O que dizem os indiciados pela PF por golpe de Estado

Entre as acusações estão a de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa

Braga Netto e Bolsonaro espero acesso ao processo para se pronunciarem de forma oficial
Foto: Valter Campanato/Agência Brasi
Braga Netto e Bolsonaro espero acesso ao processo para se pronunciarem de forma oficial

A Polícia Federal indiciou nesta quinta-feira (21) o  ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 36 ex-integrantes de seu governo por crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado.

Entre as acusações estão a de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa . O caso segue para análise do Supremo Tribunal Federal (STF) e, posteriormente, da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Alguns dos indiciados, responderam aos jornalistas nesta tarde, outros esperam ter acesso ao processo para se pronunciar e ainda há quem não respondeu a imprensa. 

As defesas dos indiciados se manifestaram sobre as acusações. Confira as declarações:

Jair Bolsonaro – Ex-presidente da República


Bolsonaro usou as redes sociais para comentar o indiciamento. Ele afirmou que precisa analisar o teor do relatório da PF e que aguardará orientação de seus advogados antes de emitir um posicionamento oficial. Antes, o ex-presidente fez uma públicação sobre uma entrevista para a coluna Paulo Cappelli

- "O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei", criticou Bolsonaro.

- "Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar", finalizou o ex-presidente.


Walter Souza Braga Netto – General da reserva e ex-ministro da Defesa


O advogado de Braga Netto repudiou a divulgação do relatório pela Polícia Federal e destacou que aguardará o acesso oficial às informações. "Adotaremos um posicionamento formal e fundamentado após recebermos os elementos informativos", afirmou.

Valdemar Costa Neto – Presidente do PL


Marcelo Bessa, advogado de Valdemar Costa Neto, foi direto: "Sem comentários. Não vamos comentar", afirmou ao ser questionado sobre o caso.


Almir Garnier Santos – Ex-comandante da Marinha


A defesa do almirante reiterou sua inocência e informou que ainda não teve acesso integral aos autos do processo.


Alexandre Ramagem – Deputado federal, ex-diretor da Abin


Ramagem emitiu uma nota extensa criticando duramente as investigações:


"A lógica investigativa foi alterada. Em vez de materialidade e autoria, começou-se pela escolha de alvos, imputando-lhes crimes e 'produzindo' provas posteriormente. Juiz natural, competência e devido processo legal foram relativizados. Onde isso irá parar? Excessos e perseguições estão mais que evidentes", declarou.


Tércio Arnaud Tomaz e Marcelo Costa Câmara – Ex-assessores de Bolsonaro


A defesa dos ex-assessores criticou os indiciamentos, afirmando que são baseados em "ausência de elementos concretos".

"Confiamos que o Ministério Público reconhecerá a necessidade de diligências complementares para evitar denúncias baseadas em elementos insuficientes ou especulativos", declarou a defesa.


Ronald Ferreira de Araújo Junior – Tenente-coronel do Exército


Os advogados de Araújo Junior afirmaram que o indiciamento "não condiz com a realidade dos fatos" e reiteraram que o cliente "não participou, a qualquer título, dos supostos crimes investigados".


"Confiamos na análise do Ministério Público e aguardamos o acesso ao relatório da PF para maiores esclarecimentos", disse a defesa.

Amauri Feres Saad – Advogado citado como "mentor intelectual" da minuta do golpe


A defesa de Saad destacou que não teve acesso ao relatório e criticou a divulgação pública da lista de indiciados.

"Causa espanto que a Polícia Federal disponibilize uma suposta lista de indiciados em seu site, desrespeitando o sigilo imposto pelo ministro Alexandre de Moraes", afirmou.

Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel do Exército 

Em resposta a TV Globo, o militar declarou que "reafirma seu absoluto compromisso com o Estado democrático de Direito e repudia veementemente qualquer alegação que o vincule a atos que visem sua abolição violenta, golpe de Estado ou organização criminosa."

A defesa de Castilho também disse que não há "provas substanciais que sustentem as acusações", além de que "tem mais de 31 anos de serviços dedeicados à segurança e ao bem-estar do Brasil."

