A declaração do ex-presidente Lula (PT) de que o ucraniano Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, "quis a guerra" com a Rússia, trouxe o conflito no Leste Europeu novamente para o radar dos presidenciáveis no Brasil. Em entrevista à revista norte-americana Time, publicada nesta quarta-feira, Lula alegou que Zelensky "é tão responsável" pela guerra quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que ordenou em fevereiro a invasão ao país. Nesta quarta, opositores de Lula na corrida pela Presidência, como Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), criticaram a fala do petista.
Nos últimos dois meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros pré-candidatos, como Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante), também se manifestaram sobre o confronto entre Rússia e Ucrânia. Todos condenaram a guerra, mas fizeram diferentes ponderações sobre a responsabilidade pela escala do conflito.
Veja a seguir como os presidenciáveis se posicionaram sobre o assunto:
Bolsonaro
O presidente viajou à Rússia e encontrou-se com Putin dias antes da invasão à Ucrânia, e chegou a declarar após a eclosão do conflito que o Brasil se manteria "neutro". O Itamaraty, por sua vez, votou a favor de uma resolução da Assembleia Geral da ONU para condenar a invasão russa.
À época da viagem, Bolsonaro sugeriu de forma enganosa que sua presença teria impedido a guerra, que eclodiu dias após sua visita a Putin. Posteriormente, o presidente alegou que a visita a Rússia era necessária para negociar o fornecimento de fertilizantes ao Brasil.
Nesta quarta-feira, sem se referir diretamente à declaração de Lula, Bolsonaro se manifestou contra o prolongamento da guerra, citando preocupações econômicas.
— O que nós tememos obviamente é o prolongamento dessa guerra que sinaliza com mais inflação para o mundo, e vem da energia, vem dos combustíveis — disse Bolsonaro.
Lula
O ex-presidente havia condenado, em fevereiro, a invasão iniciada pela Rússia, afirmando em suas redes sociais à época que "ninguém pode concordar com a guerra, ataques militares de um país contra o outro".
Em outra ocasião, Lula classificou o movimento russo como "inaceitável" e pediu mudanças na Organização das Nações Unidas (ONU) para que a entidade não permanecesse como "uma coisa decorativa". "Que não seja uma instituição apenas decorativa, seja uma instituição que tome decisões efetivamente. Ela poderia ter tomado decisão para evitar essa guerra", disse Lula no início de março.
Na entrevista à revista Time, publicada nesta quarta-feira, Lula afirmou que "não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia", referindo-se a movimentos anteriores para a entrada da Ucrânia na Otan, aliança militar que é alvo de críticas por parte da Rússia. "Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema", disse Lula.
O ex-presidente também acusou Zelensky, presidente ucraniano, de estimular as tensões.
— Ele (Zelensky) quis a guerra. Se ele (não) quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. (...) É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo (ao confronto). Você fica estimulando o cara (Zelensky) e ele fica se achando o máximo — disse Lula.
Ciro
Após a invasão russa, o pedetista escreveu em suas redes sociais que o Brasil deveria "repudiar, sem meias palavras, a invasão da Ucrânia", por ferir princípios como o "respeito pela soberania e pela integridade territorial dos Estados". À época, Ciro criticou o fato de Bolsonaro ter viajado à Rússia em meio à escalada das tensões, dias antes da invasão, e também uma declaração de Lula de que a guerra poderia ser evitada "tomando cerveja".
Nesta quarta-feira, Ciro voltou a criticar Lula, mas sem comentar diretamente a declaração do petista à Time.
— Sobre esse assunto, eu já vi ele dizendo que faltava tomar uma cerveja. O Lula perdeu toda aquela assessoria de alto nível que qualificava um pouco a intuição extraordinária que ele sempre teve. Ele parece estar perdendo essa intuição extraordinária, perdendo até a capacidade desses improvisos — comentou Ciro.
Nas últimas semanas, o pedetista alternou a condenação à postura da Rússia com críticas à atuação dos EUA e da União Europeia. Em participação no programa "Manhattan Connection" em abril, Ciro disse que o governo norte-americano estaria "confraternizando com neonazistas na Ucrânia" e que "estão armando eles (neonazistas) lá".
— A Otan é uma excrescência, perdeu a razão de existir com a queda da União Soviética, e avançaram até a iminência da fronteira com a Rússia. Quem é que vai admitir isso? Isso é a lição que o (Napoleão) Bonaparte não aprendeu, que o Hitler não aprendeu: que botar a Rússia no canto da parede é um equívoco histórico. Que jamais deu em boa coisa para a humanidade.
Doria
O ex-governador de São Paulo se manifestou nas suas redes sociais, nesta quarta-feira, em reação à fala de Lula:
"Dizer que Zelensky é tão culpado quanto Putin é exaltar o autoritarismo e depreciar o líder da Ucrânia, vítima de crimes de uma guerra cruel. Isola o Brasil das posições mais razoáveis do Ocidente. A democracia deve condenar as agressões e o conflito. O mundo quer paz", disse Doria.
Em fevereiro, após a invasão russa, Doria também havia criticado a posição manifestada por Bolsonaro. O então governador paulista disse que a posição de "neutralidade" no conflito entre Rússia e Ucrânia "significa desumanidade e parcialidade". Doria também criticou o fato de o governo brasileiro não ter assinado, à época, uma carta da OEA (Organização dos Estados Americanos) condenando a ação militar russa, dizendo que o país "fica ao lado de ditaduras como Cuba e Nicarágua, que também se recusaram a ratificar o documento".
Tebet
A senadora do MDB também criticou a neutralidade defendida por Bolsonaro logo após a invasão russa. Tebet assinou uma carta conjuntamente com outros representantes de partidos da terceira via, como Doria, o presidenciável do Novo, Felipe D'Ávila, e o ex-juiz Sergio Moro, que a "defesa da paz, soberania nacional e da legitimidade da ordem internacional sempre pautou a política externa brasileira", e que seria preciso defender esses princípios "de maneira inequívoca".
Tebet também citou preocupação, à época, com impactos econômicos globais por conta da guerra na Ucrânia.
"A reação negativa das bolsas de valores e alta no preço do petróleo vão gerar recessão, mais inflação e mais fome no Brasil", afirmou a senadora.
Janones
Pré-candidato à Presidência pelo Avante, o deputado federal André Janones classificou como "inaceitáveis e condenáveis em todos os níveis" os ataques lançados pela Rússia à Ucrânia, no fim de fevereiro.
"A soberania da Ucrânia deve prevalecer, o mundo sequer superou a guerra contra a Covid-19 e, agora mais do que nunca precisa de paz para se reestabelecer", escreveu Janones em suas redes sociais.
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