Ministro da Educação, Milton Ribeiro
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil - 17.03.2022
Ministro da Educação, Milton Ribeiro

No centro de denúncias de ilegalidades que atingem o governo e pressionado para deixar o cargo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro , buscou apoio nos três Poderes da República ao longo da última semana, sem sucesso. Ele ainda não conseguiu angariar uma tropa de choque capaz de defendê-lo publicamente. Até o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, responsável pela sua indicação em 2020, tem se mantido distante do afilhado. Temendo um desgaste para o segmento, já que o  escândalo no MEC envolve dois pastores, lideranças evangélicas defendem que Ribeiro se licencie do cargo até a conclusão das investigações.

Em meio às fricções, o respaldo, ao menos por ora, veio do presidente Jair Bolsonaro. Em transmissão ao vivo na internet, ele afirmou que poria “a cara no fogo” por Ribeiro . Segundo o ministro, foi o titular do Palácio do Planalto quem lhe pediu para receber o pastor Gilmar Santos. Ele e outro líder evangélico, Arilton Moura, são acusados de praticar lobby na pasta e integrar um esquema de cobrança de propina a prefeitos para liberar recursos do ministério.

Pastor da Igreja Presbiteriana, assim como o chefe do MEC, André Mendonça tem dito a interlocutores que a relação entre ele e Ribeiro não é mais a mesma. O distanciamento, segundo esses relatos, já dura mais de seis meses. Ribeiro, contudo, chegou a tentar contato com o ministro do STF após a eclosão da crise, mas foi tratado com frieza.

Por determinação do STF, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar se o ministro liberou verbas para prefeituras indicadas pelos dois pastores, que intermediavam reuniões de Ribeiro com chefes de executivos municipais levados por eles. Outro procedimento foi aberto para tratar do caso dos religiosos.

Além de André Mendonça, o titular do MEC procurou os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da bancada evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), entre outros congressistas, como os senadores Wellington Fagundes (PL-MT) e Vanderlan Cardoso (PSD-GO), e o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP). Nenhum deles tem saído em defesa do ministro publicamente.

Ao líder da bancada evangélica, em conversa de sete minutos, Ribeiro afirmou que não tinha “apego ao cargo” e que estava disposto a cooperar, num sinal de deferência aos parlamentares.

Com o presidente do Senado, na quarta-feira, Ribeiro aproveitou para convidá-lo a participar de uma cerimônia de posse de reitores mineiros marcada para o dia seguinte. Pacheco não compareceu.

Na quinta-feira, na Comissão de Educação, o senador Wellington Fagundes relatou o encontro que teve com Ribeiro no dia anterior e fez um pedido para que ele fosse convidado a prestar esclarecimento ao colegiado, e não convocado: "O ministro estava se colocando à disposição e gostaria de ir, se possível, esta semana ainda à Comissão", disse Fagundes, que tentava assim evitar uma convocação.

Num outro movimento, Ribeiro ligou para o presidente da mesma comissão, senador Marcelo Castro (MDB-PI), para se colocar à disposição do colegiado. Ele também enviou um ofício com tal posição. O colegiado acabou aprovando um convite para a próxima quinta-feira.

Voz dissonante

Para parlamentares, a sessão da semana que vem será dura, mas fundamental para verificar o impacto político dos últimos episódios.

Segundo informou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, aliados de Bolsonaro no segmento evangélico tentam convencer o presidente a aceitar uma licença de Ribeiro enquanto as denúncias estiverem em apuração.

Por essa saída, apresentada ao presidente anteontem pelo ex-senador Magno Malta, Ribeiro seria substituído por seu secretário-executivo, e poderia voltar caso o inquérito da PF concluísse que ele é inocente.

Ao buscar apoio, Ribeiro não tem sido respaldado por líderes na Câmara. No PL, legenda de Bolsonaro, boa parte dos parlamentares vê como única solução a saída do ministro.

Um dos únicos que se pronunciou na mesma linha de Bolsonaro foi o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR): "O ministro da Educação deve permanecer no governo e fazer as explicações que sejam demandadas."

Ribeiro nega a existência de irregularidades e afirma que todos os repasses da pasta obedecem a critérios técnicos. O pastor Gilmar Santos nega que tenha poder sobre a agenda ou as verbas do MEC. Ele classificou as acusações de “falácias”.

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