Polícia do PR justifica decisão de ter descartado motivação política

Em nota divulgada neste domingo, instituição afirma que indiciamento por homicídio qualificado está correta

 Guarda municipal Marcelo Arruda foi assassinado na madrugada de domingo
Foto: Reprodução - 11.07.2022
Guarda municipal Marcelo Arruda foi assassinado na madrugada de domingo

A Polícia Civil do Paraná divulgou nota nesta domingo justificando a decisão de ter descartado motivação política no assassinato do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) e guarda municipal Marcelo Aloízio Arruda. Segundo a instituição, não há previsão legal para o enquadramento como “crime político”, já que a antiga Lei de Segurança Nacional foi revogada pela nova Lei de Crimes contra o Estado Democrático de Direito, que não possui qualquer tipo penal aplicável.

A nota diz ainda que não há nenhuma qualificadora específica para motivação política prevista em lei e, portanto, isso não seria aplicável. A instituição que sua atuação é pautada exclusivamente na técnica e "opiniões ou manifestações políticas estão fora de suas atribuições expressas na Constituição".

"Portanto, o indiciamento, além de estar correto, é o mais severo capaz de ser aplicado ao caso", conclui o texto.

O inquérito sobre o caso foi concluído na última sexta-feira, com o autor do crime, o policial penal federal Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe e perigo comum. A qualificação por motivo torpe significa "que a motivação é imoral, vergonhosa", e a pena pode chegar a 30 anos de prisão.

Advogados criminalistas consultados pelo GLOBO, na última sexta-feira, consideraram equivocada a decisão da polícia paranaense de ter descartado a motivação política no crime. Para eles, a conclusão da delegada Camila Cecconello minimiza um episódio grave e abre margem para que outras ocorrências ocorram sob o mesmo pretexto.

O advogado criminalista e professor de Direito Welington Arruda, do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) disse que não haveria crime se a festa de aniversário da vítima não tivesse como tema o PT.

"A discussão se deu a partir de uma questão política. O policial penal federal (Jorge Guaranho) saiu do local onde estava para invadir uma festa com decoração do PT. Não haveria crime se a festa fosse de qualquer outro tema, pois ele (Guaranho) não teria sequer saído de onde estava", afirma Welington.

O especialista explica, no entanto, que a legislação brasileira não prevê crime de ódio por motivação política. Assim, Guaranho só poderia ser indiciado pela Polícia Civil do Paraná por homicídio duplamente qualificado pelo motivo torpe, fútil, e por causar perigo comum a terceiros.

A advogada criminal Priscila Pamela dos Santos, coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, diz que houve uma grande valorização do depoimento da esposa de Guaranho em detrimento das demais testemunhas, cuja maior parte confirma a motivação política para o crime. Ainda de acordo com a especialista, ao descartar a motivação política, a delegada da Polícia Civil diminui o caráter de repugnância do crime.

Conrado Gontijo, advogado criminalista e doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP), classificou o relatório da delegada como uma "distorção absoluta da realidade".

Na sexta-feira passada, Camila Cecconello, que é delegada-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, afirmou ser "difícil" afirmar que Arruda foi morto pelo fato de ser petista. Segundo ela, o guarda municipal teria sido assassinado por conta da "escalada da discussão" com o policial penal federal Jorge Guaranho, que era bolsonarista. O crime aconteceu em Foz do Iguaçu.

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