Ex-ministro de Bolsonaro afirmou que Carlos queria "Abin Paralela"

Em 2020, Gustavo Bebianno disse durante entrevista que "ficou preocupado" e que "aquilo também seria motivo para impeachment"; veja o vídeo da entrevista

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Gustavo Bebianno, ex-ministro de Bolsonaro, em 2019

O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, apontou em março de 2020 que Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) pretendia montar uma "Abin Paralela". Nesta segunda-feira (29), a  Polícia Federal (PF) cumpre mandados de busca e apreensão contra o vereador do Rio de Janeiro, "filho 02" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

As  investigações desta segunda ocorrem no âmbito da operação que apura o possível esquema de espionagem clandestina na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que teria ocorrido entre 2019 e 2021 sob a chefia do delegado  Alexandre Ramagem (PL-RJ).

"Um belo dia o Carlos me aparece com um nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela, porque ele não confiava na Abin", afirmou Bebianno durante em entrevista ao Roda Viva, doze dias antes de  morrer de infarto.

"O general Heleno foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas Heleno não é de confronto. A conversa acabou comigo e com o Santos Cruz [então ministro da Secretaria de Governo]", afirmou.

"Aconselhamos ao presidente que não fizesse aquilo de maneira alguma", disse Bebianno. "Muito pior que o gabinete de ódio, aquilo também seria motivo para impeachment. Depois eu saí, não sei se isso foi instalado ou não".

Gustavo Bebianno afirmou que lembrava o nome do delegado, mas não iria "revelar por uma questão institucional e pessoal". Bebianno e  Santos Cruz foram os primeiros ministros a deixarem o governo Bolsonaro, demitidos após protagonizarem embates com Carlos Bolsonaro.

"Abin Paralela"

As investigações da PF dizem respeito a uma  suposta organização criminosa que teria se instalado na Abin durante o governo Bolsonaro. Denúncias apontam para o  monitoramento clandestino de autoridades públicas e outros cidadãos, utilizando ilegalmente um sistema para rastrear a localização de dispositivos móveis sem autorização judicial.

O sistema em questão é o software First Mile, adquirido durante a gestão de Alexandre Ramagem na Abin. Esses monitoramentos ilegais teriam sido feitos para benefício pessoal dos envolvidos. 

Na última semana, a PF cumpriu 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares, como a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais.