Nos dias anteriores à
convenção do Republicanos que vai oficializar a sua candidatura ao governo de São Paulo — hoje, às 10h, em São Paulo
—, o ex-ministro Tarcísio de Feitas intensificou as menções e agrados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em discursos e publicações de redes sociais.
Depois de uma fase da pré-campanha em que deixou em segundo plano a ligação com o titular do Planalto, apresentando-se a um eleitorado mais de centro, a “rebolsonarização” de Tarcísio tem dois motivos principais: a constatação de que boa parte do eleitorado ainda não o associa ao presidente; e o movimento de Rodrigo Garcia (PSDB), com que Tarcísio disputa a faixa mais à direita, em direção aos eleitores de Bolsonaro no estado.
Na última semana, Tarcísio se referiu ao aliado ao menos 20 vezes no Twitter e Instagram e diversas outras em discursos. No período, 11 dos 13 tuítes enalteciam o ex-chefe ou os colocavam lado a lado, por exemplo. Um dos vídeos publicados mostra Tarcísio cantando “ O capitão do povo”, jingle em ritmo de sertanejo da campanha de Bolsonaro, num espaço karaokê da convenção no Rio. Em dois outros, eles aparecem juntos para convidar os apoiadores a eventos.
A convenção de hoje, organizada na Zona Norte da capital paulista, é vista dentro da campanha como peça-chave para grudar Tarcísio à imagem do presidente, que estará presente no evento. A equipe de comunicação pretende aproveitar o momento para produzir muitas imagens dos dois. Máscaras anti-covid estampadas com os rostos dos dois serão distribuídas no Expo Center Norte.
Aliados de Tarcísio têm a esperança de contar com a presença de Michelle Bolsonaro, mas a primeira-dama não havia confirmado a vinda até ontem. A participação de Gilberto Kassab, presidente do PSD, que passou a integrar a coalizão bolsonarista em São Paulo, é outra dúvida. O cacique deve apoiar o ex-presidente Lula (PT) no plano nacional, o que torna mais embaraçoso seu comparecimento a um evento com Bolsonaro.
"Eleitor vacinado"
Até meados de julho, a comunicação da pré-candidatura de Tarcísio vinha focando mais no currículo, na trajetória e no perfil do ex-ministro do que na associação com o presidente. A preocupação principal era afastar dele a pecha de “estrangeiro” em São Paulo. Pesquisas internas mostraram, segundo a equipe, que ainda há muitos paulistas que não o ligam a Bolsonaro — e quando isso acontece, dizem, as intenções de voto disparam.
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Em 7 de julho, em um evento na sede do PSD em São Paulo no qual Kassab anunciou apoio a Tarcísio, aliados baseavam seu otimismo afirmando que, do outro lado, o adversário Fernando Haddad (PT) não crescia muito nos números quando associado ao nome de Lula, provavelmente porque a relação já é bastante conhecida do eleitor.
Até junho, porém, a avaliação no entorno de Tarcísio era que colá-lo à imagem de Bolsonaro causaria ganhos e perdas, já que o presidente era reprovado àquela altura por 49% dos paulistas, de acordo com o Datafolha, mas tinha 28% de aprovação — patamar suficiente para levar o ex-ministro ao segundo turno.
O aumento da “dose de bolsonarismo” na pré-campanha também respingou no discurso de Tarcísio. Conhecido pelo comedimento, ele defendeu “banir o fantasma do MST do Brasil” — tipo de declaração geralmente presente em falas de Bolsonaro — em um debate na Associação Comercial de Presidente Prudente. O comentário provocou críticas dos adversários.
O segundo motivo diz respeito ao fato de o governador Rodrigo Garcia e Bolsonaro terem ensaiado uma aproximação nos últimos dias, uma antecipação à hipótese de ser o tucano o candidato a enfrentar o petista Fernando Haddad no segundo turno. O tucano e o presidente negam qualquer encontro.
Na segunda-feira, Tarcísio reagiu às especulações e afirmou que a aproximação não deve prosperar. Para ele, não existe a hipótese de uma campanha “Bolsodrigo”.
"Está todo o mundo vacinado com relação a oportunismo (eleitoral), já se usou essa estratégia na eleição passada e viu onde é que deu. O eleitor bolsonarista está vacinado com isso e nós também. A gente vai estar muito presente com o Bolsonaro e mostrar que o presidente tem um palanque em São Paulo, e não é o do Rodrigo", afirmou Tarcísio, em alusão ao “BolsoDoria”, movimento feito por João Doria para se aproximar do eleitor bolsonarista nas eleições de 2018.
Apesar de rechaçarem uma eventual aproximação de Bolsonaro e os tucanos em São Paulo, aliados de Tarcísio dizem que a repercussão da história também entrou no cálculo para a intensificação da presença do presidente na pré-campanha.