Cabina de votação com a nova urna modelo UE2020 é apresentada em seção eleitoral simulada no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro
Fernando Frazão/Agência Brasil - 29/09/2022
Cabina de votação com a nova urna modelo UE2020 é apresentada em seção eleitoral simulada no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro

A Câmara dos Deputados aprovou a urgência do Projeto de Lei n° 96, que prevê a punição aos institutos de pesquisas que apresentarem erros discrepantes nos resultados das urnas . A especialista em ciência de dados com doutorado pela USP , Paula Oliveira, aponta que as empresas vêm cometendo equívocos durante as eleições .

Ao Portal iG, Paula explica que os institutos e os contratantes usam o período eleitoral para minimizar os equívocos. No entanto, ela aponta que os erros vêm ocorrendo de dois em dois anos.

“É nesse momento que os nossos mecanismos de defesa agem para gerar a sensação de que não fomos tão influenciados. Mas é evidente que os erros foram significativos e que influenciam os resultados. A questão é que esse ciclo se repete a cada dois ou quatro anos, como se fosse a primeira vez. Em geral, com os mesmos atores, tanto os contratantes, quanto os veiculadores, os contratados e realizadores das pesquisas”, observa.

As reclamações das pesquisas eleitorais não são fenômenos recentes. Em 1986, Franco Montoro, ao disputar a prefeitura de São Paulo contra Fernando Henrique Cardoso, pediu aos seus apoiadores que não respondessem aos institutos. À época, as empresas indicaram a vitória de FHC, no entanto, o resultado final deu Montoro como vencedor.

Em 1998, o PT criticou os institutos de pesquisa. Na ocasião, Marta Suplicy aparecia em terceiro lugar com poucas chances de chegar ao segundo turno. A cúpula petista disse que muitos eleitores migraram para Mário Covas, que enfrentou Paulo Maluf na segunda fase da corrida eleitoral. Marta ficou fora do segundo turno por menos de cem mil votos.

Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que as pesquisas estavam erradas e ele venceria no primeiro turno. À época, as empresas explicaram que identificaram a movimentação pró-Bolsonaro no primeiro turno, o que acabou acontecendo.

Diante de todas as desconfianças,  os institutos foram acusados de errar seus resultados. Porém, as empresas dizem que os números de Lula (PT), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) ficaram dentro da margem de erro, enquanto o erro ocorreu em torno do atual presidente. No entanto, a explicação é que ocorreu uma movimentação de voto útil a favor do chefe do executivo federal.

Só que a justificativa não convenceu o Congresso Nacional, tanto que pautou o projeto de punição aos institutos que errarem os resultados das urnas fora da margem de erro declarada.

Especialista dá seu ponto de vista

Paula aponta que os problemas com os resultados das pesquisas não são recentes, já que o projeto que corre na Câmara foi protocolado em 2011.

“Depois de tantos anos de profissão, não consegui entender como os institutos conseguem inferir sobre os 212 milhões de brasileiros, a partir de amostras de, mais ou menos, 3.000 (três mil) pessoas. Tecnicamente, isso só seria possível às custas de margens de erro bem maiores do que os 2% que costumam veicular. Matemática ou estatisticamente, considerando o tamanho e a diversidade da população brasileira, em princípio, esses números parecem incompatíveis”, esclarece.

A cientista aponta que é preciso que os institutos sejam regulamentados e fiscalizados pelos seus serviços prestados. “Supondo uma situação de total isenção de quem contrata e de quem realiza as pesquisas, acredito que os institutos devam investir muito no aprimoramento dos seus métodos e que talvez tenham que assumir maiores custos operacionais para nos oferecer mais qualidade e confiança”, conclui.

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