Sem figuras do alto escalão do governo federal, o CPAC Brasil, congresso conservador importado dos Estados Unidos por Eduardo Bolsonaro, encerrou seu primeiro dia de palestras tendo o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como principais alvos dos conferencistas. O evento é realizado neste fim de semana em Campinas (SP), no Royal Palm Hall.
Os ataques mais virulentos vieram do discurso do ex-senador Magno Malta (PL-ES). Ele disparou contra ministros do Supremo, chamou Edson Fachin de mentiroso, afirmou que Luís Roberto Barroso "batia em mulher" e exibiu trechos de sabatinas de Alexandre de Moraes e Rosa Weber no Senado para vaias e xingamentos do público.
"Sabe por que eu votei contra o Barroso? Advogado de Cesare Battisti, das ONGs abortistas e da legalização da maconha. Quando ele é sabatinado no Senado a gente descobre que ele tem dois processos no STJ, na Lei Maria da Penha, de espancamento de mulher. Além de tudo, Barroso batia em mulher", afirmou o ex-senador.
Antes de exibir no telão o vídeo da sabatina de Moraes, Malta chamou ao palco o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), salvo da prisão em razão de graça concedida por Bolsonaro após ter sido condenado no Supremo por ameaça a ministros, para que ele assistisse à exibição. A cena colocou lado a lado no palco, ainda que virtualmente, dois personagens que têm representado no discurso bolsonarista "o bem e o mal". Silveira foi ovacionado pela plateia, e Moraes, insultado. Em seguida, Malta se dirigiu a Fachin:
"Esse homem tem trabalhado diuturnamente. Ataques vis à democracia, à Constituição que já não mais existe. E uma tentativa sórdida quando ele diz que o mundo, os embaixadores precisam aceitar de imediato o resultado das eleições, e que o Bolsonaro é obrigado a aceitar o resultado das eleições. Peraí, Fachin, as eleições estão decididas? Você está dizendo que está decidida a eleição?", questionou.
Escanteado da formação do gabinete de Jair Bolsonaro em 2018 após priorizar a campanha do aliado em detrimento de sua — o então senador acabou não se reelegendo —, Malta manteve a defesa do presidente ao longo dos últimos anos. Em Campinas, fez uma reaparição digna de celebridade.
Vestindo uma camiseta justa e um cordão dourado, ele foi bajulado por dezenas de fãs na saída de sua conferência, em especial idosas. Entre fotos e assinaturas de camisetas, ele cumprimentou apoiadores por videoconferência pelos celulares daqueles presentes no evento. "Magno Malta, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver", cantavam as tietes até ele aparecer no saguão do centro de convenções.
Chamado de "ex-presidiário" e "Luladrão", o ex-presidente petista foi outro alvo frequente dos palestrantes. Sua liderança nas pesquisas, com chances de vitória no primeiro turno, colocou-o no centro da preocupação daqueles que veem a volta do PT ao poder como um desastre. Salles repetiu uma afirmação partilhada de outros conferencistas do CPAC: a de que a eleição de outubro é a mais importante da História.
"Nunca estivemos tão próximos de um problema como a eleição eventualmente do sapo barbudo", declarou o ex-ministro.
A envergadura dos palestrantes deste ano difere da edição de 2019. Dois anos atrás, os então ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Abraham Weintraub (Educação), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) agitaram a plateia em São Paulo, empolgada com o primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro e a ainda viva promessa de acabar com o "toma lá, dá cá" em Brasília.
Hoje os nomes mais radicais do bolsonarismo foram expurgados da órbita da família presidencial, como Weintraub e Araújo, ou deixaram seus postos para concorrer nas eleições de outubro, caso de Damares. Ela, assim como Salles, participou do evento deste fim de semana.
Os estandes de produtos bolsonaristas também estiveram de volta. Além de bancas de livros conservadores e camisetas com deboche a ideologias de esquerda, lideranças regionais como o vereador Nikolas Ferreira (MG) e a deputada estadual Ana Campagnolo (SC) provocaram filas para selfies. O ex-jogador de vôlei Maurício Souza e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, pré-candidatos, também chamaram a atenção dos militantes.
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