Na presença do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), o PCdoB anunciou nesta quinta-feira apoio ao petista na disputa pelo governo do estado. A decisão coloca pressão sobre o pré-candidato do PSB, Márcio França, que tenta se emplacar como o candidato da aliança.
O impasse ocorre porque PT, PSB, PCdoB e PV estudam formar uma federação nestas eleições, condição que exigiria dos partidos uma única candidatura em cada pleito. Caso a aliança se formalize, apenas Haddad ou França poderiam concorrer pela federação ao Palácio dos Bandeirantes.
Durante o anúncio, realizado no diretório do PCdoB em São Paulo nesta manhã, os dirigentes comunistas colocaram panos quentes no desconforto que pode ter sido causado no lado pessebista. Preocupados em não melindrar França, eles afirmaram que a decisão foi informada ao PSB com antecedência.
"Considero que (o PSB recebeu a decisão) com tranquilidade e com respeito. Nós vamos estar juntos, e precisamos ter as relações mais francas e transparentes possíveis. Estamos convencidos de que teremos uma candidatura que vai unificar todo esse campo", declarou Rovilson Britto ao GLOBO.
Publicamente, lideranças do PCdoB negam que o apoio a Haddad, atitude que rebaixam a uma "opinião política" possa prejudicar as conversas pela implementação da federação.
Os comunistas consideram que Haddad será o candidato com maior capacidade de derrotar a direita na eleição, que deve contar com o representante de Jair Bolsonaro, o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), e do PSDB, partido há quase três décadas no poder do estado e que concorrerá com o vice de João Doria, Rodrigo Garcia.
"Não é uma decisão final porque isso precisa passar pela federação, mas é uma opinião política. É natural, se acostumem com isso, porque a federação não anula a opinião política dos partidos", minimizou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB).
A definição de quem será o candidato ao governo de São Paulo, no entanto, é um dos principais impasses para a formalização da federação. Nenhum dos dois partidos abre mão de seu candidato. França chegou a sugerir, após reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro, que o nome fosse escolhido a partir da melhor posição em pesquisas eleitorais, em maio.
Esse prazo, porém, pode atrapalhar os planos do ex-governador Geraldo Alckmin. Para poder ser vice de Lula na eleição presidencial, Alckmin precisa se filiar a um partido até o dia 2 de abril. A preferência do ex-tucano é pelo PSB, mas ele tem deixado claro a interlocutores que gostaria de ver a questão paulista resolvida antes da sua definição. Alckmin não quer correr o risco de um desentendimento entre os partidos ou de que ocorra o lançamento dos dois candidatos.
Lula tem preferência por Haddad e gostaria de ver França como candidato ao Senado. Na conversa com o ex-presidente, França argumentou que seu nome poderia atingir um espectro maior do eleitorado paulista, já que não sofre com a rejeição ao PT como Haddad.
Em seu discurso nesta manhã, Haddad focou na ameaça de uma vitória da extrema-direita nas eleições de outubro para defender o que ele chama de "federação progressista", que, em seus cálculos, deve ter como meta alcançar 180 deputados na Câmara, assim garantindo maior governabilidade a um eventual governo Lula em 2023. Ele diz não estar preocupado se a federação vai enxugar ou inflar a bancada federal do PT.
"Federação é o caminho mais célere para a gente se aglutinar no campo progressista. É mais importante crescer menos e junto do que crescer mais e sozinho. O momento agora é de crescer junto", afirmou o ex-prefeito.
Questionado sobre como o PT vai explicar ao seu eleitor que, após anos sendo oposição ao PSDB no estado, agora o partido vai se aliar a um tucano histórico como Alckmin, Haddad afirmou que o perigo maior da extrema-direita exige esse tipo de aliança. Argumentou também que o PT já se aliou anteriormente ao PSDB para derrotar candidatos mais à direita, como Celso Pitta e Paulo Maluf na década de 1990.