A vereadora Maria Tereza Capra (PT), do município de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, teve o mandato cassado na madrugada deste sábado, 4, por repudiar a suposta saudação nazista realizada por manifestantes bolsonaristas na BR-163 , em frente ao quartel do Exército, em novembro do ano passado. A cassação, sob o argumento de quebra de decoro parlamentar, ocorreu por dez votos a um, tendo sido a única oposição o voto da própria vereadora. Votaram contra ela parlamentares do PL, PP, MDB, PSD e PDT.
A crítica da vereadora foi feita em uma rede social após o vídeo da suposta saudação nazista viralizar na internet. O caso ocorreu três dias depois da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando manifestantes bolsonaristas bloquearam diversas rodovias federais e estaduais, se opondo de maneira ilegal ao resultado das urnas. Por todo o Brasil, diversas pessoas usavam verde e amarelo e pediam "intervenção militar" e "intervenção federal".
"Os eleitores me cobraram sobre essa situação. Me pronunciei como vereadora e como cidadã. Fiquei chocada e indignada com o que vi. Então gravei um vídeo externando a minha opinião. Aquilo aconteceu depois que o ministro Alexandre de Moraes, [do Supremo Tribunal Federal], havia proibido os bloqueios e determinado a desobstrução das vias. Era um ato ilegal, atentatório a uma decisão judicial. E os manifestantes estavam lá com o braço estendido, naquele gesto em que todo o mundo conhece como um gesto nazista", diz Capra.
Votaram favorável à cassação: Carlos Agostini (MDB), Elói Bortolotti (PSD), Gilmar Baldissera (PP), Moacir Fiorini (MDB), Nélvio Paludo (PSD), Paulo Drumm (PSD), Ravier Centenaro (PSD), Valnir Scharnoski (PL), Vilmar Bonora (PSD) e Vanirto Conrad (PDT). Cris Zanatta (PSDB) não participou da sessão. O presidente da Câmara, Vagner Passos (sem partido), também não votou, afirmando que só se posicionaria em caso de empate.
Maria Tereza Capra explica que o argumento dos vereadores para defenderem a cassação dela é de que a crítica ao suposto gesto nazista feita se estenderia a toda a cidade de São Miguel do Oeste, sujando a imagem do município em associação ao nazismo. "Estão me culpando por ter sujado o nome da cidade, como se eu tivesse ofendido a cidade inteira, mas naquele local não estava a cidade inteira", contra-argumenta. Ainda segundo ela, pouco tempo antes do caso ocorrer uma célula neonazista havia sido descoberta no município. "Santa Catarina tem um problema grave nesse sentido, porque tem muitas células, tem pessoas que se autointitulam", diz.
A vereadora afirma que entende a cassação como perseguição política, já que seria uma voz de esquerda ativa. "Eu era a única vereadora da esquerda, a única que defendia o Lula na Câmara. O período eleitoral foi bem difícil. Tivemos listas de boicotes, eu estava em uma delas. A minha atuação na Câmara sempre foi muito forte, são 10 anos. Sempre fui a defensora das minorias. Usaram minha manifestação para me tirar da Câmara por questão político-ideológica", afirma.
Capra vai tentar recorrer da decisão e deve levar o caso para as instâncias superiores da justiça. Ela é defendida por advogados do grupo Prerrogativas, ligado ao PT.