Sondado pelo PSD para mudar de partido e disputar a Presidência da República, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou que ficará no PSDB e admitiu publicamente, pela primeira vez, a possibilidade de quebrar o compromisso assumido durante o mandato de não concorrer à reeleição.
A declaração foi dada no sábado em um encontro, em Porto Alegre, com militantes do PSDB do Rio Grande do Sul, que contou com a presença do presidente nacional do partido, Bruno Araújo. Se resolver mesmo entrar na disputa, Leite garante um palanque forte para a campanha presidencial do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no quinto estado com mais eleitores do país.
"Tenho essa convicção (contra a reeleição). Mas também tenho a convicção de que não podemos permitir que o estado se perca", discursou Leite.
A ideia inicial de Leite no estado era lançar o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior à sua sucessão. Ranolfo trocou o PTB pelo PSDB no ano passado, mas ele enfrentou resistência de parte das lideranças tucanas. Uma outra opção discutida no partido é a candidatura da prefeita pessedebista de Pelotas, Paula Mascarenhas, sucessora de Leite no comando da cidade.
Argumento garantiu apoio de deputados
Desde que tomou posse, Leite dizia que não disputaria a reeleição e usou esse argumento para angariar apoio a projetos na Assembleia Legislativa do estado. No entanto, ele tem sido pressionado a mudar de posição para que o PSDB tenha mais chance de manter o controle do estado.
O governador evitou, porém, garantir que estará na disputa pelo Palácio Piratini. E lembrou em sua discurso como a sua posição contra a reeleição ajudou a garantir o apoio para implantar medidas que mudaram a situação financeira do estado:
"Não vou me omitir nesse processo eleitoral (no Rio Grande do Sul). Não sei se será como candidato, mas tenho certeza que vou participar como uma liderança".
Na semana passada, Leite participou de uma reunião em Brasília com as presenças do deputado Aécio Neves (MG), do senador Tasso Jereissati (CE), do senador José Aníbal (SP) e de Pimenta da Veiga, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, em que foi discutida as dificuldades da pré-candidatura de Doria a presidente.
Em seu discurso no sábado, o governador gáucho, que foi derrotado nas prévias do PSDB, reafirmou que lideranças do partido têm legitimidade para fazer questionamentos aos rumos da campanha do presidenciável escolhido.
"A gente respeita as prévias, houve um vencedor, mas temos um partido, ao qual eu sou filiado há mais de 20 anos, e me sinto no direito de fazer questionamentos e de pedir que se apresentem os caminhos do PSDB na eleição", afirmou.
'Jamais sairei do PSDB'
Durante o jantar da semana passada, um dos temas citados foi a sondagem que o PSD tem feito ao governador gaúcho para que ele mude de partido e dispute a Presidência. Leite se encontrou três vezes, desde dezembro, com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Ao discursar aos militantes tucanos, porém, o governador descartou deixar o PSDB.
"Quero dizer para vocês que não precisam pedir para eu ficar, porque eu jamais sairei. Não precisam me pedir para não parar, porque eu não vou parar", afirmou.
Por outro lado, segundo pessoas próximas, Leite se animou com a notícia divulgada na semana passada de que os aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) consideram que o seu nome tem potencial para suplantar os demais presidenciáveis da terceira via e ameaçar a ida do mandatário ao segundo turno.
Pelos prazos legais, se decidir concorrer a presidente, Leite precisa se filiar a um novo partido e renunciar ao cargo de governador até 2 de abril. Após ser derrotado nas prévias tucanas, Leite tinha o plano de completar o seu mandato no governo gaúcho no fim do ano e passar um período sem ocupar cargos públicos.
Aliados de Doria tentaram mostrar otimismo em relação à união do partido para a eleição.
"Não tenho dúvida de que o PSDB encontrará o caminho de união e convergência, tão importante como alternativa para nosso país. Esse tem sido o pilar fundamental de construção da candidatura de João Doria à Presidência da República", disse Marco Vinholi, presidente do PSDB de São Paulo e secretário de Desenvolvimento Regional do governo paulista.