Lula e Rodrigo Pacheco
Reprodução: Ricardo Stuckert - 09/11/2022
Lula e Rodrigo Pacheco

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) , afirmou nesta sexta-feira (6) que o  presidente Lula da Silva (PT) demonstrou "experiência" e "capacidade de aglutinação" durante a primeira reunião com os ministros do governo. 

No Twitter, o parlamentar disse ainda que haverá harmonia entre os poderes.

"De fato, o Congresso merece respeito porque tem compromisso com as soluções para o país. O presidente e seus ministros poderão contar com isso. Vamos trabalhar muito para que a independência entre os Poderes seja a mais harmônica possível", disse Pacheco.

Reunião ministerial

Lula se encontrou na manhã desta sexta-feira com os 37 ministros do atual governo. ELe afirmou que é obrigação de todos manter uma boa relação com o Congresso Nacional.

"É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso e, por isso cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado, cada deputada, cada senador, cada senadora que o buscar", afirmou Lula.

Leia o discurso de Lula na íntegra

“Hoje, anos depois, nós estamos de volta com o compromisso de unificar o povo brasileiro, acabar com o ódio. Não acabar com as divergências, mas acabar com o ódio. Fazer política de forma civilizada, e, ao mesmo tempo em que a gente vai unificar esse país em torno dos interesses do próprio país, a gente vai ter que reconstruir esse país.

Quem já leu o material feito pela coordenação da transição, liderada pelo companheiro Alckmin, percebeu que esse país foi semi destruído naquilo que foram as políticas sociais, educacionais, políticas de saúde que nós fizemos. Políticas de investimentos tanto em rodovias quanto em ferrovias, quanto no Minha Casa Minha Vida… Tudo isso foi paralisado e nós, então, estamos com o compromisso de reconstruir esse país.

Mas é importante a gente ressaltar o momento em que se deu essas eleições, as eleições mais difíceis que todos nós participamos, uma quantidade de erros dificeis de serem mensuradas em reais. Quem sabe seja necessário mensurar em dólar a quantidade de dinheiro que foi utilizado na perspectiva de perpetuar um governo autoritário.

Um governo responsável pela morte de grande parte das 700 mil pessoas que morreram na covid por desleixo, por desrespeito e por muita ignorância do conjunto do governo. Então vocês sabem que a nossa tarefa é uma tarefa árdua, mas é uma tarefa nobre.

É uma tarefa nobre, porque a gente vai ter que entregar esse país melhor, esse país mais saudável do ponto de vista da saúde mesmo, mais saudável do ponto de vista do ganho da massa salarial, mais saudável do ponto de vista dos pequenos e médios empreendedores deste país, dos pequenos e médios produtores rurais, mais saudável do ponto de vista da educação. E mais saudável do ponto de vista das civilidades. Esse país vai voltar a viver democracia, e isso foi mostrado na nossa Posse.  

Eu recebi um telefonema de uma pessoa importante que vocês conhecem, talvez um dos melhores escritores do país, do Fernando de Moraes. Fernando de Moraes me telefonou para dizer o seguinte: ele tinha participado da posse na Argentina em 1972. Ele dizia que aquela posse da Argentina tinha sido a posse mais bonita que ele tinha visto. E depois da nossa posse, falou: ‘vocês bateram de 10 a 0 na posse que eu achava mais bonita da história da eleição no mundo’. E eu penso que nenhum de nós, nenhum de nós jamais tinha visto um povo emocionado, um povo motivado como nós vimos na nossa posse. Há muito tempo a gente não via tanta alegria, tanto sorriso estampado na fisionomia de homens, mulheres, crianças, velhos… 

Ou seja, as pessoas parecem que estavam se encontrando consigo mesmo, e nós queremos que isso aconteça todo dia. É preciso acabar com as brigas familiares. Durante esse processo, nos últimos 4 anos, teve famílias que pais não conversavam mais com filhos, que sogro não conversava mais com nora, que nora não conversava mais com a sogra, que filho não conversava com o pai, irmão não conversava com o irmão, primo não conversava com o primo. Tudo estabelecido pelo ódio que foi colocado em prática nesse país. 

