Jair Bolsonaro
Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro

O Jair Bolsonaro que concorrerá à reeleição é bem diferente daquele que disputou o pleito em 2018: durante os três anos e meio de governo, o presidente adotou medidas contrárias ao que prometeu durante a campanha eleitoral. Práticas antes criticadas, como o aumento no número de ministérios e a entrega de cargos em troca de apoio político, passaram a ser abertamente defendidas.

Há duas semanas, por exemplo, ele anunciou que pode recriar até três ministérios caso seja reeleito — ficando cada vez mais distante da promessa feita há quatro anos de reduzir o número de pastas para 15.

Em 2018, o programa de governo afirmava que “o país funcionará melhor com menos ministérios”. Na época, Bolsonaro também disse que seu governo teria “no máximo 15 ministros”. Entretanto, ele começou o governo com 22 pastas e recriou outra em 2020. Na declaração mais recente, disse que a possível nova expansão terá o efeito de “administrar melhor o país”. No governo Michel Temer, eram 29 pastas.

O programa de governo também dizia que o número elevado de estruturas no primeiro escalão era reflexo da “forma perniciosa e corrupta de se fazer política nas últimas décadas, caracterizada pelo loteamento do Estado, o popular ‘toma lá, dá cá’”.

Bolsonaro, contudo, também abandonou suas críticas ao “toma lá, dá cá” e passou a receber indicações de políticos do Centrão em troca de uma base de apoio no Congresso.

Em 2018, o discurso era outro: ele disse que iria por “fim nas indicações políticas do governo em troca de apoio”. Na campanha eleitoral, o candidato também chegou a se referir ao Centrão como “alta nata de tudo que não presta”.

Na campanha, Bolsonaro também disse que pretendia conversar com o Congresso para a realização de uma reforma política, que envolvesse tanto o fim da reeleição quanto a diminuição do número de parlamentares. No governo, jogou toda a responsabilidade para os congressistas e não tratou mais do assunto. Além disso, deixou claro desde o primeiro ano de governo que pretendia concorrer a outro mandato.

Depois de eleito, Bolsonaro mudou o discurso sobre outro tema do qual sempre foi crítico: os gastos com cartão corporativo da Presidência. Em 2008, ainda como deputado, Bolsonaro cobrou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva por se opor a investigações sobre os cartões.

No início do seu governo, chegou até mesmo prometer que iria “abrir o sigilo” de suas despesas. Desde então, contudo, o governo tem mantido em segredo o conteúdo dos gastos, alegando questões de segurança.

Para o cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alguns gestos de Bolsonaro, como a declaração sobre a recriação de ministérios, funcionam como aceno à classe política, que poderia ter um maior espaço em um segundo governo. Ele também aponta que o presidente pode perder alguns eleitores, que votaram nele em 2018 devido ao discurso liberal, mas ressalta que há uma base fiel que manterá o apoio a todo custo.

"São as pesquisas eleitorais que vão ditar o discurso do presidente da República. Há o eleitor fiel, radical, que segue o presidente independentemente do que ele diga. E existe o bolsonarismo estratégico, que é aquele eleitor que vota em Bolsonaro, que pode até concordar com seu jeito de ser, mas acima de tudo é porque enxerga o presidente como único capaz de derrotar o PT."

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