Jair Bolsonaro
Isac Nóbrega/ PR
Jair Bolsonaro


O presidente Jair Bolsonaro (PL) começa seu último ano do mandato no Palácio do Planalto com foco nas eleições de outubro. Com os índices de reprovação da gestão e a rejeição em alta , o governo deve adotar medidas eleitoreiras a fim de reverter o cenário político que atualmente aponta derrota de Bolsonaro para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) .


Essa é a avaliação feita por cientistas políticos ouvidos pelo iG. Como esclarece o professor Leandro Consentino, duas coisas são muito esperadas em 2022.  "Uma delas eu acho que é abrir a torneira dos gastos, né? Quer dizer, tanto a PEC dos Precatórios quanto outras medidas vão no sentido de dar o controle para o presidente e para o seu governo de mais verbas pra fazer Auxílio Brasil, uma série de benesses, liberação de emendas... Ou seja, é uma busca por apoio político e apoio popular", afirma o cientista, que é professor do Insper.


A segunda coisa que ele pontua é o aumento da retórica. Os ataques do presidente a outros atores e instituições políticas haviam diminuído após atingir seu ápice nos protestos da Independência do Brasil no dia 7 de Setembro, mas em dezembro ele voltou a subir o tom contra opositores, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e  até intimidou técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) após o órgão liberar a vacinação de crianças contra a Covid-19.


Para Consentino, o presidente deve reforçar esse discurso combativo porque vai precisar de seus apoiadores "mais aguerridos" para chegar ao segundo turno da eleição. Pesquisas como a última Datafolha, divulgada no dia 16 de dezembro, indicam que o atual mandatário possui 22% das intenções de voto contra 48% de Lula, que, por conta da margem de erro de dois pontos percentuais, poderia até vencer no primeiro turno.


Em meio a isso, o entendimento de Consentino se assemelha ao de Cláudio André, professor adjunto de Ciência Política da Unilab. André até acredita que os brasileiros verão um governo Bolsonaro mais dedicado a agradar sua base, mas não apenas ela.


"Eu penso que nos próximos quatro meses a gente vai enfrentar um governo mais ávido, né? Mais ansioso em gerar propostas que tenham impacto dentro do eleitorado que já é considerado bolsonarista, mas, sobretudo, tentar trazer novos nichos para tornar o presidente mais competitivo na tentativa de conseguir a reeleição", comenta.


Ambos os especialistas concordam que os principais temas que vão pautar a próxima corrida ao Palácio do Planalto são a economia e tudo que ela engloba, como o desemprego e a inflação, e a pandemia da Covid-19. Nesse ponto, Cláudio André ainda pondera que é preciso acompanhar como — e se — o Auxílio Brasil de R$ 400,00 vai impactar no crescimento da intenção de voto do presidente.


Campanha constante

Ainda que não discorde da avaliação dos colegas, a pesquisadora Tamara Ilinsky Crantschaninov não espera ver muitas mudanças no governo Bolsonaro em 2022. Doutora em Administração Pública e Governo e professora de Ciência Política na Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP), ela ressalta que o presidente da República se manteve em campanha nos últimos três anos, mesmo tendo vencido a eleição com mais de 55% dos votos contra o ex-ministro petista Fernando Haddad. Desse modo, a expectativa é de que o comportamento dele não se altere.


"Acho que a gente não tem nada do que esperar em termos de políticas públicas, de coisas concretas, de melhorias, enfim. A gente vive um cenário completamente desastroso, né? Em termos de institucionalidade, de acesso a direitos, de políticas públicas… se a gente não tiver mais nenhum retrocesso, o que eu também acho que vai ser bem difícil, já seria uma coisa positiva", lamenta antes de frisar que o presidente deve "intensificar ainda mais a postura de candidato". 


Na avaliação de Tamara, essa atitude voltada para a campanha inclui "grande propagação de fake news", como ocorrido em 2018. Desde a eleição, a chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão é acusada de utilizar disparos de mensagens em massa para disseminar informações falsas contra opositores, o que o presidente e seus aliados negam. 

Em outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a cassação da chapa por isso sob o argumento de que não havia provas suficientes para condená-los. Por outro lado, a Corte eleitoral estabeleceu que o ato passa a ser abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação a partir de 2022.

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