Na tentativa de impulsionar sua aprovação entre as mulheres a 33 dias das eleições, o presidente Jair Bolsonaro recebeu no Palácio da Alvorada cerca de 60 pastoras e mulheres de lideranças religiosas para um culto nesta terça-feira.
A agenda de campanha foi intermediada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e acontece na mesma semana em que Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães, atitude avaliada como um erro por aliados.
Depois de cerca de 2h30 de culto, as religiosas participaram com Bolsonaro e Michelle de confraternização. Entre os presentes estavam a ex-ministra e candidata ao Senado Damares Alves (Republicanos-DF) e a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Britto, que chegou a discursar no encontro. O ministério participou da articulação da agenda.
Também participaram Eyshila Santos (casada com Odilon Santos); Dirce Carvalho (mulher do JB Carvalho); as cantoras gospel Soraya Moraes Cassiane e Sarah Farias; a escritora e palestrante Soraya Oliveira; e a pastora Ezenete Rodrigues.
O evento não foi transmitido pelas redes sociais, mas as convidadas compartilharam pequenos vídeos do encontro. Em um deles, é possível ouvir parte do discurso da primeira-dama, no qual Michelle aparece falando em "guerra espiritual" e que Bolsonaro está no governo para cumprir "uma missão proposta pelo Senhor".
“[...] Para nos conduzir e nos ensinar a mostrar como nós devemos usar as armaduras para a gente entrar nessas guerras espirituais, porque esse momento é um momento de guerra espiritual. [...] Não estamos aqui por poder, não estamos aqui por status estamos para cumprir uma missão proposta pelo Senhor.”
Também nesta terça-feira, a campanha de Bolsonaro divulgou uma inserção que conta com Michelle Bolsonaro, a primeira desde o início da propaganda eleitoral na televisão. O vídeo cita a transposição do Rio São Francisco enquanto Michelle fala sobre a "mulher sertaneja", em um aceno a outro eleitorado do Nordeste, onde Bolsonaro também enfrenta resistência. A primeira-dama ainda afirma estar construindo "um Brasil para elas, com elas e por elas".
Pouco depois da divulgação, Bolsonaro afirmou que não ofendeu a jornalista Vera Magalhães no debate, e que apenas afirmou que ela "sonha" com ele. Bolsonaro ainda rebateu uma declaração do candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, de que ele odiaria mulheres e afirmou que as pessoas deveriam olhar para o "semblante" da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Ataque à Vera Magalhães
No debate entre presidenciáveis neste domingo, a colunista do GLOBO fez uma pergunta sobre o quanto a desinformação propagada pelo atual presidente na pandemia contribuiu para o baixo índice de vacinação no país. Em resposta, Bolsonaro a atacou.
“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim, tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro.”
Como O GLOBO mostrou, auxiliares de Bolsonaro avaliaram que o presidente "perdeu a linha" quando atacou a jornalista no programa.
Minutos depois, a defesa da jornalista feita pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil), em que atribui a fala de Bolsonaro a machismo, também foi avaliado pela campanha bolsonarista muito ruim para o atual titular do Palácio do Planalto.
“Quando vejo o que aconteceu agora com a jornalista Vera, fico extremamente chateada. Quando homens são "tchutchucas" com outros homens, mas vêm pra cima da gente sendo tigrão, fico extremamente incomodada. Lá no meu estado tem mulher que vira onça e eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento”, disse Soraya.
A campanha do presidente tem feito um esforço estratégico para aumentar a aprovação do presidente entre o público feminino, maioria entre os eleitores do país. Hoje, Bolsonaro tem 29% das intenções de voto neste segmento, contra 47% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Neste esforço para ganhar votos entre as mulheres, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que é vista pela campanha como um "super trunfo", tem se aproximado das agendas de campanha. Há um entendimento interno que Bolsonaro não mudará seu perfil considerado agressivo por esta parcela do público. A participação de Michelle nas agendas ajudaria a minimizar este efeito.
Na semana passada, quando participou de sabatina do Jornal Nacional, aliados de Bolsonaro temiam que ele errasse o tom com a apresentadora Renata Vasconcellos e reforçasse esta percepção, o que não aconteceu. Neste domingo, no entanto, como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, a grosseria do presidente com a jornalista Vera Magalhães repercutiu muito mal em grupos de pesquisas qualitativas, tanto os internos das campanhas como independentes.
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