddad classificou como “ótima” a sinalização feita por Trump sobre a possibilidade de conversar com Lula a respeito das tarifas. “Tenho certeza de que a recíproca também é verdadeira. O presidente Lula estaria disposto a atender um telefonema dele a qualquer momento. Já disse anteriormente: é muito importante preparar esse diálogo” , afirmou o ministro ao deixar o Ministério da Fazenda, na tarde desta sexta-feira (1º).
Haddad também relatou que manteve contato com a equipe do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e informou que está em negociação para uma reunião mais aprofundada sobre a decisão tarifária, considerada “unilateral” por Brasília. O encontro, segundo ele, ainda não tem data marcada, mas deve ocorrer na próxima semana.
“Entendemos que as relações comerciais não devem ser afetadas por avaliações políticas. Estamos trabalhando para retomar o diálogo, restabelecer a mesa de negociação, e talvez realizar uma reunião presencial” , explicou.
O ministro voltou a criticar o isolamento comercial ao qual o Brasil vem sendo submetido, segundo ele, por motivações políticas. “O país está fora da curva por razões que não são técnicas, mas políticas” , pontuou.
Mais cedo, Trump afirmou que Lula pode entrar em contato com ele “quando quiser”. Ao comentar a sobretaxa de 50%, Trump não entrou em detalhes, mas disse que “as pessoas que estão comandando o Brasil fizeram a coisa errada”. Apesar da crítica, o presidente norte-americano disse “amar o povo do Brasil”.
Em razão dessa conjuntura, Haddad afirmou que o segundo semestre de 2025 será “de muita luta, muitos desafios”. “Nós estamos numa grande tarefa até o ano que vem. Nós temos um ano de muita luta, de muitos desafios. Mas, mais uma vez, nós seremos convocados — e não vamos nos furtar a entregar nosso suor, nossas lágrimas, nosso sangue por esse grande país, que há de ser uma enorme nação: uma potência econômica, uma potência democrática, uma potência soberana” , ressaltou.
PT lança ofensiva contra tarifaço

No evento da noite desta sexta-feira, o Partido dos Trabalhadores lançou uma campanha de comunicação contra o tarifaço de Trump. Entre os discursos de representantes da legenda, o partido reproduziu um vídeo com uma ofensiva contra as medidas de Trump. O conteúdo chama a população para uma ação de defesa do Brasil.
“Defenda o Brasil sempre que tentarem mudar as nossas instituições, chantagear nosso país, atacar a nossa soberania, defenda o Brasil! Respeitar não é baixar a cabeça, porque sempre, sempre defenderemos o Brasil” , diz o vídeo.
O conteúdo ataca parlamentares e outros representantes da oposição ao presidente Lula. No vídeo, imagens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados, junto a Donald Trump, são reproduzidas acompanhadas de frases como “traidores da pátria” e “patriotas batem continência para outra bandeira”.
“50% de impostos na importação brasileira. Silêncio covarde dos falsos patriotas. Usaram nossa bandeira como fantasia para esconder traição, mentira e destruição” , ataca o vídeo. “Essa bandeira não é adereço, não é figurino de traidor. É símbolo de um país que trabalha. Nossa bandeira é para ser defendida” , acrescenta.
O evento também foi marcado pelos discursos de representantes do partido e de integrantes de legendas aliadas a favor da prisão de Bolsonaro e contra o filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que está nos EUA e a quem é atribuída a responsabilidade pelo tarifaço de Trump.
Haddad defende governo Lula

Para Haddad, apesar das dificuldades impostas pelos cenários político e econômico, o governo Lula tem conseguido avançar na execução de seu programa e no cumprimento de promessas de campanha.
“Apesar de todos esses obstáculos que temos que enfrentar diariamente — e a cada dia é uma novidade, como essa última do ‘tarifaço’ —, nós estamos conseguindo executar o nosso plano de governo” , afirmou.
Ele contou que, recentemente, ao reler o plano apresentado durante a campanha, percebeu o quanto o governo já avançou, mesmo diante das adversidades.
Segundo Haddad, a atual gestão tem se empenhado em reverter retrocessos e restituir direitos sociais que foram desconstituídos nos últimos anos.
“Nós começamos uma política de restituição dos direitos vilipendiados nos últimos sete anos que antecederam a posse do presidente Lula e que foram desconstitucionalizando bandeiras históricas desse partido desde a sua fundação.”
O ministro também fez questão de rebater previsões pessimistas em relação à economia. “Todo mundo dizia que o país não tinha condição de crescer mais de 1,5% ao ano. Nós, em dois anos, crescemos 7%. Estamos crescendo o dobro da expectativa do mercado” , destacou. Ele citou ainda a queda no desemprego, que atingiu 5,8%, o menor índice da série histórica, como sinal da recuperação econômica.
Haddad afirmou que o governo esperava sair do Mapa da Fome apenas no último ano de mandato, mas que esse resultado já foi alcançado. Para ele, é necessário furar o “ruído” das fake news e da polarização para fazer com que a população tenha acesso aos dados reais do país.
“Estamos sob a batuta de um grande líder político que está dando o tom em todas as áreas. E esse rumo foi estabelecido com clareza, transparência e profundidade nas eleições de 2022” , disse, referindo-se ao presidente Lula.
Ao final da fala, defendeu a mobilização da militância para comunicar os resultados da gestão petista. “Nós temos que fazer com que nossas políticas cheguem a todos os rincões desse país, para que a verdade dos números da economia, da educação, do desenvolvimento social e da saúde cheguem a cada canto. Porque aí, sim, nós vamos estar reconstruindo o Brasil e unindo o país” , concluiu.