E a nossa posse mostrou que é possível a gente fazer esse país voltar a sorrir. É possível fazer essas pessoas voltarem a sonhar e a nossa obrigação é de transformar esse sonho em realidade. Esse é o compromisso de cada companheiro e de cada companheira que assumiu este ministério. Nós não somos um governo de um pensamento único. Não somos um governo de uma filosofia única, nós não somos um governo, sabe, de apenas pessoas iguais. Nós somos um governo de pessoas diferentes e o que é importante é que a gente pensando diferente tem que fazer um esforço para que na construção do nosso processo de reconstrução desse país, a gente pense igual, a gente construa igual.  

Eu fico muito feliz quando eu vejo um homem do agronegócio como ministro da agricultura, como companheiro Fávaro. Ou seja, eu penso que o Fávaro é a perspectiva que nós temos de fazer com que as pessoas sérias, os homens de negócios do agronegócio, os empresários de verdade, que sabem a responsabilidade da produção de alimento nesse país, que sabem a necessidade da produção sem precisar ofender ou adentrar a Floresta Amazônica, ou o Pantanal ou qualquer outro bioma que tem que ser protegido. Esse empresário que produz de forma responsável será por nós muito respeitado e muito bem tratado.  

Agora, aqueles que quiserem teimar de continuar desrespeitando a lei, invadindo o que não pode ser invadido, usando agrotóxico que não pode ser usado, esse a força da lei imperará sobre eles, e nós vamos exigir que a lei seja cumprida, porque nesse país tudo vale, a única coisa que não vale é o cidadão bandido achar que pode de respeitar a boa vontade da sociedade brasileira, a nossa Constituição e a nossa legislação.  

Todos nós sabemos o compromisso extraordinário que nós assumimos durante a campanha com a volta do crescimento deste país, com a geração de empregos e com o crescimento da massa salarial. É possível a gente fazer a economia voltar a crescer. É possível a gente voltar a crescer com muita responsabilidade. É possível a gente voltar a crescer com distribuição de renda e de riqueza e é possível a gente gerar emprego em que garanta o trabalhador um pouco de seguridade social.  

Nós queremos efetivamente investir muito no fortalecimento do sistema cooperativo neste país. Queremos investir muito no micro e pequeno empreendedor. Queremos investir muito no pequeno e médio empresário, mas nós queremos que o trabalhador tenha um mínimo de seguridade social, que ele tenha garantia de previdência, que ele tenha garantia de registro, que ele tenha a garantia de que quando, por motivo qualquer, ele estiver impossibilidade de trabalhar, o Estado garanta a ele o mínimo de segurança, porque senão a gente não terá o mundo de trabalho sadio e saudável. A gente terá o mundo de barbárie.

Todo mundo sabe o nosso compromisso com a educação, e na educação eu fiz questão de convidar o companheiro Camilo para ser o ministro da Educação, porque dentre todos os Estados brasileiro, o Ceará é o Estado que, ao longo de muitos anos, vem tendo a mais importante história de educação fundamental e de ensino básico. Ou seja, inclusive, talvez tendo Estado com mais, tanto com mais quantidade de escolas em tempo integral. E quando eu trouxe o Camilo, eu também queria trazer a Isolda, que é a secretária nacional de Educação Básica, porque sobre as costas dela, pesa também a responsabilidade de ter sido uma grande educadora e, portanto, meu caro Camilo, você sabe que você tem responsabilidade.  

Semana que vem eu já quero ter uma reunião com você para discutir o que que a gente vai visitar, sabe? De reforma em escola, porque nós temos 4.000 obras na área da educação paralisadas. Eu não sei se é creche, não sei se a universidade, não sei se é instituto federal, mas o que tiver a gente vai ter que colocar a mão na massa para que a gente possa produzir e reconstruir, melhorando a educação, gerando emprego e pagando os salários que o povo brasileiro precisa ganhar, porque na verdade, o que dá mais orgulho ao povo é trabalhar e pelo seu trabalho receber seu salário e sustentar sua família.  

Essa é a forma mais dignificante para um trabalhador e uma trabalhadora conseguir sobreviver. Nós sabemos disso, a responsabilidade que está nas suas costas. 

Na área da saúde, essa é uma área que passa ano, entra ano, passa ano entrando e a saúde sempre está um pouco ausente daquilo que é o sonho do povo brasileiro. Nós chegamos a avançar. Nós chegamos com Farmácia Popular com o Brasil Sorridente, com Samu. Nós chegamos com Mais Médicos, teve um avanço muito importante nesse país que simplesmente foi destruído em nome de combater qualquer coisa, em nome de tirar, na verdade, aquilo que estava dando certo para o povo daquelas cidades pequenas que não vêm médico.  

