A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) repudiou em nota publicada nesta sexta-feira as imagens em que o presidente Jair Bolsonaro aparece segurando uma réplica de um fuzil ao lado de uma criança fantasiada com farda da Polícia Militar O episódio aconteceu em um evento realizado ontem em Belo Horizonte, Minas Gerais, que fazia parte da agenda de compromissos da comemoração de mil dias da gestão Bolsonaro.
No texto “Arma não é brinquedo”, a SBP lembra a importância da população em geral, em especial autoridades e personalidades públicas, respeitarem as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante e exige a proteção dos direitos dessa faixa etária. A instituição lembra que a legislação inclui, entre outros pontos, a preservação da imagem e valores das crianças.
“A SBP lamenta que cenas como as exibidas às vésperas do Mês da Criança sejam cada vez mais frequentes. Não se trata de uma discussão ideológica ou sobre a liberdade da posse, ou não, de arma pelos adultos. O que está em jogo é a vida e a integridade física e emocional de milhares de crianças e adolescentes. Por isso, os pediatras conclamam as autoridades para uma profunda reflexão sobre os efeitos destas ações de mídia e de marketing, que devem se basear na legislação e na ética, e nunca serem maiores que o compromisso com a dignidade da população brasileira”, afirma a entidade.
Segundo a SBP, estudos revelam os efeitos negativos que as armas de brinquedo surtem sobre o desenvolvimento e a construção do caráter das crianças que, ao contrário de adultos, são incapazes de distinguir uma arma real e uma arma de brinquedo. Dados mostram que quase 60% dos integrantes de um grupo de crianças com idades entre 7 e 17 anos se encaixam neste perfil.
A entidade também lembrou que a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo no Brasil. As informações constam em um levantamento feito pela SBP em 2019 com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, referentes a 2016. O documento também informa que em 20 anos mais de 145 mil jovens, com idade entre zero e 19 anos, morreram por causa de disparos acidentais ou intencionais.
O evento contou com transmissão da TV Brasil, que exibiu o momento que o público gritou “o povo armado jamais será escravo” após Bolsonaro mostrar a arma. Em seguida, o chefe do Executivo foi ao púlpito e parabenizou os pais do menino pelo exemplo de “civilidade, patriotismo e respeito”.
"Eu tô com quase 70 anos. Quando era pequeno eu brincava com isso, com arma, com flecha, com estilingue. Assim foi criada a minha geração e crescemos homens sadios e fortes e respeitadores. Meu cumprimento aos pais desse garoto por estarem prestando exemplo aqui de civilidade, de patriotismo e de respeito. Obrigado Polícia Militar de Minas Gerais — disse Bolsonaro em discurso.