O presidente Jair Bolsonaro tem usado o caso do deputado Daniel Silveira para reorganizar a militância, exibir apoio na Câmara e, como já mostrou O GLOBO, usar o embate com o Supremo Tribunal Federal como um palanque para sua campanha à reeleição.
O indulto presidencial concedido ao parlamentar acendeu a base bolsonarista nas redes sociais, que tornou o assunto um dos mais comentados no Twitter durante a semana. Um ato em apoio a Silveira e contra a decisão da Corte foi marcado para domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, com a possibilidade de o presidente comparecer.
Segundo pessoas próximas a Bolsonaro, com o perdão da pena a Silveira o presidente sinaliza que estará disposto a defender quem estiver ao seu lado.
Com a aproximação ao Centrão, aliados mais inflamados reclamavam do distanciamento do presidente, que passou a ter como principais conselheiros caciques como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o comandante do PP, Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil. Portanto, na avaliação de interlocutores do Planalto, o indulto é um reencontro de Bolsonaro com bolsonaristas.
Com a nova injeção de ânimo, os organizadores da manifestação marcada para domingo querem reviver os atos de 7 de Setembro, quando na mesma Avenida Paulista Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha” e disse que não cumpriria mais nenhuma decisão do magistrado.
Moraes é o relator do inquérito contra Silveira, condenado por ameaçar ministros do Supremos e incentivar atos antidemocráticos.
Apesar da expectativa dos militantes, a presença de Bolsonaro no ato deste domingo é incerta. Auxiliares políticos aconselharam o presidente a não comparecer sob o risco de aumentar a tensão com o Judiciário e perder o “bom momento” que vive no embate com os magistrados. Nesta sexta-feira, Bolsonaro disse que “não quis peitar” o STF com o indulto.
“Houve um excesso. Caberia a mim, e só a mim e mais ninguém aqui no Brasil, desfazer essa injustiça. Não quero peitar o Supremo, dizer que sou mais importante, tenho mais coragem que eles, longe disso”, disse o presidente, em entrevista à rádio Metrópole, de Cuiabá (MT).
Como mostrou O GLOBO nesta semana, Bolsonaro quer levar o embate com o STF para o centro da disputa eleitoral. A avaliação de estrategistas da campanha é que com o indulto Bolsonaro vive seu melhor momento no confronto com o Judiciário.
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Para isso, Bolsonaro tem se encarregado pessoalmente de orientar Silveira em como se comportar diante dos acontecimentos e quer transformá-lo em um “símbolo” do enfrentamento com o STF.
Em conversas reservadas, o presidente tem dito que a visibilidade de Silveira conquistada após a prisão por fazer ameaças aos ministros do STF resultará em voto em outubro.
Em decisão na terça-feira, Moraes indicou que o decreto de indulto não afasta a inelegibilidade. Aliados de Bolsonaro, porém, argumentam que a impossibilidade de candidatura deva ser discutida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, a expectativa é que o parlamentar mantenha sua campanha.
Nas redes
A militância bolsonarista se encarregou de tornar o indulto um dos temas mais comentados das redes sociais. No dia do decreto com o perdão ao deputado, Daniel Silveira, que está com as contas suspensas nas plataformas digitais, superou a média de menções do presidente no Twitter. Naquele dia, foram 525 mil menções ao nome do parlamentar, segundo levantamento da consultoria Bites. O número ultrapassa a média do próprio chefe do Planalto, que é de 277 mil citações diárias.
A fala do ministro Luís Roberto Barroso de que as Forças Armadas estão sendo orientadas a atacar o “processo eleitoral” também foi capitalizado por Bolsonaro para estimular seus apoiadores. Com o aval do presidente, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, emitiu uma nota chamando a afirmação de Barroso de “irresponsável".
Fora das redes, Bolsonaro também conseguiu mobilizar a base na Câmara de Deputados em defesa de Silveira. Na quarta-feira, o deputado condenado pelo STF foi escolhido como membro de cinco comissões da Câmara, entre elas a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). As outras comissões são Cultura, Educação, Esporte e Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, da qual foi eleito vice-presidente. A votação foi secreta entre os integrantes do grupo.
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