Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), se reuniram com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, nesta quarta-feira (16), para debater sobre a taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros.
O encontro marcou o início do segundo dia de reuniões comandadas pelo Governo Federal para estudar os impactos e saídas ao tarifaço.
A reunião ocorreu na Residência Oficial do Senado e contou também com a presença da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e dos senadores Renan Calheiros (MDB), Jaques Wagner (PT), Randolfe Rodrigues (PT), Rogério Carvalho (PT), Weverton Rocha (PDT), Fernando Farias (MDB) e Nelsinho Trad (PSD).
Após a reunião, os presidentes das Casas Legislativas e Alckmin pregaram a unidade nacional e a defesa dos interesses brasileiros, especialmente em um contexto de tensão nas relações diplomáticas e comerciais internacionais. O encontro ocorreu uma semana depois de o presidente Donald Trump enviar uma carta ao chefe do Executivo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informando sobre a aplicação da taxa sobre importações, que começa a valer a partir de 1º de agosto.
“Nós vamos defender a soberania nacional, vamos defender os empregos dos brasileiros, vamos defender os empresários brasileiros que geram a riqueza para o Brasil. Mas tenho convicção que esse processo tem que ser liderado pelo Poder Executivo” , declarou o senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado e do Congresso Nacional.
Alcolumbre ressaltou que as negociações devem ser comandadas pelo Governo Federal, especialmente pelo presidente Lula, mas com apoio do Congresso Nacional.
Durante a reunião, Alckmin informou os presidentes das Casas Legislativas sobre o andar das negociações, iniciativa considerada fundamental para que o parlamento dê suporte ao Executivo para atenuar a crise diplomática.
“A compatibilização das informações é fundamental para que o parlamento esteja à disposição e o governo lidere todo esse processo ao lado do Congresso Brasileiro” , acrescentou Alcolumbre.
Na terça-feira (15), antes da reunião com Alckmin, o Senado aprovou a criação de uma comissão externa, formada por quatro senadores, que vai viajar para Washington entre os dias 29 e 31 de julho para atuar diplomaticamente junto ao Congresso norte-americano e, assim, estabelecer canais de diálogo para buscar uma solução para o tarifaço .
A ideia é criar uma ponte entre os governos brasileiro e norte-americano para reverter a decisão de Trump. Para isso, a reunião desta manhã foi, na visão dos presidentes das Casas, um passo importante para que o Congresso possa apoiar o governo nas tratativas.
”Hoje recebemos informações sensíveis, que trazem para a gente todo o panorama internacional. Nesse momento de agressão ao Brasil e aos brasileiros, isso [tarifas] não é correto e temos que ter firmeza, resiliência e tratar com serenidade essa relação” , disse Alcolumbre.
União entre os Poderes
Alcolumbre e Motta foram enfáticos ao defender o compromisso do Congresso em apoiar o Poder Executivo na proteção da soberania nacional, dos empregos e das empresas brasileiras. Os presidentes do Senado e da Câmara transmitiram uma mensagem de união entre os poderes para enfrentar desafios externos e fortalecer o Brasil.
“Temos mais um momento de unidade nacional, de unidade em favor do país, de proteção à nossa indústria, aos nossos empregos, às nossas relações diplomáticas com os demais países” , disse Motta.
A postura de alinhamento institucional ocorre após o embate entre o Congresso e o Executivo sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF ). A discussão em torno da medida adotada pelo governo para aumentar a arrecadação e cumprir a meta fiscal gerou um desgaste na relação entre os dois Poderes, que durou por mais de um mês.
Depois de idas e vindas, trocas de farpas e ataques nas redes sociais, o Planalto e o Congresso retomaram o diálogo e caminham para restabelecer as relações. As negociações acerca do tarifaço de Trump contra o Brasil são vistas como uma oportunidade para que a normalidade na convivência entre os Poderes volte mais rápido.
Nesse sentido, Motta disse que o Congresso está pronto para agir em consonância com o governo, caso seja necessário.
“Assim como aconteceu com a aprovação unânime da Lei da Reciprocidade, tanto no Senado quanto na Câmara, estamos novamente prontos para atuar ao lado do Poder Executivo. Nosso compromisso é garantir que, sempre que for necessária a ação do Parlamento, possamos responder com agilidade e firmeza para que o Brasil enfrente essa crise e saia dela ainda mais forte.”