Não sei se você sabe, mas todo mundo aqui sabe, porque todo mundo aqui já foi governador, já foi prefeito, já foi deputado. Todo mundo sabe que tem cidade nesse país que passa anos sem ver um médico e muitas pessoas morrem sem ser atendidas pelo tal do especialista, porque ele não tem vaga. Às vezes ele vai no médico, às vezes ele vai numa UPA, é consultado, pede uma consulta no especialista. Ele vai marcar marca-se para 12 meses, para 13 meses, para 9 meses. Às vezes a pessoa morre sem ter direito a esse médico.  

Se nós não resolvermos esse problema, nós não estamos fazendo jus ao voto e a expectativa que este povo depositou em nós. Por isso, meus queridos companheiros e companheiras, nós estamos fazendo essa reunião aqui. Eu sei que nenhum de vocês ainda montou o governo. Nenhum de vocês ainda montou um ministério. Só foi dado a vocês o direito de escolher o secretário executivo e o chefe de gabinete.  

É importante que até, possivelmente o depois do que o Rui vai falar, até o dia 24, quem sabe já tenhamos o governo todo montado. Eu só queria que vocês levassem em conta, 1º, eu não tenho vergonha de dizer que nós vamos montar o governo com gente da política muito competente. 

Vamos montar o governo com gente técnico muito competente. Eu não faço distinção e não quero criminalizar a política. Todo mundo sabe da nossa responsabilidade. Todo mundo sabe que a nossa obrigação é fazer as coisas corretas, é fazer as coisas da melhor forma possível. Quem fizer errado, sabe que tem só um jeito. A pessoa será simplesmente da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo, e, se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e na própria Justiça.

Eu já carreguei na pele muitas coisas ruins. Eu já presidi esse país 8 anos e fiz muita reunião nessa mesa. A mesa era menor, não era tão grande e tão sofisticada, era mais rústica, mas essa aqui está mais bonita. Eu só tenho um compromisso com esse país: 1º ser honesto com o povo brasileiro e ser leal e honesto com vocês. Eu 1º sou grato a todos vocês terem aceitado o convite que foi feito para vocês fazerem parte do governo. 2º, muito de vocês são resultado de acordos políticos, porque não adianta a gente ter o governo tecnicamente mais formado em Harvard possível, e não ter 1 voto na Câmara dos Deputados, não ter 1 voto no Senado. É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda, nós não mandamos no Congresso.  

Nós dependemos do Congresso e por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender, atender bem cada deputado, cada senador ou cada senador aqui buscar. Porque se não, quando a gente vai pedir um voto, que a gente vai falar com o deputado ou com o senador, ele diz: ‘não, eu não vou votar, porque eu fui em tal ministério e nem me receberam. Me deram um chá de cadeira de 4 horas. O ministro nem serviu um cafezinho, uma água’.  

Eu não quero isso. Nós temos que saber que nós é que precisamos manter uma boa relação com o Congresso Nacional e cada um de vocês, ministros, tem obrigação de manter a mais harmônica relação com o Congresso Nacional. Não tem importância que você é diverge de um deputado, um senador. Quando a gente vai conversar, a gente não está propondo casamento, a gente está propondo aprovar uma tela ou fazer uma aliança momentânea em torno de algum assunto que interessa ao povo brasileiro. E nós, eu quero dizer para vocês que vou fazer a mais importante relação com o Congresso Nacional que eu já fiz. 

Eu já tive 8 anos na presidência e eu quero dizer aos líderes, ao Jaques Wagner, ao Guimarães, a Randolph que dessa vez vocês, não se preocupem que vocês vão ter um presidente disposto a fazer tantas quantas conversas for necessário com as lideranças, com os partidos políticos, com o presidente Rodrigo Pacheco e com o presidente Arthur Lira. 

Não tem veto ideológico para conversar e não tem assunto proibido em se tratando de coisas boas para o povo brasileiro. Então eu quero que vocês saibam que vocês contem comigo, porque eu tenho consciência que não é o Lira que precisa de mim. É o governo que precisa da boa vontade da presidência da Câmara, não é o Pacheco que precisa de mim, é o governo que precisa de um bom relacionamento com o Senado e assim nós vamos governar esses 4 anos.  

