O presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar, será lançado oficialmente como pré-candidato ao Palácio do Planalto em evento nesta terça-feira, em Brasília. O movimento ocorre sem que o seu próprio partido esteja unificado em torno do projeto, já que nomes importantes da legenda vão reforçar o palanque do presidente Jair Bolsonaro.
Bivar só recebeu o aval do partido - criado a partir da fusão entre PSL e DEM -, porque se comprometeu a não interferiria nos acordos locais e deixar os dirigentes “livres” para apoiar quem quisessem na eleição presidencial em outubro. Apesar da formalização, a candidatura dele é vista como uma forma de aumentar seu poder de negociação com outras legendas. Não está descartada a possibilidade de ele sair do páreo para, eventualmente, ser vice de algum outro candidato mais competitivo.
Efeito do compromisso firmado pelo cacique da sigla, vários dos pré-candidatos a governos estaduais e da bancada federal do União Brasil está mais empenhada em se colar à imagem de Bolsonaro do que disposta a mobilizar a militância em prol de Bivar.
Dos quatro governadores do partido que tentarão a reeleição, três já declararam apoio à reeleição do presidente da República: Wilson Lima (AM), Mauro Mendes (MT) e Marcos Rocha (RO). O único que não se posicionou ainda é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, aliado de Bolsonaro nos primeiros anos da gestão do presidente. Eles se desentenderam depois que Caiado fez críticas à atuação do governo no enfrentamento à pandemia de Covid-19. Agora, porém, o governador tem buscado uma reaproximação.
Entre os pré-candidatos a governos estaduais do União Brasil, há ainda Capitão Wagner, que está na disputa no Ceará. Aliados de longa data de Bolsonaro, até aqui, ele sinalizou que vai abrir seu palanque um presidenciável que não seja da esquerda, mas não deixou claro se esse lugar caberá ao presidente ou a outro nome, como o candidato da terceira via, por exemplo.
Além dele, em Pernambuco, Miguel Coelho vai representar o União Brasil na corrida ao Palácio das Princesas. Ele não declarou com quem caminhará no plano nacional. Coelho é filho do ex-líder do governo no Senado Fernando Bezerra Coelho, que saiu do posto magoado com o Palácio do Planalto, o que o afasta da candidatura à reeleição do presidente. O fato de o eleitorado de seu estado, historicamente, ser o mais fiel a Luiz Inácio Lula da Silva também o afasta de Bolsonaro.
Cenário no Rio
No Rio de Janeiro, Anthony Garotinho vinha tentando se aproximar de Bolsonaro desde o início do ano, mas teve as esperanças frustradas ao ver o presidente abraçar o projeto eleitoral do governador Cláudio Castro. A sua filha, deputada Clarissa Garotinho (União), contudo, se tornou uma grande defensora dos feitos do governo federal em seus discursos na tribuna e nas redes sociais. Após conquistar simpatia da primeira-dama Michelle Bolsonaro, Clarissa vem disputando a preferência do presidente com o senador Romário para se viabilizar ao Senado.
Em Santa Catarina, o pré-candidato ao governo Gean Loureiro (União) sempre evitou se posicionar ideologicamente. Na última semana, no entanto, ele ganhou o apoio de um bolsonarista convicto, o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), que agora passou a ser cotado para coordenar da campanha dele.
O único dirigente que por enquanto quer distância de Bolsonaro é o secretário-geral do União, ACM Neto, que concorrerá ao governo da Bahia. Ele já declarou que se manterá neutro entre o presidente e Lula e que pretende deixar o seu “palanque aberto” - o que significa que Bivar pode ter de dividi-lo com os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
— Essa pré-candidatura não conflita com a posição de independência de cada Estado — explicitou ACM no início do mês.
Antes de anunciar a pré-candidatura, Bivar chegou a participar de conversas com dirigentes do MDB, PSDB e Cidadania para chegar a um nome de consenso da terceira via. Ele abandonou as negociações sob o pretexto de que as siglas não tinham tanta “unidade” como o União - o que contradiz a existência dos palanques dissidentes. Ao mesmo tempo em que negociava com as siglas do chamado “centro democrático”, ele mantinha conversas com o Palácio do Planalto, que se mostraram mais frutíferas. Nesta terça-feira, Bolsonaro declarou que gostaria que Bivar “viesse conosco” em outubro. No último mês, os aliados do presidente ameaçaram tirar cargos caso o partido abraçasse a candidatura da terceira via.
Fator Moro
Um dos principais articuladores da campanha de Bivar é líder do União na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (BA), que é padrinho da indicação do comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) - estatal que está no centro da distribuição do “orçamento secreto”. Além disso, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa Legislativa, também está na mão da sigla por meio do deputado Arthur Maia (BA).
O assédio em cima do União Brasil não tem nada a ver com o potencial eleitoral de Bivar - alguns correligionários consideram que ele teria dificuldades até em se reeleger como deputado federal por Pernambuco. O alvo de cobiça é o tamanho do caixa da legenda, que deve contar neste ano com cerca de R$ 1 bilhão de fundo eleitoral e partidário.
Se estivesse pensando em viabilidade eleitoral, o partido ainda poderia lançar a candidatura do ex-ministro Sergio Moro, filiado à sigla e que chegou a alcançar 10 pontos nas pesquisas eleitorais e se filiou ao partido em março. Mas essa hipótese foi descartada pelos dirigentes da legenda.
Se Bivar continuar como candidato até outubro, será a segunda vez ele se lança à Presidência da República - em 2006, ele também tentou e amargou a última colocação, com apenas 0,06% dos votos válidos.
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