A Lei da Reciprocidade foi aprovada pelo Congresso Nacional em abril deste ano. A nova legislação, segundo o presidente da Câmara, é um instrumento para “garantir a proteção do nosso país, dos nossos negócios”.
“Eu não tenho a menor dúvida que a nossa população entende que o Brasil não pode ser levado a situações que decisões externas interferiram na nossa soberania. O Brasil tem uma importância muito grande no cenário mundial e nós não temos a menor dúvida que, com união, com compromisso e muita responsabilidade, iremos superar esse momento” , declarou Motta.
O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin reforçou a união com o Congresso. “Estamos unidos para defender a soberania nacional. O presidente Lula tem enfatizado isso, e a separação dos poderes é pedra basilar do Estado de Direito, da democracia” , completou.
Alckmin também criticou a postura do governo americano em questões comerciais, vista como inadequada e injusta.
“Na questão comercial, entendemos que é um equívoco do governo americano, porque eles têm superávit na balança comercial com o Brasil. Dos 10 produtos que eles mais exportam, oito não pagam nada de imposto e a tarifa média de importação é 2,7%. Então, é totalmente inadequado, injusto e nós vamos trabalhar juntos para reverter essa situação”, assegurou.
Reunião com setores econômicos
Nesta quarta-feira (16), Alckmin também se reuniu com representantes de setores econômicos impactados pela taxação de Trump. Participaram do encontro integrantes do MDIC, o ministro da Secretaria-geral da Presidência da República, Márcio Macêdo; interlocutores da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI), do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SCS).
Do lado da indústria, estiveram presentes:
- Ricardo Alban, Presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI);
- André Passos, Presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM);
- Igor Calvet, Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA);
- Anna Paula Losi, Presidente-Executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC);
- Sérgio Nobre, Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT);
- Marcelo Carvalho, Presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT);
- Moacyr Tesch, Presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST);
- Flavio Werneck, Vice-Presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB);
- Sergio Luiz Leite, Vice-Presidente da Força Sindical;
- Tânia Zanella, Superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB);
- Renato Cunha, Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar/PE);
- José Hélio Fernandes, Vice-Presidente para Assuntos Políticos da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logísticas (NTC&Logística);
- Tatiana Farah, Superintendente de Relações Internacionais em Exercício (CNI);
- Marcelo Almeida, Diretor de Relações Governamentais da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES);
- Mário Sérgio Carraro Telles, Diretor Adjunto de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação (CNI);
- Ernesto Pereira, Diretor Parlamentar da CSB;
- Flauzino Antunes Neto, Diretor Nacional da CTB;
- Armando José Giacomet, Sócio Fundador da BrasPine.
-
O embaixador Celso de Tarso, chefe da Assessoria Especial Diplomática, também esteve na reunião. Após o encontro, o MDIC e o MRE divulgaram nota conjunta manifestando indignação com a decisão de Trump de taxar o Brasil.
Brasil envia carta aos EUA
O governo brasileiro enviou, na terça-feira (15), uma carta aos Estados Unidos sobre a taxação de 50% das importações de produtos do Brasil. O documento, divulgado nesta quarta-feira (16), foi encaminhado ao Secretário de Comercio dos EUA Howard Lutnick e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer.
No comunicado, o MDIC e o MRE detalharam que a imposição das tarifas terá impacto "muito negativo" em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco "uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países" .
"Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas", destacou a carta.
O governo ressaltou que tem atuado "de boa-fé" com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral. Além disso, reforçou os dados sobre o défict comercial que o Brasil acumula com os EUA.
De acordo com a carta, o Brasil tem registrado, ao longo dos últimos 15 anos, déficits significativos na balança comercial com os Estados Unidos, tanto na exportação de bens quanto na de serviços. Segundo dados do próprio governo norte-americano, esse saldo negativo acumulado já se aproxima dos 410 bilhões de dólares. Isso significa que, nesse período, o Brasil comprou muito mais dos EUA do que vendeu, o que representa uma relação comercial desequilibrada e desfavorável para a economia brasileira.
"Para fazer avançar nessas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta" , detalhou a carta.
Por fim, o documento reiterou o interesse do Brasil em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta de negociação.
"O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral" , concluiu.