A cúpula do PSDB deve se reunir hoje com o ex-governador João Doria para tentar convencê-lo a desistir da disputa presidencial e da possibilidade de judicializar sua candidatura. A estratégia dos dirigentes partidários é evitar com que o embate se estenda até a convenção partidária, entre julho e agosto, além de deixar claro que o seu próprio partido avalia a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como mais viável para enfrentar o cenário de polarização .
A conversa, que deve ser em São Paulo, antecede outro encontro da Executiva marcado para amanhã, quando Tebet deve ser avalizada, ou não, pela direção tucana. Na tentativa de demover Doria, correligionários têm dito que o paulista pode ser vice da senadora, mas ele resiste. Segundo aliados do ex-governador, Doria deve pedir que o partido adie a decisão e lhe dê mais tempo para que possa crescer nas pesquisas de intenção de voto — no último Datafolha, ele aparece com 3%, contra 1% de Tebet.
No encontro, deve haver uma apresentação de uma pesquisa quantitativa e qualitativa do Instituto Paulo Guimarães, utilizada como argumento para a possível escolha de uma candidatura de Tebet por PSDB, MDB e Cidadania. Uma das justificativa é que a senadora tem menor rejeição. Doria tem reclamado que não teve acesso aos dados, mas o partido alega que a pesquisa não foi divulgada porque não está registrada na Justiça Eleitoral.
Argumentos de Doria
O entorno do ex-governador argumenta que ele aparece à frente de Tebet nas pesquisas quantitativas. O marqueteiro Lula Guimarães, responsável pela campanha do paulista, diz que ele tem mais potencial de crescimento e atributos por sua experiência como ex-governador de São Paulo, onde fez uma gestão com realizações de impacto nacional como a vacina CoronaVac.
Apesar disso, aliados da senadora afirmam que ela não só tem pouca rejeição, como também dialoga com o público feminino, o mais indeciso, segundo as pesquisas. Além disso, dizem que Tebet tem mais apoio político, enquanto Doria está isolado no PSDB. Pelo menos 19 diretórios estaduais do MDB apoiam Tebet.
Além de resolver o impasse político com Doria, a Executiva do PSDB elaborou um plano para eventual batalha jurídica. Os dois argumentos mais citados por aliados de Doria são: o artigo 152 do Estatuto do partido, que garante que “os vencedores em eleições prévias terão seus nomes homologados nas convenções”; e uma nota assinada por Araújo em março que dizia “Doria é o candidato a presidente da República pelo PSDB. (...) As prévias serão respeitadas”.
Os interlocutores de Araújo acreditam que uma eventual ação ajuizada pelo ex-governador neste momento será inócua por dois motivos. Primeiro, porque ela não teria um objeto definido, uma vez que o candidato do partido só será formalizado na convenção partidária, daqui a pelo menos dois meses. E, segundo, porque há o entendimento de que esses eventos partidários não são simplesmente “homologatório” e a convenção tem autonomia para decidir apoiar, por exemplo, um pacto da terceira via com MDB e Cidadania sem que esteja na cabeça de chapa. Isso, porém, gera resistência no PSDB tanto no grupo que quer manter Doria, quanto na ala que prefere substitui-lo pelo ex-governador Eduardo Leite (RS) ou o senador Tasso Jereissati (CE).
O coordenador jurídico do PSDB, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), explicitou os argumentos jurídicos contra uma eventual judicialização de Doria na reunião da Executiva na terça-feira. Segundo pessoas que participaram do encontro, ele afirmou que a carta de Doria era um “erro jurídico” e, acima de tudo, um “equívoco político”. Na ocasião, nenhum aliado do paulista divergiu de Sampaio.
Antigo apoiador de Doria
Ex-promotor de Justiça e ex-professor de Direito Penal, Sampaio foi um apoiador da candidatura de Doria na época das prévias e agora tem capitaneado a estratégia para blindar a sigla de contestação judicial.
Dirigentes tucanos afirmam ainda que a carta de Araújo vale tanto quanto a que Doria fez em 2016 prometendo não sair da prefeitura de São Paulo para disputar o governo do estado — o que ele não cumpriu.
Na visão de aliados do presidente tucano, a opção por Simone Tebet também desarma a alegação jurídica de Doria — que ganharia força apenas se o PSDB tivesse escolhido outro tucano, que não fosse vencedor das prévias.
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