O governo brasileiro formalizou nesta segunda-feira (7) um acordo com a China para a realização de estudos técnicos voltados à viabilidade de um corredor ferroviário ligando o litoral brasileiro ao Oceano Pacífico , por meio do porto de Chancay, no Peru .
A cerimônia foi realizada em Brasília, no Ministério dos Transportes, com participação virtual de representantes chineses.
O memorando de entendimento foi assinado entre a estatal brasileira Infra S.A. e o China Railway Economic and Planning Research Institute, braço estratégico da China State Railway Group.
O projeto envolve a construção de uma ferrovia transcontinental a partir de Ilhéus (BA), atravessando os estados de Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre, com extensão até o litoral peruano. A proposta inclui a integração com as ferrovias Fiol, Fico e Norte-Sul.
A rota prevista parte de Lucas do Rio Verde (MT), cruza a fronteira com a Bolívia, segue por Rondônia e Acre até alcançar o Pacífico. A infraestrutura será intermodal, com conexão a rodovias e hidrovias.
O modelo visa reduzir o tempo de transporte de cargas para a Ásia, com estimativas que apontam queda de 40 para 28 dias, segundo dados do governo peruano.
O projeto é uma das iniciativas previstas no eixo de integração sul-americana, definido em novembro de 2024 durante encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Xi Jinping .
A articulação começou em abril deste ano, com a visita de uma delegação chinesa às obras da Fiol e da Fico. Em maio, o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, e o ministro Rui Costa, da Casa Civil, aprofundaram o diálogo com autoridades chinesas em Pequim.
Além da Infra S.A., o Ministério do Planejamento e Orçamento e a Casa Civil também participam da execução. A previsão é de que os estudos técnicos sejam concluídos até o primeiro trimestre de 2026.
A partir deles, serão definidos os projetos executivos, modelos de concessão e linhas de financiamento. Os custos ainda não foram estimados.
Entre os objetivos do projeto estão o fortalecimento da malha logística brasileira, a ampliação das exportações de commodities como soja e minério de ferro e o reposicionamento do Brasil nas rotas comerciais com a Ásia.
A integração regional com países como Peru, Bolívia e Paraguai também está entre os focos do corredor.
O projeto se insere na agenda do Novo PAC e nas diretrizes da iniciativa Rotas de Integração Sul-Americana, lançada em 2023.
Em paralelo, o governo avança com um corredor rodoviário ligando Mato Grosso do Sul aos portos do Chile, por meio do Paraguai e da Argentina.
A ferrovia bioceânica também tem potencial para integrar o Brasil, de forma indireta, à Iniciativa Cinturão e Rota, liderada pela China, embora o país não tenha adesão formal ao programa.
O porto de Chancay, destino final da ferrovia, foi inaugurado em 2024 com investimentos chineses e é administrado pela estatal Cosco.
Posição do Brasil sobre o tema
Durante a cerimônia de assinatura, o secretário Leonardo Ribeiro afirmou que a parceria representa o início de uma jornada técnica, institucional e diplomática. Para Elisabeth Braga, diretora da Infra S.A., os estudos marcarão uma nova etapa para a infraestrutura ferroviária nacional.
O secretário do PAC, Maurício Muniz, apontou o projeto como parte da diretriz de cooperação estabelecida entre os dois governos.
O diretor-geral da China State Railway Group, Wang Jie, declarou que o acordo resulta da confiança mútua entre os países e reforça a cooperação no setor de transportes.
A previsão é que, além de ganhos logísticos e econômicos, o projeto gere impactos regionais, com ampliação da infraestrutura e criação de empregos nos estados atravessados.
A proposta inclui ainda a integração de áreas da Amazônia ao comércio internacional e a adoção de práticas logísticas com menor impacto ambiental.