A única vaga para o Senado pelo Paraná em disputa nas eleições deste ano estremeceu as relações entre o senador Alvaro Dias (Podemos), um dos maiores entusiastas da Operação Lava-Jato, e o ex-juiz Sergio Moro (União). O clima azedou de vez depois de Moro negar que Dias seja seu padrinho político.
Sem espaço no União Brasil para concorrer à Presidência da República, e impedido de se candidatar ao Senado por São Paulo após ter a transferência do seu domicílio eleitoral negada pelo Tribunal Regional Eleitoral, restou ao ex-juiz tentar o cargo pelo seu estado natal. Ele deve enfrentar Dias, que está em seu quarto mandato no cargo e o terceiro consecutivo.
Moro reiterou ao GLOBO que não se considera apadrinhado por Dias e colocou em dúvida a candidatura do senador à reeleição.
"Tenho respeito pelo senador Alvaro Dias mas ainda não é possível afirmar nem se ele vai concorrer à vaga do Senado. Caso isso aconteça, sem dúvidas será uma disputa de alto nível. E sobre ele ser (meu) padrinho político, isso não existe. Tudo que construí até hoje foi com trabalho árduo ao longo da minha carreira como juiz e ministro".
O senador, por sua vez, classificou o assunto como um “debate menor”:
"Não comento interesses e ambições dos meus concorrentes. Devo respeitar, mas não são coisas tão importantes para que se perca tempo. No debate das coisas menores eu não vou".
De acordo com pessoas do entorno de Alvaro Dias, ele ficou magoado com Moro. Um cenário bem diferente de 2018, no auge da Lava-Jato, quando foi oficializado candidato à Presidência da República e convidou Moro para ser seu ministro caso fosse eleito.
"Quero prestar uma homenagem à República de Curitiba, onde nasce uma nova Justiça nesse país. Quero assumir o compromisso de defesa intransigente da Lava-Jato. Vou convidar pra ser ministro da Justiça o juiz Sergio Moro. A limpeza não terminou. Tem que continuar", disse à época.
Dias não foi eleito, mas Moro acabou se tornando ministro pelas mãos de Bolsonaro. Mesmo assim, o senador continuou próximo ao ex-juiz, aparecendo ao seu lado em diversos momentos. Posteriormente, articulou sua filiação ao Podemos, o que se concretizou em novembro do ano passado, já pensando em lançá-lo como candidato ao Palácio do Planalto.
Coleção de inimizades
O clima deteriorou no fim de março, quando Moro migrou do Podemos para o União Brasil. E piorou quando Moro começou a cogitar a candidatura ao Senado pelo Paraná. A advogada Rosângela Moro, esposa do ex-juiz, chegou a dizer que Dias não “largaria o osso” da vaga de senador.
Em sua curta carreira política, Moro tem colecionado inimizades. Ao deixar o Ministério da Justiça, o ex-juiz acusou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de interferência indevida na Polícia Federal, o que deu origem a um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Padrinho de casamento da deputada Carla Zambelli (PL-SP) com o comandante da Força Nacional de Segurança, Coronel Aginaldo Oliveira, em fevereiro de 2020, Moro se referiu a ela na cerimônia como uma “guerreira” que “merecia uma medalha”. Depois de sair do governo, disse ter aceitado o convite por constrangimento.
Já a presidente do Podemos, Renata Abreu (SP), disse que soube da migração do ex-juiz para o União Brasil pela imprensa. Em nota divulgada na ocasião, ela afirma que partido “jamais mediu esforços para garantir ao presidenciável uma pré-campanha robusta”.
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