Thiago Calil

Debate tem Lula e Bolsonaro treinados para embate e troca de ofensas

Presidente e candidato petista conseguiram manter o controle dentro da estratégia de cada um, apesar do forte ataque adversário

Foto: Reprodução/TV Globo - 28.10.22
Lula e Bolsonaro ficaram frente a frente no último debate de 2022

Faltou futuro e sobrou passado no último debate entre os presidenciáveis na eleição de 2022. Jair Messias Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontraram nos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro, na noite desta sexta-feira (28), para um embate decisivo para ambos antes do segundo turno. Com o clima tenso entre os dois, eles trocaram ofensas desde o primeiro minuto e sobrou até para William Bonner, mediador do programa.

Em uma de suas falas durante o primeiro bloco, o presidente se disse perseguido pelas instituições e a imprensa. "O sistema todo está contra mim: televisão, tribunal superior. O TSE toma conta de tudo", disse Bolsonaro. Em uma crítica à Globo  em um debate sobre corrupção, o candidato à reeleição relembrou o início da entrevista de Lula ao “Jornal Nacional”. "Você dizer que foi absolvido, só se foi pelo Bonner. Eu acho que o Bonner vai ser indicado para ser ministro do STF num governo seu. Você foi 'descoordenado' por um amigo do STF. Você é um bandido, Lula!", atacou Bolsonaro.

A provocação fez com que Bonner, ao final do bloco, tivesse uma espécie de direito de resposta para ele mesmo. “Eu de fato disse que o Lula não deve nada à justiça. Mas, como jornalista, não digo coisas da minha cabeça, mas em decisões fundamentadas do Supremo Tribunal Federal”, explicou o apresentador.

Quem ajudou mais

A pauta econômica e o combate à fome foram destaques diversas vezes ao longo do debate. Os candidatos ficaram em uma disputa entre Auxílio Brasil e Bolsa Família, programas assistenciais das gestões Bolsonaro e do PT, respectivamente. Ao ser questionado por Lula sobre a população passando fome, o presidente debochou. “Pega essas pessoas que estão passando fome, entra em contato com elas que a gente coloca no Auxílio Brasil”, disse o chefe do executivo. “Você é favorável que o povo passe fome para você chegar no poder e ficar posando de herói”, atacou.

Ao longo do debate, Lula atacou Bolsonaro chamando-o de “mentiroso” e “descompensado”. Em um dos duelos, o ex-presidente se dirigiu à câmera e também recorreu ao deboche. “Pai, perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem. Se tivesse uma mínima noção de política externa ele perceberia o significado de exportar engenharia. Ele poderia ler o [jornal] Valor para não falar tanta sandice”, disse Lula.

No primeiro debate do segundo turno, Bolsonaro chegou a encostar no petista, deixando o ex-presidente nervoso. Desta vez, Lula usou a tática de, quando não estava falando, ficar atrás do púlpito. O candidato do PL tentou refazer a estratégia. “Fica aqui, rapaz”, falou. O ex-presidente deu as costas e rebateu: “Não quero ficar perto de você” .

Em outro embate, Lula resgatou um discurso de 1992, onde Bolsonaro defendia a distribuição de pílulas de aborto. "Falou isso ou não?", questionou o petista. "Eu posso ter mudado", se defendeu o presidente, que chamou o adversário de "abortista"

A ação de Roberto Jefferson, que resistiu à prisão e atirou contra a Polícia Federal, a reportagem da Folha de S.Paulo que dizia que Paulo Guedes estudava desrelacionar o reajuste do salário mínimo à inflação , as compras de vacinas durante a pandemia de Covid-19 também pautaram discussões entre os presidenciáveis.

"Lula, você devia estar em casa. Está recém-casado. Cuida da tua vida aí! O que que fica para os jovens do Brasil você disputando uma eleição? Que o crime compensa?”, questionou Bolsonaro. Lula, por sua vez, relembrou os sigilos decretados pelo atual presidente. "O cidadão transforma tudo em sigilo. 100 anos, 50 anos, 20 anos. A gente vai saber porque transformou em sigilo, porque os pastores que entravam na sala, para você é tudo escondido."

Nas considerações finais, Bolsonaro se atrapalhou e pediu votos para "cumprir mais um mandato de deputado". O presidente imediatamente percebeu a gafe e se corrigiu.