Eu tenho dito para todo mundo que esse será o mandato da minha vida. Todo mundo sabe que eu tenho uma obsessão. Eu tenho uma obsessão para acabar com a fome nesse país. Eu tenho uma obsessão para garantir e melhorar a saúde para esse povo. E eu tenho obsessão, porque eu conheço muita gente que morreu com receita no criado na beira da cama e não tinha R$ 50 para comprar remédio. 

E agora a questão da educação. Nós precisamos de uma vez por toda dar um salto de qualidade no Ensino Fundamental e no Ensino Básico. É preciso que a gente tome consciência. Se a nossa criança não for bem formada no ensino fundamental, no 1º, no 2º, no 3º, no 4º, na 5ª série, se ele não for bem formado, ele terá mais dificuldade de amanhã se transformar numa pessoa intelectualmente mais preparada, num profissional mais preparado.

E o Brasil precisa dessa gente bem formada, porque o Brasil não pode passar mais um século exportando minério de ferro e só exportando soja ou milho. Nós temos que exportar conhecimento, exportar inteligência, exportar coisa mais sofisticada com valor agregado para que esse país dê um salto. Deixe de ser um país em desenvolvimento e passe definitivamente a ser um país desenvolvido, fazendo parte daqueles países que se orgulham de ter o seu povo tomando café, almoçando e jantando todo dia e ter o seu povo com qualidade educacional, de ter o seu povo com qualidade, sabe, de moradia, de ter o seu povo com qualidade de vida, que é o que todos nós prometemos durante toda nossa vida. Por isso, companheiros e companheiras, nessa 1ª nossa reunião, Margareth, se prepare, se prepare, porque nós vamos ter que fazer uma revolução cultural neste país. 

Se prepare que nós vamos fazer. Esse povo precisa de cultura, porque parte da violência que existe nesse país, ela não existe por falta de polícia, Flávio Dino, ela existe pela ausência do Estado no cumprimento de suas obrigações. 

Está faltando escola, está faltando saúde, está faltando lazer, está faltando esporte, está faltando quase tudo. 

Um jovem sem área de lazer, um jovem que mora num barraco de 3 ou 4 m² que quando abre a porta, não tem 1 m² para ele brincar. Que jovem nós estamos criando? Que brasileiro ou brasileira saudável a gente está criando? Então o Estado, ao invés de culpar o povo pobre da periferia, a gente tem que ocupar a ausência do Estado e nós vamos fazer um esforço companheiros para estar presente onde o povo precisa de nós. 

Este é um compromisso que eu não arredarei o pé, e por isso eu digo todo dia: vocês vão ver um senhor de 77 anos com energia de 30 só e que não vai ter 1 minuto de cansaço enquanto a gente não conseguir resolver os problemas dessa sociedade. Nós já provamos uma vez que é possível. Nós já provamos. Esse país já foi a 6ª economia do mundo, esse país já aumentou o salário-mínimo em 74%.  

Esses dias eu fui conversar com uma pessoa que diz: ‘olha, mas agora foi bancarizado 16.000.000 de pessoas’. E eu disse: mas no meu governo foi bancarizado 70.000.000 de pessoas.’ Nós colocamos uma Argentina, Colômbia dentro do sistema bancário, sabe, com mulheres que catam papel, com o pessoal da reciclagem, com o povo de rua abrindo conta na Caixa Econômica Federal.  

Você tem que ver Zé Múcio, o que uma mulher chorou ao receber o cartãozinho dela da Caixa Econômica, porque ela abriu uma conta. Coisa que para nós não tem nenhum valor, para o povo pobre tem um valor incomensurável, por isso, companheiros, eu vou passar a palavra para o companheiro Geraldo Alckmin, que além de ministro, além de coordenador da transição, virou ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.  

Daqui a pouco ele tem mais poder do que o presidente da República e eu vou passar a palavra para o companheiro Geraldo.  

Obrigado, companheiros, obrigado. Estejam, certos de que eu estarei apoiando cada um de vocês nos momentos bons e nos momentos ruins. Não deixarei nenhum de vocês no meio da estrada. Não deixarei nenhum de vocês. Vocês foram chamados porque tem competência, vocês foram chamados porque foram indicados pelas organizações políticas que vocês pertencem, e eu respeito muito isso. E, portanto, estejam certos de que vocês terão em mim, se possível, um irmão mais velho, se possível um pai.  

Tratarei vocês como a mãe trata os filhos, com muito respeito, muita educação e exigindo muito trabalho de cada um de vocês, de cada uma de vocês. Obrigado companheiro com a palavra, o nosso querido companheiro Geraldo Alckmin.”

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