Nos discursos de comemoração ao Bicentenário da Independência, o presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou um tom mais moderado em relação aos desfiles do 7 de Setembro do ano passado. Neste ano, o mandatário participou de eventos oficiais e atos de campanha em Brasília e no Rio de Janeiro.
Os ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, que antes eram escancarados, este ano foram substituídos por críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) , com quem o mandatário disputa a eleição ao Planalto.
Nas falas de hoje, o chefe do Executivo pediu votos ao público, criticou as pesquisas eleitorais e puxou um coro gritando "imbrochável" , em Brasília.
O mandatário começou o dia acompanhando o tradicional desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios e discursou na capital, citando indiretamente o Partido dos Trabalhadores ao afirmar que o país, poucos anos atrás, estava "atolado em corrupção e desmando".
Logo no primeiro discurso, o presidente direcionou sua fala à campanha eleitoral, sugerindo que o brasileiro corre o risco de perder a "liberdade" e mencionando uma suposta "luta do bem contra o mal", afirmando que o "mal pretende voltar à cena do crime", em referência ao petista.
Já buscando apoio do eleitorado feminino — de quem Bolsonaro tem maior rejeição, de acordo com as pesquisas eleitorais —, ele aproveitou o momento para elogiar a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que o acompanhou durante os eventos. O mandatário disse que a esposa é uma "mulher de Deus e da família".
Na sequência, puxou um coro gritando "imbrochável" com os apoiadores. O momento foi visto com desagrado por outros políticos, que chamaram o episódio de "vergonha" .
Ainda em Brasília, o presidente citou algumas datas marcantes da história do Brasil, como 1964, ano do golpe militar, que ele disse que pode se repetir em 2022.
"Seguramente passamos por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 35, 64, 16 e 18. Agora em 22. A história pode repetir. O bem sempre venceu o mal. Estamos aqui porque acreditamos no nosso povo e o nosso povo acredita em Deus", afirmou.
Ato no Rio de Janeiro
Após a solenidade em Brasília, o presidente se dirigiu ao Rio de Janeiro, onde participou de uma motociata e realizou um discurso de 17 minutos na orla de Copacabana. No evento, o mandatário mencionou as "quatro linhas da Constituição" e fez ataques diretos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Não sou muito educado, falo palavrões, mas não sou ladrão", afirmou Bolsonaro, que não citou o nome de Lula, mas se referiu a ele como "quadrilheiro de nove dedos" que quer "voltar à cena do crime" e deve ser, na visão dele, "extirpado da vida pública".
Durante a fala na Zona Oeste do Rio, o mandatário defendeu os empresários alvos da Polícia Federal (PF) , acusados de trocar mensagens que diziam que um "golpe" seria melhor do que um novo mandato do ex-presidente Lula.
"Hoje estive com empresários acusados de golpistas, pelo amor de Deus, não tiveram nada mais do que sua privacidade violada”, defendeu o presidente. “Quero que cada vez mais vocês tenham liberdade para decidir seu futuro. Somos escravos de nossas decisões."
Megacomício eleitoral
Após a participação de Bolsonaro nos eventos deste 7 de Setembro, a área jurídica da chapa encabeçada por Lula informou que vai entrar com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para investigar o presidente por "abuso de poder econômico e político" .
De acordo com eles, o mandatário usou a comemoração do Bicentenário da Independência para fazer um "megacomício" eleitoral.
Presidenciáveis criticaram Bolsonaro
A senadora Simone Tebet (MDB) chamou o atual mandatário de 'patético' e disse que se sente "envergonhada e desrespeitada" após Bolsonaro gritar "imbrochável" para ele mesmo durante ato em Brasília.
"Vergonhoso e patético! No dia da Independência do Brasil, o Presidente mostra todo seu desprezo pelas mulheres e sua masculinidade tóxica e infantil. Como brasileira e mulher, me sinto envergonhada e desrespeitada", afirmou Tebet nas redes sociais.
Além de pária internacional devido à falta de segurança e estabilidade política, agora o país também vira motivo de chacota pelas falas machistas do seu líder, que deveria dar exemplo. O Brasil não merece o governo que tem! https://t.co/fZkC2mWF9Q
— Simone Tebet (@simonetebetbr) September 7, 2022
Soraya Thronicke, candidata à Presidência pelo União Brasil também se manifestou sobre a fala do presidente. Segundo a senadora, ser imbrochável "não interessa ao povo brasileiro".
"Divorciado do respeito à data, em pleno 7 de Setembro, o presidente insiste em propagar que é imbrochável - informação que, sinceramente, não interessa ao povo brasileiro", escreveu no Twitter.
Divorciado do respeito à data, em pleno 7 de Setembro, o presidente insiste em propagar q é imbrochável - informação que, sinceramente, não interessa ao povo brasileiro. O que o Brasil precisa, mesmo, é de um presidente incorruptível. Bolsonaro prima pela desqualificação.
— SorayaPresidente (@SorayaThronicke) September 7, 2022
O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou, nas redes sociais, que Bolsonaro é um "imbecil e criminoso" e usou o 7 de Setembro para fazer campanha eleitoral.
"Bolsonaro transformou o 7 de Setembro dos 200 anos da independência no mais desavergonhado comício eleitoral já feito neste país. E houve outras transgressões políticas, institucionais e morais seríssimas. Os brasileiros cobram uma ação da justiça!", disse Ciro.
Bolsonaro transformou o 7 de Setembro dos 200 anos da independência no mais desavergonhado comício eleitoral já feito neste país. E houve outras transgressões políticas, institucionais e morais seríssimas. Os brasileiros cobram uma ação da justiça!
— Ciro Gomes 12 (@cirogomes) September 7, 2022
Já o ex-presidente Lula disse, em vídeo publicado nas redes sociais, que Bolsonaro utilizou o dia da Independência para atacá-lo e não para "discutir os problemas do Brasil".
"O presidente, ao invés de discutir os problemas do Brasil, tentar falar para o povo brasileiro como é que ele vai resolver o problema da educação, da saúde, do desemprego, ele tenta falar de campanha política e tenta me atacar".
Nunca utilizamos um Dia da Pátria para campanha eleitoral. Ao invés de discutir os problemas do Brasil, Bolsonaro me ataca, ao invés de explicar como a sua família juntou 26 milhões em dinheiro vivo para comprar 51 imóveis. O Brasil precisa de amor, não de ódio. pic.twitter.com/d4cx4RxTJU
— Lula 13 (@LulaOficial) September 7, 2022
Bolsonaro acompanhado
Além da primeira-dama, Michele Bolsonaro, o general Braga Netto, o governador do estado, Cláudio Castro (PL), e o senador Flávio Bolsonaro (PL) estiveram ao lado do presidente no Rio de Janeiro.
O empresário Luciano Hang, o deputado Daniel Silveira, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o pastor Silas Malafaia também acompanham o chefe do Executivo.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG.