Janaína Paschoal
Reprodução iG Minas Gerais
Janaína Paschoal

A artilharia disparada entre Jair Bolsonaro (PL) e seu ex-ministro Sergio Moro (Podemos) não foi capaz de tirar algumas figuras relevantes da direita do meio do campo. No último mês, quando se consolidou a pré-candidatura do ex-juiz ao Planalto, o empresário Luciano Hang e a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) despertaram irritação na base do presidente ao elogiarem Moro.

Janaina afirmou nesta terça-feira em seu Twitter confiar na “correção de Sergio Moro” e que “ninguém pode desmerecer o serviço que ele prestou à nação”. Moro foi juiz dos processos da Operação Lava-Jato entre 2014 e 2018, quando deixou a magistratura para ser ministro de Bolsonaro. Naquele ano, determinou a prisão do ex-presidente Lula, que aparecia em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para a sucessão de Michel Temer (MDB).

Uma das responsáveis pelo pedido de impeachment que derrubou Dilma Rousseff (PT) da Presidência em 2016, Janaina afirmou que Moro está sendo perseguido e que ela não pode "compactuar com injustiças". Em seguida, escreveu, em tom de alerta, que "bater muito em Moro viabiliza (a candidatura de João) Doria".

A série de tuítes provocou irritação nos seguidores da deputada que preferiam vê-la exclusivamente no palanque de Bolsonaro. Ela esteva, inclusive, na bolsa de apostas para vice do atual presidente em 2018. Apesar de se posicionar na Assembleia Legislativa de São Paulo de forma independente em relação ao governo federal, o que em outros casos é considerado por parte da militância postura imperdoável, a deputada tem conseguido se equilibrar entre o "morde e assopra", com críticas e defesas ao governo Bolsonaro.

O nome de Janaina é ventilado para uma possível candidatura ao Senado pelo PL, atual partido de Bolsonaro, o que abriria palanque ao presidente em São Paulo, estado onde ele enfrenta problemas para viabilizar candidatos bolsonaristas competitivos. O presidente vem defendendo o nome de Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, para disputar a eleição ao Palácio dos Bandeirantes, mas Tarcísio sofre com o desconhecimento por parte do eleitorado paulista.

Outro que despertou a ira de seus seguidores ao acenar a Moro foi o empresário Luciano Hang. O dono das Lojas Havan compartilhou em 16 de dezembro um vídeo em que Moro rebate declarações feitas por Lula segundo as quais a Lava-Jato “quebrou a Petrobras”.

“A lava-Jato mostrou a corrupção instalada nas empresas públicas, durante o governo do PT. Parabéns Moro (@SF_Moro) por se posicionar contra as mentiras faladas pelo Lula”, publicou Hang.

Fervoroso apoiador de Bolsonaro, o empresário foi atacado por bolsonaristas que julgaram a publicação como traição. "Ou você é bolsonarista ou é morista. Os dois não dá", comentou uma seguidora. O tuíte atraiu 4,5 mil comentários, predominantemente em tom de crítica, mas Hang manteve a publicação no ar.

A mensagem de apoio a Moro chamou a atenção por conta do grau de alinhamento de Hang ao presidente. Após a eleição em 2018, ele passou a se vestir com as cores da bandeira do Brasil em apoio a Bolsonaro, e é figurinha carimbada em agendas presidenciais.

A relação entre Hang e a família Bolsonaro é estreita. O catarinense é acusado pela CPI da Covid, por exemplo, de financiar um blogueiro envolvido com disseminação de fake news, Allan dos Santos, com ajuda do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Durante seu depoimento à comissão no Senado, em setembro, Hang teve a audiência e o apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente.

O projeto eleitoral de Moro, impulsionado com sua filiação ao Podemos, no mês passado, conseguiu atrair outras figuras que antes estavam com Bolsonaro, como o roqueiro Nando Moura, o ex-deputado federal Xico Graziano, o ex-chefe da Secretaria do Governo general Santos Cruz e lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL) — todos rompidos com o presidente ao longo dos últimos três anos de governo.

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