José Eduardo de Oliveira e Silva, padre da diocese de Osasco

A  defesa do padre José Eduardo criticou o documento que indiciou 37 acusados de golpe de Estado. "Não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais realizadas pelo padre que possuem garantia de sigilo".

Marcelo Costa Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro

"Veementemente do indiciamento, pois entende que ele não se sustenta diante da ausência de qualquer elemento concreto que vincule o Coronel Marcelo Costa Câmara às condutas investigadas", disse a defesa de Marcelo Costa a TV Globo.

Divisão de tarefas e próximos passos

De acordo com a PF, os investigados agiam em grupos organizados para executar tarefas específicas, como desinformação, incitação de militares ao golpe, e ações jurídicas e operacionais.


O relatório foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, que decidirá se enviará o caso para a PGR. Caso a denúncia seja aceita, os acusados poderão se tornar réus no STF.

As defesas apontam falta de elementos concretos e acusam perseguição política. A próxima etapa será a análise pela Procuradoria-Geral da República, que decidirá se oferece denúncia contra os indiciados.

Como a legislação trata esses crimes


Todos os crimes listados têm penas severas e são voltados a proteger o regime democrático, a estabilidade do governo e a segurança institucional do país. Além disso, o sistema jurídico brasileiro permite que essas acusações sejam julgadas mesmo que as ações não tenham sido completamente realizadas.

Agora, as  acusações seguem para análise do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirão os próximos passos do processo.

Entenda o que é ser indiciado


O  indiciamento de um investigado ocorre quando o inquérito policial aponta pelo menos um indício de que ele cometeu certo crime.

A partir de evidências colhidas por diferentes meios de investigação - como depoimentos, laudos periciais e escutas telefônicas - o indiciamento é formalizado pelo delegado de polícia.

Quando o inquérito é concluído, a autoridade policial encaminha o documento ao Ministério Público que, se considerar que há provas contra o indiciado, apresenta uma denúncia à Justiça.

Mas, no caso de inquéritos que tramitam em tribunais superiores - como o de Bolsonaro -, o relatório da Polícia Federal é enviado ao ministro relator do caso, o responsável por supervisionar a investigação. Nesta apuração, é o ministro Alexandre de Moraes.

Segundo as regras internas do Supremo, uma vez emitidas as conclusões da PF, o relator envia o caso à Procuradoria-Geral da República, que pode decidir por apresentar uma denúncia formal à Justiça. Se a denúncia for aceita, os denunciados se tornam réus e passam a responder a ações penais na Corte.


Veja a lista de indiciados

  1. Ailton Gonçalves Moraes Barros
  2. Alexandre Castilho Bittencourt da Silva
  3. Alexandre Rodrigues Ramagem
  4. Almir Garnier Santos
  5. Amauri Feres Saad
  6. Anderson Gustavo Torres
  7. Anderson Lima de Moura
  8. Ângelo Martins Denicoli
  9. Augusto Heleno Ribeiro Pereira
  10. Bernardo Romão Correa Netto
  11. Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
  12. Carlos Giovani Delevati Pasini
  13. Cleverson Ney Magalhães
  14. Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
  15. Fabrício Moreira de Bastos
  16. Filipe Garcia Martins
  17. Fernando Cerimedo
  18. Giancarlo Gomes Rodrigues
  19. Guilherme Marques de Almeida
  20. Hélio Ferreira Lima
  21. Jair Messias Bolsonaro
  22. José Eduardo de Oliveira e Silva
  23. Laércio Vergílio
  24. Marcelo Bormevet
  25. Marcelo Costa Câmara
  26. Mário Fernandes
  27. Mauro Cesar Barbosa Cid
  28. Nilton Diniz Rodrigues
  29. Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
  30. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
  31. Rafael Martins de Oliveira
  32. Ronald Ferreira de Araújo Junior
  33. Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros
  34. Tércio Arnaud Tomaz
  35. Valdemar Costa Neto
  36. Walter Souza Braga Netto
  37. Wladimir Matos Soares


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