Temas delicados tanto na Rússia como no Brasil, a segurança cibernética e a ciberdefesa estarão entre os assuntos do encontro de duas horas entre Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, nesta quarta-feira em Moscou.
Os russos sofrem acusações dos americanos de promoverem ataques cibernéticos pelo mundo. No Brasil, o tema ganha viés político, pois o presidente frequentemente coloca em dúvida, sem provas, a integridade do sistema das urnas eletrônicas. A expectativa do lado de brasileiro é buscar uma cooperação na área de segurança digital.
Os detalhes desta pauta do encontro bilateral foram elaborados, no Brasil, pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo ministro Augusto Heleno e responsável pela área no governo.
Além de Heleno, outros dois generais acompanham a comitiva: o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos. Ambos têm se dedicado a municiar Bolsonaro com informações sobre suposta insegurança nas urnas eletrônicas.
O tema, contudo, é controverso. Na semana passada, o presidente disse, durante uma transmissão ao vivo, que as Forças Armadas tinham detectado uma série de vulnerabilidades no sistema de votação brasileiro.
Depois disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou que o questionamento feito pelos militares foi de "natureza técnica", negando "qualquer comentário ou juízo de valor sobre segurança ou vulnerabilidades. As declarações que têm sido veiculadas não correspondem aos fatos nem fazem qualquer sentido", afirmou a corte, em nota.
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O assunto da segurança das urnas é acompanhado de perto por Braga Netto, que tenta se cacifar como vice de Bolsonaro na eleição de outubro. Por sua vez, Ramos foi o responsável por promover a transmissão ao vivo nas redes sociais em que o presidente Bolsonaro fez acusações sem provas sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas em julho do ano passado. A Polícia Federal chegou a abrir um inquérito e concluiu que o presidente "promoveu desinformação" e "defendeu teorias da conspiração''.
Atrás nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro constantemente ataca a confiabilidade das urnas eletrônicas. Em entrevista ao GLOBO na semana passada, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha de reeleição, disse que o presidente não "aceitará gol de mão."
O governo russo, por outro lado, é constantemente acusado por autoridades americanas como leniente com ataques cibernéticos pelo mundo. Uma possível interferência de hackers russos na eleição de Donald Trump, em 2016, é alvo de investigações, mas em junho, pela primeira vez, as duas potências nucleares iniciaram conversas sobre segurança cibernética, no primeiro encontro entre os mandatários dos dois países, em Genebra.
Duas horas com Putin
Bolsonaro terá um encontro de duas horas com Putin no Kremlin, entre 13h e 15h, que inclui uma reunião bilateral e um almoço. Há a previsão que eles façam uma declaração conjunta à imprensa. Além de tratar da cibersegurança e defesa, os presidentes também falarão sobre ciência e tecnologia, energia e agronegócio.
Um dos pontos principais para o governo brasileiro é buscar um compromisso para que a Rússia siga exportando insumos para a produção de fertilizantes. O Brasil também tem interesse em exportar mais produtos acabados para os russos, que tentarão vender mais insumos e defensivos. O ponto alto será a confirmação da compra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) da Petrobras, que fica em Três Lagoas (MS) pelo grupo russo Acron.
Antes da reunião com Putin, Bolsonaro iniciará o seu único dia de agenda oficial em Moscou com uma visita ao Túmulo do Soldado Desconhecido. Já depois de deixar o Kremlin, Bolsonaro se encontrará com o líder da Câmara Baixa do Parlamento russo, a Duma. Depois participará de um encontro de empresários dos dois países.