Reunião ministerial de Bolsonaro que embasou operação da PF
Reprodução/STF/PF
Reunião ministerial de Bolsonaro que embasou operação da PF

O general Augusto Heleno, antigo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) afirmou, em reunião com Jair Bolsonaro e ministros em julho de 2022, que tinha a intenção de infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas campanhas do então presidente (à reeleição) e de seu principal adversário na época, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

De acordo com a Polícia Federal (PF), Bolsonaro interrompeu a fala de Heleno e afirmou que conversaria com o general “em particular” sobre o que a Abin estava fazendo. A PF sugere, em seus relatórios, que o então presidente possivelmente verificou “o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin”.

As declarações do general constam no vídeo que a PF encontrou no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. As imagens foram tornadas públicas nesta sexta (9) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Confira o trecho:


Leia a conversa entre Heleno e Bolsonaro que indica que ex-presidente poderia saber do uso ilegal da Abin

O diálogo entre Bolsonaro e Heleno se inicia com o general afirmando que já havia conversado com o novo diretor da Abin sobre um "esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer".

"Dois pontos para tocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], novo diretor da Abin, nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer", declara o general. "O problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer um dos lados...", prossegue Heleno, até ser interrompido pelo então presidente.

Sério, Bolsonaro atravessa a fala do general e dispara que o assunto deve ser tratado em reunião privada.

"General, eu peço que o senhor não fale por favor. Peço que o senhor não prossiga mais na sua observação, não prossiga na sua observação. Se a gente começar a falar 'não vazar', esquece. Pode vazar. Então a gente conversa particular na nossa sala sobre esse assunto", diz Bolsonaro.

Com a reprimenda de Bolsonaro, Heleno leva a para outro tópico: a necessidade, segundo ele, de que o governo tomasse uma atitude antes do pleito, para evitar a vitória de Lula.

"O segundo ponto é que não tem VAR nas eleições. Não vai ter segunda chamada na eleição, não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva", disparou Heleno.

Operações da PF se entrelaçam

Nas últimas semanas, a PF tem investigado uma suposta organização criminosa que teria se instalado na Abin durante o governo Bolsonaro. Nas primeiras duas fases, as investigações tinham mirado o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carlos Bolsonaro.

As denúncias apontam para o monitoramento ilegal de autoridades públicas e outros cidadãos, utilizando ilegalmente um sistema para rastrear a localização de dispositivos móveis, como celulares, sem autorização judicial.

Com a fala de Heleno no vídeo divulgado pela PF, as operações sobre a "Abin paralela" e o suposto esquema para instaurar um golpe de Estado se aproximam. Isso porque, durante as investigações das últimas semanas, Bolsonaro afirmou que não tinha conhecimento sobre o esquema de espionagem ilegal na Agência.

Além disso, o diálogo entre os dois reforça o relatório da CPI das manifestações golpistas, divulgado em outubro do ano passado, em que a PF propõe que o enfraquecimento do órgão foi "proposital e está diretamente associado à tentativa de criação de um órgão paralelo de inteligência ― a “Abin paralela” ―, comprometido unicamente com os interesses do então presidente da República."

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