Em matéria não assinada publicada no dia 16/07/2020 (e, portanto, de responsabilidade presumida do diretor de redação) no link: https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2020-07-16/itamaraty-vai-promover-palestra-com-autor-de-teorias-da-conspiracao.html , este portal refere-se a mim como "autor de teorias da conspiração", com o claro intuito de atacar a minha imagem e a minha reputação profissional.
Desonestamente, caracteriza-me ainda como "defensor assíduo de Jair Bolsonaro. Com base em opiniões esporádicas por mim manifestas nas redes sociais, busca desqualificar a minha produção intelectual (que, na verdade, raramente trata de questões políticas brasileiras do momento), reduzindo-a a reles militância político-partidária. Ao fazê-lo, todavia, é o próprio portal que exibe o seu viés ideológico, bem como o hábito indecoroso de usar a notícia como pretexto para o assassinato da reputação daqueles que enxerga como adversários políticos.
A fim de justificar o estigma a mim atribuído, o responsável pela peça de difamação mal disfarçada de notícia cita uma (e apenas uma) das supostas "teorias da conspiração" das quais eu seria adepto: o Globalismo. É constrangedor notar como o autor da patacoada faz da própria ignorância um critério seguro para a avaliação da realidade.
O Globalismo é objeto conhecido desde, ao menos, a década de 1920, consagrando-se, sobretudo, a partir da Segunda Guerra. Pode-se seguramente dizer que, hoje, a quantidade de livros e artigos dedicados ao tema seria capaz de lotar as estantes de uma biblioteca pública. Uma obra recente, publicada pela editora da Universidade de Princeton, afirma por exemplo que "desde o início da Gerra, intelectuais americanos, britânicos e exilados diagnosticaram a emergência do globalismo com a condição definidora do período pós-guerra ".
Pesquisando o tema há uma década, este escriba admite não ter dominado nem 10% dessa literatura. Mas, ignorando tudo sobre o assunto (o qual, decerto, só conheceu de orelhada, reproduzindo psitacideamente a opinião dominante na província das redações), o autor da reportagem em tela acredita poder fulminá-lo com o rótulo de "teoria da conspiração". Como bem observou o filósofo Olavo de Carvalho: "O Brasil é o único país do mundo onde a ignorância é fonte de autoridade intelectual".
Por fim, é de se lamentar que, em vez de proceder a uma crítica intelectual séria dos meus artigos na Gazeta do Povo ou do meu livro A Corrupção da Inteligência (sucesso de público e de crítica), o Portal IG tenha preferido apequenar o debate por meio de maledicências dirigidas à pessoa do autor, numa tentativa tão irresponsável quanto inútil de prevenir o público contra o seu pensamento.
É de se lamentar não por mim, que não poderia ligar menos para a opinião dos semiletrados que hoje povoam as redações, mas pelo destino da outrora digna profissão de jornalista, e, mais geralmente, pelo estado lastimável da vida cultural no país. Como se vê, o diagnóstico que, no começo do século 20, o escritor Karl Kraus fez em relação ao contexto social austro-germânico, parece valer ainda mais para o Brasil contemporâneo: "Quando o sol da cultura está baixo, até os anões lançam longas sombras".